R$ 500 mil por cargo público: entenda esquema familiar de fraudes em concursos
O grupo aplicou diferentes estratégias para burlar sistema de provas, conforme cargo e grau de dificuldade de cada uma há mais de uma década; entenda
22:43 | Out. 09, 2025
Esquema familiar de fraudes em concursos públicos foi revelado em operação da Polícia Federal (PF). Com base em Patos, na Paraíba, o grupo esteve presente em provas da Caixa Econômica Federal (CEF) e Concurso Nacional Unificado (CNU), por exemplo.
Como recompensa, que dependia de qual vaga o cliente tentaria, pagamentos em ouro, veículos, procedimentos odontológicos e valores de até R$ 500 mil eram aceitos após aprovação ou posse do cliente.
Segundo a investigação, a corrupção milionária acontece há mais de uma década com a propaganda de venda de aprovações em concursos públicos a nível nacional.
Preventivamente, a Polícia e o Ministério Público Federal (MPF) solicitaram prisões, buscas e apreensões e impedimento de posse ou afastamento cautelar.
Até o momento, duas pessoas foram presas em Recife, em Pernambuco, e uma em Patos, na Paraíba.
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Como funcionava o esquema familiar de fraudes em concursos
O líder do esquema era Wanderlan Limeira de Sousa, ex-policial militar expulso em 2021. O seu papel era negociar com seus clientes, distribuir os gabaritos e articular a logística nas provas.
A família era usada como apoio para manter o crime ativo. Incluía nas coordenadas os irmãos Valmir Limeira de Sousa e Antônio Limeira das Neves, a cunhada Geórgia de Oliveira Neves e a sobrinha Larissa de Oliveira Neves.
Aprovada no concurso da CNU de 2024, sua sobrinha servia como atração para possíveis interessados. Na mesma prova, o líder também participou e foi aprovado.
Entre as estratégias aplicadas, variando para diferentes níveis de concursos, estavam os pontos eletrônicos implantados cirurgicamente, instalados por profissionais da saúde. Isso era feito para manter uma comunicação em tempo real da resolução.
O grupo conseguia as respostas invadindo o sistema de segurança das bancas aplicantes para ter acesso antecipado ao gabarito, que é lançado após aplicação das provas. O intervalo depende de concurso para outro.
Outra forma de fraude pelo uso da tecnologia era acrescentando o nome do seu cliente na lista de aprovados. Um exemplo foi o caso recente de Laís Giselly, aprovada em quinto lugar no Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) com essa logística.
O TCE suspendeu o concurso após o acontecido. A candidata é uma das investigadas pelo caso.
Além disso, o grupo atuava como dublês ou os contratavam para substituir candidatos reais. No dia da prova, apenas apresentavam documentos de identificação falsificados.
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Esquema familiar: investigações da Polícia Federal
As investigações do grupo começaram após denúncia anônima à Polícia, suspeitando da venda de gabarito de provas por pagamentos.
“Coincidência” no gabarito de candidatos na CNU, em 2024, foi o primeiro passo para identificar o esquema e o que fazia.
A descoberta foi feita a partir de documentos da Fundação Cesgranrio, que mostravam a improbabilidade do acontecimento não ter sido planejado.
A PF informou que as respostas de Wanderlan Limeira de Sousa, Valmir Limeira de Sousa, Larissa Neves e Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior eram idênticas e tinham os mesmos erros. Além disso, eram versões diferentes da prova.
Por esse mesmo processo seletivo, pelo menos dez pessoas foram consideradas beneficiárias do esquema. Nessa categoria, a investigação reuniu os aprovados diretamente, os candidatos com gabaritos iguais e os que deram recompensas para garantir aprovação.
Foram identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) movimentações incompatíveis com as rendas dos suspeitos, como o depósito de R$ 419 mil em espécie feito por Geórgia Neves, desempregada desde 1998.
Também foi apontado o uso de laranjas, que oculta a identidade de quem movimenta transações em contas bancárias, pelo registro de compras e vendas de imóveis fictícias.
Medidas de segurança contra esquema de fraudes em concursos
Como medida preventiva, o Ministério da Justiça e Segurança Pública e o Ministério da Gestão e Inovação também divulgaram cuidados reforçados para a aplicação do Concurso Nacional Unificado 2025, no domingo, 5; confira:
- Aplicação de detectores de ponto eletrônico em todos os municípios sob orientação policial;
- Código de barras específicos para identificar provas para cada candidato;
- Número da prova divulgado apenas com o gabarito;
- Detectores de metal nas salas de aplicação e nos banheiros do local;
- Escolta das provas pelas Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Polícias Militares estaduais e a guarda delas onde ficam armazenadas pela Força Nacional com as PMs estaduais.