Papa brasileiro? Frei Betto narra eleição de dom Aloísio em conclave há 47 anos
Frei Betto contou, à Rádio O POVO/CBN, história do conclave de1978, no qual dom Aloísio Lorscheider recebeu os votos necessários para se tornar papa
Começa na próxima quarta-feira, 7, o conclave que definirá o sucessor do papa Francisco no comando da Igreja Católica. Oito cardeais brasileiros participam da disputa, sendo sete com direito a voto. Caso um destes seja eleito, se tornará o primeiro papa nascido no País.
Se isto acontecer, no entanto, não será a primeira vez que um brasileiro terá recebido a quantidade de votos necessária para se tornar papa.
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Frei Betto, em entrevista à Rádio O POVO/CBN na manhã desse sábado, 3, revelou que, em outubro de 1978, João Paulo II não foi o primeiro escolhido pelo conclave.
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Segundo ele, a informação foi repassada por um cardeal brasileiro que participou do evento. Frei Betto contou, na conversa, que dom Aloísio Lorscheider recebeu, durante o conclave realizado há 47 anos, dois terços dos votos totais — quantidade necessária para ser eleito sumo pontífice. No entanto, recusou o posto.
"Ele disse que não aceitava, porque a Igreja acabava de enterrar um papa que havia ficado apenas 33 dias no pontificado", pontua o Frei Betto, "e ele tinha oito pontes de safena".
O religioso afirma que a decisão de dom Aloísio visava evitar gastos excessivos. "Seria muito oneroso para a Igreja promover um novo conclave" caso o brasileiro falecesse em pouco tempo.
Após a recusa, ocorreu outra votação, que terminou com a escolha de Karol Wojtyła. O polonês tomou o nome de João Paulo II, em homenagem ao antecessor, e permaneceu no cargo por mais de duas décadas e meia.
"Dom Aloísio não aceitou porque achava que morreria em breve", adiciona Frei Betto. "O papa João Paulo II morreu em 2005, depois de 26 anos no papado. O Dom Aloísio morreu em 2007", conclui.
Para Frei Betto, próximo papa será italiano
Quando questionado sobre seus palpites para o conclave, Frei Betto faz algumas ponderações. O religioso avalia que há, na disputa, interessados de diversos locais, mas acha que o próximo papa será europeu.
"Creio que a África fará de tudo para emplacar um dos seus pares como papa", diz, "porque desde o século V que a África não tem um papa".
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"A Ásia tem um forte candidato, que é o cardeal Tagle, das Filipinas, mas não sei se realmente ele tem chance", adiciona. "Meu prognóstico é que de novo o papado voltará as mãos dos italianos", conclui.
Em relação às preferências, Frei Betto diz preferir que o eleito seja, inclusive, um dos italianos favoritos na disputa.
"Espero que seja eleito o cardeal [Matteo] Zuppi, que é de Bolonha", diz ele. "É um homem muito simples, que costuma ir de bicicleta da sua casa até o seu escritório. Como Francisco, é uma pessoa bastante simples".
Papa conservador seria "grande retrocesso", diz Frei Betto
Se eleito papa, as posições de Zuppi, para Frei Betto, seriam similares às de seu antecessor. Segundo ele, porém, o italiano é "um pouco mais avançado que o Francisco em alguns aspectos".
Betto avalia ser necessária a eleição de um papa progressista, para manter o trabalho de Francisco, e evitar a fuga de fiéis. "Será um grande retrocesso se a Igreja eleger um papa conservador, porque a Igreja tem se esvaziado no mundo inteiro", afirma.
"Tomara que Deus queira que realmente seja escolhido um cardeal que imprima à Igreja essa mesma linha evangélica profética do Papa Francisco", continua, "principalmente num mundo tão desigual, tão conflitivo".
"Francisco assumiu pautas muito avançadas, como a questão ambiental", adiciona, "e também [é] o papa que defendeu os refugiados na Europa, denunciando cara a cara com os chefes de Estado."
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Para ele, esses elementos são importantes porque a escolha do papa é influenciada, também, pelo cenário geopolítico. "Os cardeais tem que levar em conta é toda essa situação de conflitos, de guerras muito agudas, como a da Ucrânia", pontua, "além do genocídio que o estado sionista de Israel promove em Gaza".
Outro aspecto que precisa ter atenção da Igreja, segundo Betto, é a carestia. "Temos também que levar em conta a questão da desigualdade social. A acumulação privada da riqueza é escandalosa, hoje. Estamos vivendo num mundo de exclusão".
Este elemento, para ele, é importante para manter a relevância da instituição. "Se a Igreja não tiver um papa com sensibilidade social, ela ficará falando sozinha", finaliza.
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