Maceió: como a Braskem explorou o sal-gema e afundou uma cidade

Prefeito de Maceió afirma ser a maior tragédia urbana do mundo; entenda os motivos e as consequências da extração do sal-gema, além das últimas notícias

O iminente colapso da mina nº 18 da Braskem se tornou um tópico recorrente nas últimas semanas para a prefeitura de Maceió, encabeçada por João Henrique Caldas (JHC).

A mina, localizada na região do antigo campo do CSA, no Mutange, corre o risco de colapsar devido à extração inadequada de mineração da Braskem na região, que incorpora 35 minas em sua atividade.

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Maceió: as últimas notícias do afundamento da cidade pela Braskem

O prefeito JHC atribui à Braskem a responsabilidade pela situação. “A empresa Braskem começou a operar em Maceió na década de 1970. De lá pra cá, essa exploração predatória continuou de forma agressiva. Faltou fiscalização por parte dos órgãos competentes de maneira mais contundente”, afirmou em entrevista à CNN.

A Defesa Civil informou nesta terça-feira, 5, que o levantamento do solo na área da mina prejudicada mantém uma leve aceleração. Ontem, 4, o boletim apontava que o deslocamento vertical era de 0,26 centímetros por hora (cm/h).

No novo informe, divulgado na manhã de hoje, a velocidade passou para 0,27 cm/h. Com isso, o deslocamento vertical acumulado da mina é de 1,86 metros (m), apresentando um movimento de 6,5 cm nas últimas 24 horas.

Abaixo, confira o motivo do colapso iminente em Maceió e o que mais se sabe até agora sobre a tragédia urbana.

Maceió em iminente colapso: Braskem explora sal-gema desde anos 70

A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público. A atividade causou instabilidade no solo.

Sal-gema: o que é e por que extração gerou problemas em Maceió?

Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 foi registrado, o que agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.

A evacuação foi iniciada em junho de 2019 para moradores dos bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Nos últimos anos, com o agravamento dos problemas, parte do Bom Parto e do Farol foram incluídos na zona de risco. Nesse mesmo ano, a Braskem interrompeu completamente a exploração do sal-gema em Maceió e passou a trabalhar para o fechamento e estabilização de todas as minas.

Iminente colapso em Maceió: quais bairros ameaçam afundar?

São cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol.

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Como ocorre o afundamento do solo em Maceió ocasionado pela Braskem?

Os bairros Pinheiro, Bebedouro e Mutange estão assentados sobre uma formação geológica de solo silto-arenoso - um solo mais suscetível a processos erosivos, porém com baixa tendência a colapsar ou expandir. Por isso, descartou-se a ideia de que a geologia local era a responsável pela subsidência dos bairros.

O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) concluiu que a extração de sal-gema promovida pela Braskem foi a principal responsável pela subsidência dos bairros.

Existem falhas e fraturas de origem tectônica sob a região, as quais geram áreas preferenciais para a percolação de água rumo aos aquíferos (reservatório subterrâneo natural de águas). As perfurações para extração de sal-gema interceptaram algumas dessas falhas, contribuindo para sua reativação.

A mineração alterou a tensão do maciço rochoso sob os bairros (Formação Maceió, composta majoritariamente por arenitos e clastos ígneos e metamórficos), o que implicou o desplacamento do teto e o colapso de algumas minas.

O tipo de lavra adotado pela Braskem é o de lavra por solução. Inicialmente, poços são escavados sobre a camada de sal-gema, tanto em planos verticais quanto inclinados.

Em um poço, injeta-se água, a qual dissolve o sal e permite sua remoção sob a forma de salmoura (solução com alta concentração de sais) por um segundo poço. Um terceiro poço é escavado para controlar e medir a profundidade dos outros poços.

Para garantir que não haveria ligações entre os poços de extração, o projeto das lavras delimitava que os pilares entre os poços deveria ter, no mínimo, 75 metros de espessura - o que não foi respeitado e provocou a união de cavidades em cavernas ainda maiores.

Colapso em Maceió: quais as consequências da extração de sal-gema pela Braskem?

Roberto Bischoff, CEO da Braskem, disse que a empresa identificou a aceleração da instabilidade na região em novembro, a partir de um relatório interno. Em seguida, compartilhou informações com as autoridades durante o 28º Encontro Anual da Indústria Química (Enaiq), evento tradicional do setor químico promovido pela Associação Brasileira de Indústrias Química (Abiquim).

“Percebemos a partir de um monitoramento que realizamos uma mudança no comportamento do solo e imediatamente informamos às autoridades. O bairro já estava desocupado, quem estava na região eram apenas as equipes da Braskem e 23 famílias resistentes que não haviam deixado o local, mas foram retiradas após ordem judicial”, afirmou Bischoff.

O CPRM viabiliza registros que, desde as décadas de 1980 e 1990, mostram a ocorrência de desmoronamento de minas de sal na região. Quando o desmoronamento ocorre ainda na camada de sal, existem técnicas de pressurização e controle passíveis de implementação - as quais, segundo o CPRM, foram ignoradas pela Braskem para reduzir gastos com energia.

A movimentação de terra em Maceió provocou o rompimento de instalações subterrâneas de esgoto e águas pluviais e danificando ruas e bens imóveis. Ao romperem, as tubulações sanitárias e de drenagem liberam líquidos no solo, tornando-o cada vez mais saturado e menos resistente a esforços externos.

Já as crateras e as rachaduras que surgem na região representam um risco para aqueles que a habitam, pois comprometem a integridade de pavimentos e edificações. Essa soma de fatores contribuiu para um intenso êxodo interno na capital alagoana, o qual foi compensado financeiramente pela Braskem.

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