Mulher relata que foi demitida de empresa de coaching após declarar posicionamento político

Ex-funcionária denuncia caso de assédio eleitoral. Além dela, mais quatro pessoas foram desligadas da empresa após serem coagidas pela diretora do local a se posicionarem politicamente

Em Vitória, no Espírito Santo, uma mulher relatou que foi demitida de uma empresa de coaching devido ao seu posicionamento político. O caso foi compartilhado, na última quarta-feira, 26, em publicações nas redes sociais. A consultora comercial Tainara Moura, 25, disse que foi demitida por não ser a favor do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL).

A moradora da cidade de Vitória explicou que precisou ir às redes sociais para denunciar o caso de assédio eleitoral.

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"O meu erro, ao ver deles, foi escolher o diabo. Porque eles falaram que a eleição é espiritual, uma batalha espiritual, entre Deus e o diabo. Bolsonaro está do lado de Deus e o Lula está do lado do diabo. Como eu me posicionei contra o Bolsonaro, automaticamente eles deduziram que eu me posicionei a favor do Lula”, relatou Tainara.

Ainda segundo a ex-funcionária da Febracis, a sua consciência está limpa e tranquila por saber que não fez nada de errado. “Todo mundo conhece a minha postura no trabalho. Eu sou uma funcionária que mantém o ambiente de trabalho em alto astral, atinjo metas, chego no horário, falo bem da empresa para todo mundo”, destacou.

A consultora comercial informou ao O POVO que, desde o primeiro turno, uma diretora da empresa Febracis em Vitória vinha se posicionando por meio do WhatsApp, no grupo da empresa, falando sobre política, encaminhando lives do Bolsonaro e impondo o posicionamento político pessoal. 

De acordo com Tainara, desde a última sexta-feira, 21, foram iniciados discursos políticos e religiosos a favor do Bolsonaro dentro da empresa. Um dos casos foi presenciado durante um treinamento da empresa com cerca de 48 alunos.

“Ela chamou todos os funcionários e falou na frente dos alunos: “Eu quero que meus funcionários estejam aqui porque eu quero que eles ouçam o que eu tenho pra falar”. Começou a fazer o discurso político, falando que na equipe, queria pessoas com o mesmo valor que ela, que teria quer um valor familiar e todos os valores que ela acredita que o presidente defende, tudo isso envolvendo política, religião e trabalho”, disse.

Na última segunda-feira, 24, Tainara disse que a diretora da empresa voltou a impor o posicionamento político dos funcionários. Após uma dinâmica matinal dos empregados, a ex-funcionária disse que a diretora começou a chamar as pessoas na sala de reunião para saber sobre o posicionamento político.

Diante da situação, a consultora comercial registrou, ainda no mesmo dia, uma denúncia no Ministério Público do Trabalho sobre o caso. Um dia depois, nessa terça-feira, 25, novamente a diretora da empresa voltou a cobrar o posicionamento político, dessa vez do setor da consultora comercial.

“Ela começou a falar comigo e com outra funcionária, que a gente não tinha se posicionado ainda. Então, ela começou a coagir a gente a se posicionar. Falei que eu não sou a favor do presidente atual e que eu não concordo, e ela falou que não me demitiria”, conta.

Demissão

Na manhã de quarta-feira, 26, às 7h10min, Tainara relata que recebeu uma mensagem do setor de Recursos Humanos (RH) da empresa informando que ela não precisaria ir trabalhar e que estava de folga por três dias.

No entanto, a consultora comercial foi à empresa pois não aceitou a folga porque tinha meta para bater. O aviso ocorreu no mesmo dia, minutos antes de chegar ao local de trabalho.

Ao chegar na empresa, o setor do RH chamou Tainara informando que a ordem era para ela não ir à empresa e em seguida a demitiram. O caso, no entanto, está sendo denunciado como assédio eleitoral pois ocorreu um dia após a funcionário ser coagida a ser posicionar sobre as eleições presidenciais.

Ainda segundo Tainara, mais quatro pessoas foram demitidas após se posicionarem politicamente dentro da empresa. A consultora comercial foi ao Ministério do Trabalho e também realizou uma Boletim de Ocorrência (B.O) acusando a empresa de assédio eleitoral.

O que é assédio eleitoral

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Ceará (OAB/CE), Fernandes Neto, o assédio eleitoral trata-se de usar violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar ou não votar em um determinado candidato ou partido.

“A figura do assédio eleitoral é a postura do empregador em relação a utilização do seu poder de mando contra o empregado, oferecendo benefícios ou sobre ameaça de retirar benefícios e até a demissão, caso esses esses trabalhadores não cumpra com a função de votar no determinado candidato que ele deseja”, explicou.

Ainda conforme Fernandes Neto, em caso de identificação de assédio eleitoral, as vítimas devem procurar o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público Eleitoral para realizar denúncia. Em relação às penas, estão previstas no artigo 301 da Lei nº 4.737 de 15 de Julho de 1965, que é aplicada reclusão de até quatro anos e pagamento de cinco a 15 dias de multa.

O que diz a empresa

Em nota, enviada ao O POVO, nesta sexta-feira, 28, a empresa Febracis disse que é "contrária a qualquer tipo de assédio e respeita as pessoas como elas pensam e são, bem como suas diferentes ideologias, culturas e formas de expressão defendidas também perante a rede de franquias independentes".

A empresa destacou, ainda em nota, que a denúncia deve ser investigada pelos órgãos competentes para o devido cumprimento da lei. Além disso, informou que "a franqueadora está instaurando um processo interno para a apuração dos fatos junto a fraqueada com o intuito de que sejam tomadas as devidas providências".

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