Redação Enem 2021: a banalização do Holocausto nos dias atuais e os efeitos na sociedade moderna

Minimização ou negação do holocausto preocupa historiadores e entidades internacionais. Pesquisas mostram a desinformação sobre Holocausto entre jovens

De origem grega, a palavra "holocausto" significa "sacrifício pelo fogo", mas após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o termo passou a designar a perseguição e extermínio sistemático, promovido pelo governo nazista, contra judeus, ciganos, homossexuais e outros grupos. Cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados. O genocídio teve e ainda tem impacto indiscutível no mundo contemporâneo. No entanto, movimentos reacionários têm minimizado ou negado a gravidade do Holocausto. A partir disso, historiadores alertam para o fortalecimento de grupos ultradireita e neonazistas.

Desinformação e negacionismo sobre Holocausto

O negacionismo e a distorção do Holocausto são sintomas de uma desinformação cada vez maior, que fortalece um discurso de ódio e preconceito em todo o mundo, segundo adverte a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Pesquisas mostram o desafio da atualidade para manter a memória do Holocausto viva.

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  • 4 em 10 jovens americanos acreditam que menos de 6 milhões de judeus foram mortos (dois milhões ou menos) durante o Holocausto;
  • 30% dos entrevistados em todos os 50 estados americanos indicaram que viram símbolos nazistas em suas plataformas de mídia social ou em sua comunidade;
  • 11% dos entrevistados da Geração Y e da Geração Z dos Estados Unidos acreditam que os judeus causaram o Holocausto;
  • 35% das postagens nas redes sociais que se referem a judeus incluem estereótipos antissemitas e declarações hostis;
  • 47% dos alemães acham que a Alemanha “não era particularmente culpada” pelo extermínio dos judeus;
  • 26% dos alemães admitem suas lacunas de conhecimento e afirmam que sabe pouco ou nada sobre o Holocausto.

Fontes: Pesquisa da Claims Conference sobre o conhecimento do Holocausto entre os Millennials e a Geração Z nos EUA (2020), relatório “Estereótipos anti-semitas nas redes sociais”, da Agência Sueca de Pesquisa e Defesa (2020), e pesquisa encomendada pela ZDF, empresa de mídia alemã (2020).

Caso Ellwanger: negacionismo do holocausto no Brasil

O gaúcho Siegfried Ellwanger (1928-2010), descendente de alemães, e natural de Candelária (RS) foi um negacionista do Holocausto no Brasil. Após fundar a Revisão Editora, por meio da qual publicava e distribuía livros com teor antissemita e neonazista, Ellwanger foi condenado por racismo pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em 1996. Ainda recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), que negou em 2003, o pedido de habeas corpus da defesa de Ellwanger, entendendo mais uma vez que o autor cometera o crime de racismo.

Fonte: “O caso Ellwanger e seu impacto no direito brasileiro”, de João Luís Mousinho dos Santos Monteiro Violante. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.

O que é genocídio?

O termo "genocídio" não existia no idioma inglês antes de 1944. Ele foi criado para designar crimes violentos cometidos contra grupos humanos com o intuito de eliminá-los. Os Direitos Humanos, na forma como foram apresentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas de 1948, dizem respeito aos direitos dos indivíduos. Em 1944, um advogado polonês judeu chamado Raphael Lemkin (1900-1959) tentou descrever as políticas de assassinato sistemático dos nazistas, incluindo a destruição dos judeus europeus. Ele formou a palavra "genocídio" combinando geno, da palavra grega que significa raça ou tribo, com cídio, palavra latina para assassinato

Fonte: Enciclopédia do Holocausto (Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos)


Mortes no Holocausto

Não há um só documento criado por funcionários nazistas na época da Guerra que indique exatamente quantas pessoas foram mortas durante o Holocausto. A seguir, estão estimativas, calculadas a partir de relatórios do período da Guerra, feitos por aqueles que implementaram a política populacional nazista, e estudos demográficos de perda populacional durante a Segunda Guerra Mundial.

6 milhões de judeus

7 milhões civis soviéticos, incluindo os civis judeus soviéticos que já estão incluídos na estimativa acima para os judeus

3 milhões (incluindo cerca de 50 mil soldados judeus), prisioneiros-de-guerra soviéticos

1,8 milhões (dentre eles de 50 mil a 100 mil membros da elite polonesa) civis poloneses não-judeus

312 mil civis sérvios (no território da Croácia, Bósnia e Herzegovina)

Até 250 mil pessoas com deficiências que viviam em instituições para lá serem cuidadas

Até 250 mil ciganos

Cerca de 1,9 mil Testemunhas de Jeová

Pelo menos 70 mil criminosos reincidentes e aqueles denominados como “antissociais”

Número indeterminado de alemães oponentes políticos e ativistas dos movimentos de resistência dentro dos territórios ocupados pelos países do Eixo

Centenas, possivelmente milhares de homossexuais, presumivelmente agregados de forma parcial dentre os criminosos reincidentes e aqueles denominados como antissociais, acima mencionados

Fonte: Enciclopédia do Holocausto (Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos)

Tribunal de Nuremberg

A cidade de Nuremberg, na Alemanha, sediou o mais conhecido dos julgamentos dos crimes da Segunda Guerra Mundial. No Tribunal de Nuremberg (1945-1946) foram julgadas as autoridades que haviam liderado o regime nazista perante o Tribunal Militar Internacional (IMT) por juízes da Grã-Bretanha, França, União Soviética e Estados Unidos. Vinte e dois importantes membros do regime alemão foram condenados por conspiração, crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O legado duradouro do Tribunal foi a decisão de tornar públicos, por meio da inclusão de fotos, filmes e documentos, os crimes nazistas, incluindo aqueles perpetrados contra os judeus pelos alemães e seus colaboradores. Nos 218 dias do processo, foram ouvidas pelo Tribunal 236 testemunhas. Cinco mil documentos foram recolhidos e analisados. Além das 12 penas de morte, o Tribunal condenou sete nazistas à prisão; em três casos, perpétua.

Fontes: Agência DW e Enciclopédia do Holocausto (Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos)

Memória da barbárie

No 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas descobriram o campo de concentração de Auschwitz. Segundo a Unesco, o local foi o maior complexo de extermínio e “o maior centro de assassinatos em escala industrial, construído para implementar o genocídio dos judeus da Europa”. Conforme a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), de 1,1 milhão de indivíduos que foram assassinados em Auschwitz, quase 1 milhão eram judeus.

Em 1947, o Museu de Auschwitz, no sul da Polônia, foi inaugurado. Local compreende os terrenos de dois antigos campos de concentração: Auschwitz I e Auschwitz II-Birkenau, com uma superfície total de 191 hectares. No espaço, estão preservados os ambientes nos quais ficaram milhares de presos. É possível ver a estrutura da câmara de gás e o crematório, assim como os vestiários, a fábrica de pólvora e as munições em desuso. Há roupas usadas por detentos, preservadas, seringas e fotografias. Em 2019, o museu apelou para que os visitantes evitassem caminhar e posar para fotos sobre os trilhos pelos quais foram transportados os judeus capturados pelos nazistas e levados para os campos de concentração. “Quando você chegar ao @AuschwitzMuseum, lembre-se de que você está no local onde mais de 1 milhão de pessoas foram mortas. Respeite a memória deles”, pediu em publicação no Twitter.

Fontes: Agência Brasil e Museu de Auschwitz-Birkenau


Quais os riscos de banalizar o Holocausto?

1. Avanço de movimentos reacionários que tomam a violência e a negação do contraditório como método. Exemplos: forte participação de supremacistas brancos na invasão do Capitólio, em apoio ao ex-presidente americano Donald Trump, em janeiro de 2021, e o aceno receptivo de Jair Bolsonaro (sem partido) a representantes da ultradireita alemã. O presidente brasileiro recebeu, em julho, a deputada alemã Beatrix von Storch, uma das lideranças do partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD) e neta de um ex-ministro das Finanças da Alemanha durante o regime nazista de Adolf Hitler;

2. Políticas de Estado que naturalizam a morte são normalizadas. Exemplo: na pandemia de Covid-19, a chamada “imunidade de rebanho” foi defendida como estratégia plausível por grupos negacionistas e antivacinas. Nesse processo, a maioria da população teria de ser infectada pela doença para diminuir sua transmissão. Contudo, muitas pessoas mais vulneráveis ao vírus poderiam morrer até que a imunidade rebanho fosse alcançada.

Fontes: historiadores Antônio de Pádua Santiago de Freitas (Uece), Américo Souza (Unilab) e Patrícia Valim (UFPOP).


O que é importante para não esquecer o Holocausto

Garantir acesso à informação

Crimes contra a humanidade precisam ser contados e relembrados. É preciso ainda incentivo para visitas a memoriais e espaços como museus, além de atenção para o conteúdo didático nas escolas.

Ênfase na formação humana

Instituições de aplicação e proteção da lei, como os tribunais e as forças de segurança, bem como as instituições educacionais, devem rechaçar publicamente ideais fascistas e autoritários. É necessário reafirmação da proteção dos mais frágeis e promoção de uma formação humanista.

Políticas de memória

Passam pelo letramento político, isto é, formação pedagógica de pessoas para reconhecer princípios da República, respeitar e compreender a democracia, reconhecer a responsabilidade que representa a liberdade de expressão, e detectar traços políticos autoritários.

Punição de crimes de lesa-humanidade em cortes internacionais

Crimes contra a humanidade, como genocídios e crimes de guerra, devem ser julgados e punidos exemplarmente no Tribunal Penal Internacional (TPI), segundo prevê o Estatuto de Roma, instrumento jurídico internacional.

Fonte: historiadores Antônio de Pádua Santiago de Freitas (Uece), Américo Souza (Unilab) e Patrícia Valim (UFPOP).


Filmes sobre o Holocausto

O Pianista (2002)

Sinopse: Filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.

O filho de Saul (2015)

Sinopse: Tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.

Shoah (1985)

Sinopse: documentário dirigido pelo francês Claude Lanzmann sobre o extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, feito com depoimentos de sobreviventes de Chelmno, dos campos de Auschwitz, Treblinka e Sobibor e do Gueto de Varsóvia. O filme também mostra entrevistas com ex-oficiais nazistas e maquinistas que conduziam os trens da morte.

APOSTA DO ENEM

O tema dessa inforreportagem foi escolhido por professores que compõem a banca o concurso "Redação Enem: chego junto, chego a 1.000", uma realização da Fundação Demócrito Rocha (FDR). A partir deste tema, estudantes da 3ª série do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede de escolas públicas do estado do Ceará são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. Esta publicação é a quinta e última da série que vinha sendo publicada às terças-feiras. Os temas passados foram:

  • Dilemas da escolha profissional do jovem na contemporaneidade;
  • As limitações do SUS no contexto da Covid -19;
  • A dificuldade de erradicar o trabalho infantil no Brasil;
  • O papel do esporte no combate ao preconceito.

 

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