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Monitoramento de tremores de terra no Brasil está comprometido por falta de manutenção

A crise gerada pela pandemia do coronavírus agravou a situação na maioria dos postos da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR)

Falta de recursos financeiros e dificuldade no deslocamento de técnicos devido às medidas de prevenção ao coronavírus comprometem a manutenção nas estações da Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), é o que declara a instituição. A missão da entidade é monitorar os abalos sísmicos em todo território nacional e disponibilizar dados acerca da estrutura interna terrestre.

Com a suspensão do transporte de técnicos para a verificação e manutenção das estações espalhadas pelas regiões do Brasil, a crise gerada pela pandemia do Coronavírus agravou a situação na maioria dos postos da RSBR. Em comunicado, Sérgio Luiz Fontes, coordenador-geral da Rede Brasileira, afirma que as restrições nos recursos financeiros não são problemas recentes.

A RSBR é constituída pelas Rede Sismográfica do Sul e do Sudeste do Brasil (RSIS), Rede Sismográfica do Nordeste do Brasil (RSISNE), Rede Sismográfica Integrada do Brasil (BRASIS) e Rede Sismográfica do Centro e Norte do Brasil (RSCN).

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“Mesmo enfatizando que a falta de recursos é o principal empecilho para assegurar a aquisição contínua de dados em todas estações, a pandemia do novo coronavírus tem inviabilizado qualquer atividade de campo dos profissionais do ON desde a segunda quinzena de março”, ressaltou Sérgio Fontes, que também é pesquisador do Observatório Nacional (ON), operado pela Rede Sismográfica do Sul e do Sudeste do Brasil (RSIS). Em 2020, nenhuma estação da RSIS foi visitada e apenas 50% estão transmitindo dados atualmente.

No Ceará, os eventos sísmicos são captados pelo Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LABSIS/UFRN), uma das quatro instituições que integra a Rede Sismográfica Brasileira. Operando 20 estações espalhadas pelos estados do Nordeste, 17 estão transmitindo dados e apenas 16 receberam manutenção, tornando o Labsis a instituição com mais estações ativas no momento.

Em nota, a RSBR explica que os deslocamentos dos técnicos só ocorreram após a autorização da reitoria da UFRN mediante assinatura de um termo de responsabilidade. Segundo o coordenador do Labsis, Aderson Nascimento, os trabalhos são tratados como casos de extrema necessidade. “Um outro aspecto que deve ser observado é que a presença dos técnicos é fundamental para o engajamento dos moradores locais que, em muitas ocasiões, autorizam a permanência dos equipamentos em suas propriedades”, afirma o coordenador.

No mês de junho, três tremores de terra foram registrados no Estado: dois ocorreram na região de Santana do Acaraú e um outro próximo ao município de Groaíras. Já no início de julho, um tremor com magnitude de 2,5 foi registrado entre os municípios de Chorozinho e Cascavel, sendo o quinto evento sísmico no Ceará em pouco mais de uma semana.

Diferente das estações operadas pelo laboratório da UFRN, diversos postos no Brasil estão sem receber manutenção devido à recomendação de isolamento social e por falta de recursos. Operando 25 estações nas regiões Norte e Centro-Oeste, apenas uma estação do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (OBSIS/UnB) recebeu manutenção este ano e seis já pararam de funcionar.

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Com estações instaladas em regiões de difícil acesso, a UnB recomendou a suspensão temporária das atividades em função da segurança dos técnicos, já que eles viajavam em barcos e aviões, o que, no momento atual, os deixariam expostos ao coronavírus. “As medidas tomadas pela UnB são justas e necessárias. Aqui no OBSIS todas as viagens de manutenção foram suspensas. Ninguém está viajando visando a segurança dos envolvidos, seguindo as recomendações da Universidade”, esclarece Marcelo Rocha, coordenador do Obsis.

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As 28 estações operadas pelo Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) não recebem a devida manutenção há mais de nove meses. Com estações localizadas no Sul e no Sudeste do País, cerca de 10 viagens já foram canceladas desde o início da pandemia. Ainda conforme a nota, algumas estações do Centro de Sismologia da USP estão desligando à noite, o que atrapalha a captação dos dados em tempo real. “É difícil dizer hoje o quanto do monitoramento já foi comprometido. O que já ocorreu é, ao verificar a demanda de algum sismo, as estações mais próximas estarem inacessíveis, seja por problema de energia ou transmissão”, explica Marcelo Bianchi, coordenador do Centro.

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