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Amigo do roqueiro fala sobre os 30 anos sem Raul Seixas

O POVO Online conversou com Sylvio Passos, amigo de Raul e fundador do fã clube do roqueiro no Brasil. Falecido no dia 21 de agosto de 1989, em São Paulo, já são 30 anos sem o excêntrico artista
23:12 | Ago. 20, 2019
Autor Gabriela Feitosa
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Gabriela Feitosa Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Sylvio Passos conheceu a música de Raul aos 17 anos. À época, o garoto morador da periferia de São Paulo e entusiasta do movimento roqueiro no Brasil, não costumava ouvir música nacional. “Eu não estava muito sintonizado com a música produzida no Brasil, típico da minha geração, adolescentes radicais. Chamavam a gente de alienados. Mas, a gente cresce, a mente abre. Passei a prestar mais atenção na música produzida no Brasil”, explica.

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Foi então que Sylvio começou a ouvir artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Os Mutantes e Raul Seixas. Este último, no entanto, conquistaria um espaço de carinho e admiração nos ouvidos e coração do garoto. “O Raul me causou um impacto maior pela musicalidade, pela variedade de ritmos e, principalmente pelos textos; Foi paixão à primeira ouvida”. A partir de então, Sylvio desfez o fã clube que havia criado para a banda Led Zeppelin e fundou um para o “roqueiro brasileiro que falava minha língua”.

Sylvios Passos, músico, amigo íntimo de Raul Seixas e fundador do fã clube brasileiro de Raul
Sylvios Passos, músico, amigo íntimo de Raul Seixas e fundador do fã clube brasileiro de Raul (Foto: ARQUIVO PESSOAL/ ALE FRATA | alefrata.com.br)

Em pouco tempo, Sylvio passa a frequentar a casa de Seixas. Nesse momento, tem início uma relação para além da condição de fã-ídolo, mas uma amizade que durou até a morte de Raul. “Acabei herdando todo o acervo de coisas do Raul. Ele mesmo passou a me mandar fotos, manuscritos, documentos. Ele dizia: Sylvio, leva para você que está mais seguro com você do que comigo”, relembra Passos.

A obra de Raul Seixas é atemporal, segundo Sylvio. É graças a isso que o artista continua conquistando novos fãs e espaço na música. Mesmo após 30 anos de sua morte, não é incomum ver homenagens ao cantor. Baú do Raul é um dos exemplos. “Essa temporalidade foi pensada por Raul, com certeza. Os temas que Raul trabalha em suas músicas tem base filosófica. Ele está mexendo com temas que sempre foram estudados, desde que o homem começou a tentar entender a si mesmo”. Sylvio acredita que a obra de Raul ainda há de permanecer por um tempo.

Amigos, os dois não só frequentavam barzinhos e outros lugares em São Paulo, como também compartilhavam ideias. Não era difícil Raul comentar sobre as letras de suas músicas. Estas, inclusive, ainda causam discussões. “O que é que Raul quis dizer?” é uma pergunta que se repete, mas Sylvio responde: Raul, na maioria do tempo, está falando dele mesmo, sobre sua visão de mundo, relações pessoais. “De onde viemos, para onde vamos. Tudo isso você encontra na obra de Raul”, explica.

Apesar dos mais de 10 discos lançados, Sylvio segredou que o álbum favorito de Raul era o Novo Aeon, de 1975. “Ele gostava desse álbum porque ele não fez tanto sucesso. Ele não gostava muito dos Beatles porque eles fizeram sucesso e ele falava: 'não gosto de sucesso'”, Sylvio sorri ao lembrar. A música que mais mexia com a cabeça de Raul nesse álbum era A maçã. “Se eu te amo e tu me amas/ E outro vem quando tu chamas/ Como poderei te condenar?”, diz a canção. Os amigos costumavam compor juntos.

Sylvio acompanhou de perto os últimos oito anos da vida de Raul. Na época, eles moravam distantes - Seixas na Zona Sul de São Paulo e Passos na Zona Norte. Apesar disso, os dois se viam com frequência. “Tinha as coisas do dia a dia, de música, de televisão, de gravadora, de ir para o boteco tomar uma, ir para o estúdio”. No começo, Sylvio via aquilo tudo com deslumbre, mas com o passar do tempo a rotina tornou-se comum. “Aquela idealização deixou de existir para dar lugar a uma convivência diária com uma pessoa que era tão igual a mim e a todos os outros seres, com problemas, com dor de dente”.

Por conta da convivência diária, os dois passaram por fases diversas. Nos últimos anos de vida do cantor, o consumo exagerado de álcool trouxe consequências - algo que não afastou os amigos. “Eu estava junto com ele nos bons e maus momentos. Em alas psiquiátricas, hospitais. Acompanhei a luta dele contra o alcoolismo”, relata Sylvio. Em 1988, um ano antes da morte de Raul, seu amigo relembra com pesar quando o viu em uma Igreja, em um grupo de Alcoólicos Anônimos, tentando se curar da doença.

Sylvio Passos trabalha hoje com música na Putos BRothers Band. Deixou o ambiente corporativo depois da convivência com Raul. Até mesmo os fãs do artista motivavam Sylvio a começar seu próprio projeto. Atualmente, trabalha também com teatro e cinema. Passos sempre foi apaixonado pela área, mas reconhece que seu ídolo-amigo tem participação nas suas escolhas. “Eu cresci em uma família religiosa, tinha um olhar muito preso, até o momento que resolvi sair de casa. O Raul me deu a oportunidade de olhar o mundo de vários ângulos e ter minha visão”.

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