Quais os rumos da política externa do governo Bolsonaro?
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Quais os rumos da política externa do governo Bolsonaro?

2018-11-12 01:30:00
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[FOTO1]As declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), têm criado tensões sobre relações diplomáticas e comerciais ainda durante a fase de transição para o novo governo. A ausência de um assessor da área que acompanhe Bolsonaro nos encontros com representantes de outras nações e o fato de o futuro ministro das Relações Exteriores ainda não ter sido escolhido tornam incertos os rumos que a política externa brasileira adotará a partir de janeiro.

Segundo a professora de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Denilde Holzhacker, "para quem está acompanhando, ainda é muito nebuloso saber as diretrizes básicas e se elas seguirão a tradição brasileira". Para ela, as "informações são desencontradas", o que gera "uma tensão, não só no Brasil como nos parceiros, que não sabem o que esperar".

Do ponto de vista da mudança na tradição da política externa brasileira, para Oswaldo Dehon, professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Ibmec/MG, parece haver uma proximidade com o modo de governo de Donald Trump em uma "tentativa similar de Bolsonaro de tentar confrontar a essência da política externa (existente), baseada nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) e no Mercosul (Mercado Comum do Sul)".

Além disso, Oswaldo afirma que há um aparente esforço de Bolsonaro em seguir os passos do presidente norte-americano, o que "pode significar não uma política de alinhamento, mas de submissão".

Para Sidney Ferreira Leite, professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, a indefinição estimula especulações sobre quais os caminhos que a nossa política externa seguirá.

Sobre o presidente eleito indicar que vai nomear um diplomata como ministro das Relações Exteriores, Sidney encara de maneira positiva a escolha, ressaltando que é necessário "selecionar alguém com sensibilidade de conhecimento de economia e política comercial". Além disso, ele acredita que o futuro governo assumirá uma nova estratégia com "ruptura da política externa brasileira".

A expectativa é que seja adotada uma dinâmica em que as relações bilaterais serão prioridade frente às multilaterais, como já era previsto no plano de governo. As declarações sobre o Mercosul do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, mostram que o bloco econômico ocupará um espaço secundário.

Em relação a essas novas relações, Oswaldo Dehon acredita que a permanência do País no bloco "não impede outras negociações". Sidney Ferreira Leite, por outro lado, defende que o Mercosul precisa ser reconstruído. "Ele (Bolsonaro) tem em mente a necessidade de que o Mercosul precisa ser redefinido, fica claro que não vai ter o protagonismo que teve no Governo Lula."

Para Denilde, a viagem que Bolsonaro fará ao Chile "sinaliza uma nova visão sobre a política externa" ao romper com a tradição dos últimos governos petistas. Ela aponta que é possível haver mudança sem o Brasil romper com a política externa atual, mas dando uma nova diretriz.

Assim, ela acredita que seria possível conciliar uma agenda multilateral com uma agenda bilateral. Sidney entende que é necessário construir bons acordos comerciais com Estados Unidos, Israel e Chile. Ele argumenta que é preciso um "reposicionamento do Brasil no cenário internacional" para recuperar o "protagonismo perdido".

Januele Melo

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