Candidatos adotam tom conservador
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Candidatos adotam tom conservador

2018-08-27 01:30:00

Para o cientista político Glauco Peres, da USP, a fragmentação das candidaturas faz com que as campanhas deem prioridade a preservar o eleitorado mais convertido, evitando avançar com tanta avidez nas parcelas da população em que são mais desconhecidos ou rejeitados.

 

"É muito custoso avançar (em outras parcelas) e ter o risco de perder o seu eleitorado. Tem sido uma estratégia conservadora nas duas lógicas: de não avançar e de não perder o seu", disse. Segundo ele, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) é quem aplica esse artifício com mais clareza.

 

Segundo Peres, que vê a possibilidade de um candidato ir ao segundo turno com votação entre 15% e 20%, o tempo curto de campanha reforça essa lógica. "Se tivesse mais tempo, seria muito arriscado ficar parado. O ideal seria ir angariando mais votos aos poucos, pelas bordas".

 

A diminuição de recursos financeiros, com a proibição da doação empresarial, é outro fator responsável por evitar deslocamentos que podem se mostrar inúteis. Bolsonaro, por exemplo, é de um partido nanico, que não tem uma máquina consolidada nos Estados e municípios Brasil afora. "Ele vai lá (a cidades em que não tem muitos votos) fazer o quê? Não dá para ir a furadas. É uma eleição de muito cuidado", afirmou Peres.

 

Por outro lado, quem está em situação delicada é Geraldo Alckmin (PSDB). Para chegar ao segundo turno, o candidato que mais tem tempo de TV no horário eleitoral gratuito se vê obrigado a tirar votos de Bolsonaro, que tem sido uma pedra no sapato do tucano até em São Paulo, Estado que governou por quatro vezes e é o principal reduto político da legenda.

 

"Alckmin precisa ser muito mais incisivo contra o Bolsonaro. Está perdendo voto para ele e precisa reverter isso muito rápido", avaliou Peres.

 

No entanto, a estratégia de pregar para convertidos tem seus riscos. Ao avançar para o segundo turno, o candidato precisa moderar o discurso a fim de atrair os eleitores "mais difíceis", avaliou o cientista político Cláudio Couto, da FGV-SP.

 

"Existem momentos para cada coisa: o foco prioritário nesse momento do primeiro turno pode ser os eleitores 'garantidos'", disse Couto, lembrando que a opção de Alckmin pela gaúcha Ana Amélia (PP-RS) como vice foi certeira ao focar no Sul, onde tem grandes chances de angariar votos na campanha.

Couto vê a necessidade de Bolsonaro investir no eleitorado feminino, considerado pelo professor questão indispensável.

Agência Estado

 

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