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Para bellum

2017-12-07 01:30:00
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“É um equívoco os partidos apostarem que Lula não será candidato.

É preciso se preparar para enfrentá-lo na rua”, disse o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), um dos nomes da oposição com maior destaque administrativo atualmente. A fala remete ao provérbio latino: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra” (si vis pacem, para bellum). O conselho do prefeito deve ser ouvido por quem quer derrotar o ex-presidente.


São grandes as chances de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não ser candidato, por imposição da Justiça. Se for candidato, não sei se será eleito. Na hipótese de ser vitorioso, tenho dúvidas se toma posse.

Caso assuma, pergunto-me se conseguirá governar. Qual a estabilidade e a sustentação política que terá. O cenário é complicado.


Porém, ACM Neto tem razão, por difíceis e improváveis que sejam as circunstâncias, Lula está no páreo e é fortíssimo. Aliás, fica mais forte a cada dia. A esquerda não pode contar que ele será candidato, porque há muitos obstáculos e a chance de ele ser impedido de entrar na disputa é enorme. Por outro lado, para os adversários de Lula, também não dá para confiar que ele será candidato.


Nunca antes na história deste País, a candidatura do líder nas pesquisas foi de tal modo colocada em dúvida. Trata-se de nível de incerteza política nunca antes vista.


Por enquanto, Lula é pré-candidato. Aliás, cada dia mais forte.


COMO O IMPEACHMENT FORTALECEU LULA


Se Lula vier a ser eleito no ano que vem, o motivo principal para a vitória terá sido o impeachment de Dilma Rousseff (PT). As intenções de voto em Lula chegaram ao fundo do poço na pesquisa Datafolha realizada em 17 e 18 de março de 2016. Ele tinha 17% das intenções de voto. Ficava atrás de Marina Silva (21%) e de Aécio Neves (19%).

No mesmo dia 17, foi formada a comissão especial da Câmara dos Deputados para avaliar o impeachment.


Não sei se por reflexo da postura dos deputados, da condução do processo ou por mera coincidência. O fato é que, três semanas depois, na pesquisa seguinte, Lula já subiu para 21%. Marina (19%) e Aécio (17%) caíram. Lula só continuou a subir. Logo depois de Dilma ser afastada, foi a 22%. Ao final do ano, quando a ex-presidente já estava definitivamente cassada, chegou a 25%.


Na semana passada, tinha 37%. Na comparação com a época em que o processo para cassar Dilma foi instaurado, suas intenções de voto mais que dobraram.


Aliás, o reflexo mais impressionante da mudança: na pesquisa Datafolha da semana passada, Lula chegou a 17% das intenções de voto espontâneas. Exatamente o percentual que, em março do ano passado, ele tinha na pesquisa estimulada.


Pesquisa estimulada é aquela em que o eleitor recebe uma lista com os nomes dos candidatos e explica em quem vai votar. Na espontânea, o eleitor declara intenção de voto sem lista alguma. O escolhido precisa estar na ponta da língua. Nesse caso, as intenções de voto costumam ser muito menores, embora o voto seja muito mais consolidado, garantido. O fato de, em um ano e meio, Lula ter de intenções espontâneas o que tinha de estimuladas dá conta do tamanho do crescimento.

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AS RAZÕES DO CRESCIMENTO


Um ano antes das eleições, há de se considerar que muito das intenções de voto em Lula podem ser recall. As pessoas o conhecem como ninguém. O fato de a população saber quem ele é pesa muito em pesquisas, sobretudo tão longe da eleição. Porém, há um crescimento efetivo. Conhecido ele sempre foi, mas as intenções de voto estiveram muito mais em baixa. A questão crucial é: o desgaste que ele e o PT tiveram em função do governo Dilma está cada vez mais distante, na cabeça do eleitor. Medidas impopulares do governo Michel Temer (PMDB), rejeitado nas pesquisas como nenhum outro, também ajudam Lula.


Por isso, se o impeachment atrapalhou o projeto político petista, ajudou demais o governo. Se Dilma fica mais tempo no cargo, pelo desgaste que acumulava, seria muito difícil o PT ser vitorioso em 2018. Mesmo com Lula. A cassação da ex-presidente pode ter viabilizado a vitória, caso ocorra.


É verdade que a propaganda eleitoral pode ajudar a lembrar do desgaste. Se for candidato, Lula vai apanhar muito. Tem muita coisa a explicar, a começar pela condenação judicial. Porém, também usará o marketing a seu favor - em que pese o fato de seus estrategistas de comunicação estarem presos. Há de se considerar ainda que, com as denúncias expostas no noticiário há mais de ano, não sei qual o impacto ainda têm. Se falar de sítio e triplex ainda tira voto. Além disso, o tempo de propaganda está muito mais curto. Se alguém larga muito na frente, não será fácil reverter o quadro.


Lula sempre foi competitivo, mas fica cada vez mais forte. Nesse caminho, periga ganhar ares de imbatível, se for candidato. Hoje, ao contrário do que prega ACM Neto, a grande esperança dos adversários de Lula parece ser que a Justiça o impeça de concorrer.

Isso é bem capaz de ocorrer, mas não é algo certo. Quanto mais forte ele estiver, maior impacto e mais traumática politicamente será a cassação da candidatura.

Adriano Nogueira

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