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E de Eunício e L de Lula

2017-12-09 01:30:00
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Na capa do O POVO de sábado passado, uma das mais significativas imagens políticas do Ceará neste ano — e do Brasil nos últimos tempos. Foi feita pela repórter fotográfica Tatiana Fortes, em Limoeiro do Norte. Em evento com o governador Camilo Santana (PT), ele fez o L, de Lula, sobre o palanque. “Eu sou Lula”, confirmou ele.


Eunício é presidente do Congresso Nacional. Está entre as personalidades mais poderosas da política brasileira. No PMDB, está em função que só perde em importância para a de Michel Temer.

Pois, o segundo peemedebista mais poderoso do País, cacique no regime que ascendeu com a queda de Dilma Rousseff (PT), diz que apoia o pré-candidato petista.

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Isso é muita coisa. Como entender o gesto? O primeiro passo é observar as pesquisas de opinião pública sobre o Nordeste. No Datafolha da semana passada, Lula lidera a pesquisa, com 37% em todo o País. No Nordeste, ele tem 58%. São 21 pontos percentuais a mais. Segundo colocado, Jair Bolsonaro (PSC) tem 11%. Com carreira política na região, Ciro Gomes (PDT) tem 7% entre os nordestinos. Na pesquisa espontânea, Lula tem 29% no Nordeste. Ele lideraria com folga a pesquisa estimulada só com as intenções de voto da espontânea. É impressionante.


Então, Eunício sabe que um candidato majoritário terá dificuldades extras para ser bem-sucedido na região sem estar ao lado de Lula. O presidente do Senado pode ser muita coisa, mas não é kamikaze. Tem instinto de sobrevivência dos mais aguçados.


Mas, há outro passo para entender o gesto de Eunício em relação a Lula. É preciso olhar para a eleição em que o peemedebista virou senador, em 2010. Então presidente da República, o petista teve absoluto protagonismo nas definições.


O PAPEL PASSADO E FUTURO DE LULA


Cid Gomes tinha pacto com Eunício para apoiar o candidato do PMDB a uma das duas vagas em disputa no Senado. Para a outra, a ideia de Cid era se entender com Tasso Jereissati (PSDB). Se não acordo formal, havia movimento para que os governistas lançassem apenas um candidato a senador. Assim, deixariam a outra vaga livre para o tucano. Cid costurava esse entendimento. O PT bateu o pé e lançou José Pimentel. O então governador acreditava que conseguiria contornar a situação, mas, no entender dele, Tasso se precipitou.


O tucano decidiu romper com o governo depois que Lula visitou o Ceará e concedeu entrevista exclusiva ao O POVO. Falou que acreditava em entendimento para “manter unida a nossa base de apoio no Estado. Dessa forma, seremos competitivos e conseguiremos eleger os que estão comprometidos efetivamente com o projeto político que nós estamos implementando e que conta com amplo apoio da população”. Falava explicitamente em emplacar senadores aliados ao governo Lula, o que excluía Tasso.


Em campos opostos, as três candidaturas foram para a disputa. O tucano liderou desde o início. Eunício e Pimentel travaram disputa interna pela segunda vaga. O clima interno chegou ao limiar do rompimento. Então, Lula se encontrou com ambos. Costurou entendimento e gravou um dos mais marcantes programas da história eleitoral do Ceará. “Quem votar em um vota no outro, quem vota no outro, vota no outro e não precisa votar em mais ninguém”, afirmou, ao lado de ambos.


Ali a eleição começou a virar. As hostilidades entre Eunício e Pimentel diminuíram bastante. O que era uma disputa de ambos pela segunda vaga cedeu espaço, ao menos parcialmente, ao esforço conjunto para derrotar Tasso. E isso aconteceu.


Naquela eleição, Lula foi determinante para impedir a aliança dos Ferreira Gomes com um adversário do PT — no caso, Tasso. Isso apesar das mais de duas décadas de relação política entre eles.

Então, ao acenar a Lula, Eunício quer garantir que não será vetado.

Além disso, aproxima-se de um cabo eleitoral poderoso como nenhum outro.


Aliás, Eunício tem sido mais enfático nas manifestações de apoio a Lula do que Camilo. O governador é petista, mas se equilibra diante da iminente candidatura de Ciro Gomes.

Adriano Nogueira

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