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O xadrez do PSDB

2017-11-28 01:30:00
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A definição de Geraldo Alckmin para presidir o PSDB começa a desenhar o futuro do partido e é movimento importante para a sucessão de 2018 — no plano nacional e no Ceará. Não era a saída desejada por nenhum dos lados, mas foi a saída possível para evitar a implosão da legenda. Na sigla, a política do café-com-leite nunca acabou. E, a rigor, o que há é sutil toque de leite num café bem forte. Em sete eleições desde a fundação do PSDB, foram sete candidatos a presidente de São Paulo e um de Minas Gerais. Nesse duopólio desequilibrado — o partido tem cabeça, comando e lógica paulistanas — quem sobrou entre os caciques foi Geraldo Alckmin.


Sobrou, no caso, é modo de dizer. Escapou na comparação com o mundo que desabou sobre a cabeça de outros próceres da sigla, notadamente Aécio Neves. O governador paulista foi acusado por três delatores da Odebrecht de receber R$ 10 milhões via caixa dois. Na semana passada, o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, pediu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) abertura de investigação contra Alckmin. É gravíssimo, mas, no atual panorama do PSDB, chega a ser reputação ilibadíssima. Na cúpula tucana, não sobrou quase ninguém com folha corrida muito melhor.


Muito mais que o novo presidente do PSDB, a definição de Alckmin para comandar o partido antecipa que ele será, também, o candidato a presidente da República em 2018. Há algumas semanas, já vinha ficando claro que o prefeito paulistano João Doria tinha sido preterido na disputa interna. Até por estar há 11 meses em cargo público, ele não é alvo de denúncias de corrupção - um gigantesco diferencial no cenário de hoje. Porém, além de paulistano, outra característica do PSDB é o caciquismo. A sigla tem meia dúzia de donos. Doria é um neófito e terá de pegar uma fila de pouquíssima mobilidade.

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A FORMA DE ENCERRAR A DISPUTA INTERNA

O PSDB sempre tem disputas internas e nunca sabe lidar com elas. Em 2002, quando disputava indicação com José Serra, Tasso Jereissati quase entrou na porrada com o hoje senador Aloysio Nunes Ferreira. Em 2006, Serra foi preterido por Alckmin. Em 2010, Aécio não foi páreo para Serra — aliás, o ex-ministro e ex-governador é sempre personagem nesses embates. Só não foi em 2014 porque, enfim, vinha de derrota na eleição para prefeito. Então, Aécio se tornou candidato natural. Ter disputa é normal, mas os critérios de decisão nunca ficam claros. Um punhado de caciques toma a decisão e pronto.

 

Por mais que estivesse subentendido, não me parece que alguém tenha dito a Doria que a escolha está feita e o candidato não será ele. Do contrário, imagine a situação de Alckmin conduzir prévias ou algo parecido, com ele mesmo na condição de postulante.

Vale lembrar como se agravou a crise interna tucana: Aécio interveio para tirar Tasso da presidência nacional porque não achava justo que ele permanecesse à frente da direção ao mesmo tempo em que era candidato na eleição partidária. Agora, se houve incômodo com o envolvimento do então presidente interino na disputa dentro da sigla, o que dirá se o dirigente for um dos postulantes ao posto de candidato a presidente da República.

 

IMPACTO LOCAL

A desistência de Tasso Jereissati para apoiar Alckmin mexe, obviamente, com a política do Ceará. O senador cearense é apontado nos bastidores de Brasília como um dos articuladores da saída. O governador paulista havia declarado voto em Tasso. O governador goiano Marconi Perillo tinha apoio de Aécio. As duas candidaturas foram retiradas em nome do consenso do qual só Alckmin seria capaz.


Com isso, Tasso sai do protagonismo na cena nacional. Volta-se, assim, para a cena local. O que significa que muita coisa pode mudar na política cearense a partir disso — inclusive nada.


ERREI

Na coluna da sexta-feira passada, comentei que Camilo Santana (PT) participou de evento com Eunício Oliveira (PMDB) na residência oficial do governador. Na verdade, foi no Palácio da Abolição. É vizinho, mas é diferente.

A aliança está próxima, ao que parece, mas chamar para ir em casa é um passo seguinte.

Érico Firmo

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