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Por que Lula cresce

2017-02-17 01:30:00

É impressionante a resiliência, a capacidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) permanecer na liderança das pesquisas apesar das denúncias. Como explicar? Em parte, a justificativa está no enorme capital político. Ainda é a personalidade política mais popular do Brasil. O desgaste não corroeu por completo sua popularidade.


Porém, o patrimônio político de Lula não explica tudo. Ele já tinha força e ela era muito maior antes dos escândalos. Caiu muito. Porém, está crescendo. Na pesquisa MDA/CNT, ele foi de 11,4% para 16,6% na espontânea. Na estimulada, cresceu em torno de 5 pontos percentuais. Em parte, justifica-se pela acomodação. Após a queda brusca, retorna a patamar mais condizente com a realidade. Porém, há outros fatores, para além da imagem pessoal de Lula.


Em condições normais, um impeachment representa a destruição política de um partido e deixa caminho livre para a ascensão oposicionista. Na prática, as coisas podem não ser tão simples. Certamente, o PT saiu profundamente abalado após 13 anos de governo. A antiga oposição se aliou a ex-governistas, chegou ao poder e tem oportunidade de estabelecer novo ciclo. Porém, a chegada ao governo sem aval popular e sem aprovação pode se tornar baita problema. Já o PT pode até fazer uma limonada do azedo limão.


A recuperação da imagem de Lula se deve, em grande parte, à interrupção da trajetória de desgaste. As investigações na Lava Jato persistem. Mas, o ônus de governar passou para Michel Temer (PMDB). O bônus também, mas aquele tem se refletido bem mais que este do ponto de vista da opinião pública.


Temer já assumiu o governo impopular, com seus aliados mais próximos enrolados na Lava Jato e com cenário econômico gravíssimo a administrar. Adota medidas impopulares, com benefícios projetados para o longo prazo. Óbvio, tem os cargos, as verbas. A máquina sempre tem seus encantos. Mas, o potencial de desgaste nos menos de dois anos de mandato que há pela frente é muito maior que a perspectiva de dividendos. Parte da subida de Lula tem relação com a constatação de que os problemas persistem após o impeachment. O governo tem enfrentado turbulências, apresentado medidas impopulares e aumentado a rejeição. Tudo isso conta pontos para o ex-presidente.


O governo Dilma Rousseff fazia o PT sangrar. Havia gente na oposição aos petistas que julgava mais interessante, estrategicamente, deixá-la se arrastar até o fim do mandato. As forças então governistas chegariam à eleição seguinte como carta fora do baralho. A vitória talvez fosse barbada para a oposição da época.


UMA INESPERADA SAÍDA PARA O PT

Do lado do PT, o partido pagou o preço de uma administração que não falou a verdade sobre a situação econômica, adotou medidas que agravaram a crise, inviabilizou-se politicamente, razão pela qual se tornou inoperante. A seguir como vinha, ela fatalmente terminaria o mandato de forma melancólica. Lula saiu maculado, além das denúncias contra ele próprio, por ter sido avalista do fiasco.

Durasse mais dois anos e meio, a tendência seria se afundar ainda mais. O cenário para o PT ficava pior a cada 15 minutos. Certamente, o partido demoraria algumas eleições para se recuperar.


O impeachment mudou o quadro. As denúncias de corrupção ficaram em segundo plano, pois não foram a razão oficial para tirar Dilma. Nem havia acusação de desonestidade contra ela. Os graves problemas econômicos também saíram do foco principal. Quando o governo Dilma caiu, a pauta não era ética nem administrativa. O assunto passou a ser o questionável processo de destituição.


Nesse debate, o PT tirou de foco as muitas fraquezas que apresentou e ganhou um catalizador capaz de construir um discurso que ganha adesões. No lugar do protagonista de um fiasco gerencial, o governo Dilma busca construir imagem de que foi alvo de injustiça e violência política. Não cola para todo mundo, mas a tese é abraçada por muita gente.


A pauta da corrupção hoje tem o PMDB como foco. É natural: quem está no poder vira alvo preferencial. O PT ainda atrai interesse, mas deixou de ser o assunto principal. É notícia de anteontem. Cobranças administrativas também mudaram de lado. É Temer quem precisa dar respostas. Até agora sem sucesso.

Tudo que desgastava o PT se volta agora contra o PMDB.


A ambição raramente é paciente. Os grupos que hoje governam o País apressaram-se em tirar Dilma. Tivessem esperado até 2018, provavelmente teriam no adversário um partido absolutamente débil, sem chances.


A próxima eleição permanece muito difícil para o PT. Os resultados de 2016 nas prefeituras já mostraram isso. O desgaste se atenua, mas é enorme. Lula está forte, mas tem rejeição muito maior que a dos demais pré-candidatos, segundo a última pesquisa Datafolha. Só Michel Temer fica em patamar semelhante. Lula lidera, mas seria bombardeado numa campanha. Larga na frente, porém, ninguém se iluda, teria muitas dificuldades em um 2º turno. Isso sem especular sobre desdobramentos dos problemas na Justiça.


Apesar de tudo, segue muito forte para 2018.

Adriano Nogueira

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