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Deboche

2017-02-10 01:30:00
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Érico Firmo

Jornalista, editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO

Dos 13 senadores investigados na operação Lava Jato, 10 estão na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e irão sabatinar Alexandre de Moraes a respeito da indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF). Outros três membros da comissão foram citados em delações. Um dos alvos de inquérito é o novo presidente da CCJ, Edison Lobão (PMDB-MA).


O problema é mais grave do que possa parecer. O comando político brasileiro é esse que está aí, sob suspeita da oposição ao governo. Não tem respaldo, credibilidade, moral ou condição de tomar as decisões sob sua responsabilidade. Deixar nas mãos desses agentes a condução do País é um deboche.


Dilma Rousseff (PT) era, efetivamente, parte da crise em que o País mergulhou. Está provado, porém, que ela não era a crise. Muito do problema continua lá, mandando mais que nunca.


O AUMENTO DOS HOMICÍDIOS

O número de homicídios voltou a crescer no Ceará depois de quase um ano e meio de seguidas quedas. É sempre notícia trágica, mas há de se ler os dados com cautela. O secretário André Costa assumiu a função no mês passado. Nada indica que o problema seja tendência. Pode ser apenas turbulência da transição. É pelo que se torce.

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Quando Delci Teixeira substituiu Servilho Paiva, no primeiro mês de governo Camilo Santana (PT), também houve aumento expressivo dos homicídios. Depois, entraram em queda. Pelo histórico, essa oscilação é natural. Diante do que, é bastante recomendável que os governos passem a rever a forma como fazem a transição em área tão sensível. Que seja mais gradual. Porque, se é problemático que haja turbulências na mudança de comando em qualquer área, quando isso ocorre na segurança, pessoas morrem.


É bom sinal que o governador tenha sido incisivo nesse ponto. Não responsabilizou o secretário, nem teria cabimento isso. Mas, não tentou minimizar o problema atrás da melhora havida em relação aos roubos e furtos. Ressaltou que reduzir homicídios é a prioridade. E é mesmo. Camilo tem consciência de que a situação é grave, sabe que houve melhora, mas que há muito por avançar. É a melhor notícia diante de cenário que preocupa.


PROPAGANDA DO ESCÂNDALO

O Governo Federal veicula campanha publicitária que busca valorizar o legado esportivo da Olimpíada do ano passado. O protagonista é o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima - que constrangimento para o responsável por acender a pira olímpica. A propaganda é inexplicável até politicamente. Afinal, os preparativos para as Olimpíadas foram quase integralmente atribuição do governo de Dilma Rousseff (PT). Temer assumiu faltando menos de três meses para a competição. Era ainda interino. Mas, muito pior que isso, a campanha é um completo despropósito, uma sucessão de absurdos. Uma desfaçatez.

Falam do legado olímpico enquanto o principal palco da competição está a tradução do desmantelo. Inutilizado para prática esportiva, com gramado em péssimo estado, alvo de furtos de cadeiras e até do busto do jornalista Mário Filho, que dá nome ao estádio. A Polícia abriu investigação e o assunto foi notícia internacional.


A reforma do estádio, contestada por ter descaracterizado parte tombada do Maracanã, ultrapassou a casa de R$ 1,2 bilhão para a Copa de 2014. Para a Olimpíada de 2016, foi feita nova reforma, ao custo de mais alguns milhões, cujo valor final nunca foi informado com clareza.


Mais de um bilhão gastos em reformas para dois eventos no intervalo de dois anos. E, seis meses depois, o estádio está imprestável. É criminoso, é um absurdo, um desrespeito com o patrimônio público, histórico e afetivo do povo brasileiro.


Não surpreende que os principais envolvidos estejam presos. O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) está na cadeia. Seu substituto, Luiz Fernando Pezão (PMDB) foi cassado esta semana junto com o vice, Francisco Dornelles (PP). Outro que está detido é o empreiteiro Marcelo Odebrecht, cuja empresa assumiu a concessão do Maracanã em parceria com Eike Batista, também preso. Como as condições para os negócios que pretendiam fazer mudaram, e muito, a Odebrecht briga agora para se livrar da concessão do principal estádio do Brasil.


Os motivos das respectivas prisões e cassações não foram especificamente o Maracanã - a coisa é muito maior. Mas, passa pelo modelo de atuação. Doações de empresas a políticos, contratos obtidos mediante favorecimento…


O governo quer convencer as pessoas de que o Brasil saiu ganhando. Mais estranho é que tem quem acredite.

Adriano Nogueira

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