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O passado e as formas de construir o futuro

2017-01-27 01:30:00
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Érico Firmo

Jornalista, editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO


A política da Prefeitura de Fortaleza em relação ao Uber não difere do que a maioria das cidades tem feito. As normatizações do século passado são adotadas para regular novas realidades. Tecnologia, novas dinâmicas, tudo isso é ignorado em nome das velhas e obsoletas normas. Salvo exceções, como em São Paulo, o poder público não tem sabido lidar com o mundo em transformação. E a Uber também não colabora.


A forma como a empresa entra nos mercados está errada. Diz defender regulamentação, coloca-se para dialogar. Mas entra já metendo as caras, sem pagar impostos, sem cumprir regras, sem mecanismos de fiscalização. Entra, impõe-se como fato consumado e depois pede para ser regulamentada. Também não é assim que funciona. A forma de atuar da Uber é tão clandestina e ilegal quanto são os “táxis amigos”. Mas tem a grife de multinacional e o charme da tecnologia.


O fato é que o modelo Uber veio para ficar. Mas o modo como isso tem sido feito de parte a parte faz com que ambos percam. Carros têm sido apreendidos e motoristas multados. Isso não dá resultado, porque a Uber tem arcado com os prejuízos e até financia carro extra para os motoristas enquanto o veículo fica apreendido. Da parte da Prefeitura, faz-se enorme esforço de fiscalização que vira letra morta. Veículos Uber seguem circulando e em escala crescente. Como efeito colateral, os absurdos casos de agressão de taxistas contra motoristas que usam a plataforma.


Esse conflito resulta da resistência do velho ao novo. A tecnologia transformou relações para sempre e as novas regras não dão conta da realidade que se impõe. Nem adianta lutar para manter o status quo. Ele não se sustenta e não há força estatal capaz de impor isso. O modelo de táxi é arcaico, carcomido. Baseado em licenças vitalícias e hereditárias. As exigências e o modelo de tributação talvez também precisem ser revistos. Os novos serviços de transporte precisam passar a pagar impostos e os taxistas precisam de situação fiscal que os permita ser competitivos em relação a Uber e afins. Porém, o fato é que as novas alternativas de deslocamento facilitam a vida de toda a população, geram empregos, movimentam bastante dinheiro. Tentar destruir essa nova economia é tão sem sentido quanto inútil.


O prefeito Roberto Cláudio e o poder público como regra erram ao se apegarem aos velhos padrões e formatos. E a Uber erra ao chegar sem diálogo, sem negociação prévia, por cima de pau e pedra. Com o entendimento, todo mundo pode sair ganhando. Sobretudo o usuário.


O QUE AJUDA PODE ATRAPALHAR

Ainda sobre o assunto da coluna de ontem, sobre a conversa de Roberto Cláudio (PDT) com a bancada do PT. No começo da conversa, o prefeito falou de seu compromisso com as candidaturas de Camilo Santana (PT) à reeleição em 2018 e com a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT). É uma complicação só.
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O apoio a Camilo é o mais óbvio fator de aproximação. Afinal, o PT faz oposição ao prefeito que dá decidido apoio ao governador petista. Porém, estão abertas as negociações sobre a possível mudança de partido do chefe do Poder Executivo estadual. Quem conversou com os petistas mais próximos a Camilo ouviram deles que em nenhum momento Camilo manifestou intenção de deixar o partido. Porém, há movimentações nessa direção. Então, o que hoje é fator para aproximar pode se inviabilizar em pouco tempo.


E o apoio a Ciro, definitivamente, é complicador para a aliança com o PT. Não é impossível que o ex-governador tenha apoio de petistas na disputa presidencial. Porém, é muito difícil que isso ocorra. Hoje, o cenário nacional os aproxima na oposição a Michel Temer (PMDB). Mas pode vir a ser fator de distanciamento.

 

De modo que os fatores estadual e nacional hoje favorecem a aproximação entre PT e Roberto Cláudio. Mas, podem vir a distanciá-los ainda mais no futuro próximo. Muita coisa pode mudar nos próximos meses.


Para ler a coluna de ontem sobre o assunto acesse este link:

https://bit.ly/ptprefeitura


 

Adriano Nogueira

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