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O método era a crônica da crise anunciada

2018-04-08 00:00:00

 
O que querem os sanguinários? A julgar pelo que se lê e se ouve, em redes sociais e no noticiário, o Brasil está sob a égide de fanáticos.

Como é próprio dos fanatismos, inconsequentes, rasos, extremados e sem a capacidade de fazer as leituras que só o aprendizado da história é capaz de fornecer.

No amontoado de ocorrências, há um País esmagado. Não há vencedores possíveis no crematório dos pecados da cultura política nacional. A crença dos incautos é a de que o País vai começar do zero quando as labaredas terminarem de queimar tudo. Ledo engano. Sobram as cinzas e a velha cultura. Esperem as eleições e veremos.

Estamos a somente seis meses das eleições presidenciais. Quando os leitores estiveram passando os olhos sobre essas linhas, teremos um ex-presidente da República (provavelmente) encarcerado. Não se discute aqui o mérito da prisão, mas tão somente alguns significados do fato.

A hora não é dos vingadores movidos a rancores. A hora pede grandeza, sensibilidade, bom senso e muita ponderacão. O Brasil conseguiu o feito de juntar em um curto espaço de tempo e em grande quantidade todos os elementos que apontam para uma crise política profunda e de longa duração.

O que fazer? O melhor é deixar os radicais falando sozinhos. O melhor é valorizar os que têm palavras de sensatez e apontam caminhos para o diálogo. O que deve ser exaltado é o cumprimento das leis, das regras e dos códigos do que o mundo aprendeu a chamar de civilização. Prefiro, e me encontro entre eles, os que lamentam a terra arrasada.

Notem bem: as palavras acima abarcam os dois extremos hoje em combate no Brasil. Falo dos que têm orgasmos com a prisão de Lula, mas óbvio que a coisa toda vale para grande parte da nossa esquerda, mestre em apostar na desgraça dos seus inimigos (deveriam ser apenas rivais), sempre ávida e pronta para usar defuntos a favor de suas bandeiras.

Falo com a tranquilidade de quem durante os dois mandatos de Lula manteve-se como crítico daquilo que estava sendo construído pelo lulopetismo. Havia um método e eu o apontei seguidamente. Não sem ganhar muitas críticas. Tenho a coleção de colunas em mãos para bradar.

Entre outras obsessões praticadas pelo petismo, apontei diversas vezes o perigo das palavras do então presidente quando irresponsavelmente apostava na divisão do País. O nós contra eles.

Os ricos contra os pobres. Os “que têm” contra os “que não têm”. O populismo barato e com os olhos voltados para o bolivarianismo. Não podia dar em algo que prestasse. Hoje temos plena clareza: não deu.

O modo petista de dividir o País criou seus antagonistas, claro. Fez o outro lado, o contraponto, brotar do asfalto e dos campos. E esse outro lado veio voraz, disposto, vingativo e rancoroso. Está aí. Vivemos hoje sob o imperativo de dois lados cuja única razão de ser é o combate entre si. Que se atraquem, mas deixem o País em paz.


OUTROS ELOQUENTES SINAIS DA CRISE


Para se construir uma civilização que se preze, o único império que pode prevalecer é o da lei. É o que chamo de tacape constitucional.

Porém, eis que boa parte da crise emanou dos homens de toga e outros operadores do Direito que passaram a agir ao sabor de suas convicções pessoais, mesmo que estas não estivessem contempladas pelas leis.

Ao longo dos últimos anos, nos acostumamos a assistir a pregações políticas em vez de jurídicas. Jovens procuradores com megafones em redes sociais a propagar lições muitas vezes não previstas no nosso conjunto de leis. Juízes da mais alta corte a assinar sentenças sem base nas regras legais. O direito circunstancial adotado de acordo com o pensamento político, ideológico, religioso e tudo o mais que mora na cachola de alguns juízes.

Cito um caso em especial, ocorrido em novembro de 2016. Assisti ao vivo pela TV Justiça. A partir daí, fiquei muito temeroso do que estava por vir. Eis o caso resumido: ao discutir um habeas corpus, seguindo o voto jabuti de Luís Roberto Barroso, um colegiado do Supremo legalizou o aborto no primeiro trimestre de gravidez. Opa! Isso não existe na lei brasileira.

Não demorou muito tempo e o pleno do Supremo, com o voto favorável e militante do mesmo Barroso, considerou a vaquejada uma prática inconstitucional. Vejam só. Pode-se assassinar um feto legalizando o feito em uma discussão de habeas corpus, mas é inconstitucional machucar o rabo do touro. Ou seja, chegava a era onde o gosto da toga se sobrepunha ao que está na lei. Enfim, eram os eloquentes sinais do porvir. 

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