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Camilo une estilo à caneta como ninguém

2017-12-10 00:00:00


O jeito Camilo de ser parece ter encontrado na política do Ceará o campo fértil para florescer. O estilo conciliador, afável e cordial do governador vem sendo usado como uma de suas mais eficientes armas para tirar opositores de seu caminho. “Tirar” talvez nem seja a palavra mais adequada para a situação.

Camilo Santana não quer apenas potenciais opositores desarmados. Seu objetivo é sempre os atrair para seu palanque, aumentando sua soma política. Chegar-se-á ao ponto em que o que resta de oposição será tão pequeno que não vai lhe oferecer resistência.
É evidente que a camaradagem só funciona porque Camilo detém o poder sobre a máquina. É o governador que distribui verbas e que tem a primazia de assinar acordos, convênios, orçamentos e repasses. Quando se junta esse fator ao bom mocismo e habilidade do chefe do Governo, assiste-se, por exemplo, ao ocorrido na Assembleia.

O Poder Legislativo era uma Casa que, no começo do mandato de Camilo, possuía entre 14 e 16 oposicionistas. Hoje restam apenas quatro parlamentares com apenas meia disposição para se opor ao governador.

Claro que tudo isso fica mais atraente se quem distribui as migalhas no caminho para os gatinhos manhosos o seguirem é um político que se comporta como suprapartidário, não valoriza paixões políticas, não altera a voz e ainda carrega a fama de bom moço.

Dias atrás ouvi o seguinte de um deputado federal: “Ora, quem quer fazer oposição ao Camilo? ”. O nobre parlamentar disse isso ao ser perguntado por qual motivo seu partido, que deveria ser de oposição, está com os dentes bem fincados nas tetas estatais.

UNIÃO PELO CEARÁ VERSÃO 2018


Não faz tempo, Camilo sonhava em formar uma versão da União pelo Ceará. Algo parecido com a grande aliança que o jovem Virgílio Távora conseguiu formar em torno de si no já longínquo ano de 1962. Foi um feito nacional para a época juntar no mesmo palanque os antagonistas nacionais PSD (de Armando Falcão e José Martins Rodrigues) e UDN (Paulo Sarasate e Virgílio Távora).

Camilo Santana não havia nascido em 1962, mas Eudoro Santana, seu pai, era então um jovem engenheiro de 26 anos. Quem ficou contra a União pelo Ceará foi o empresário Carlos Jereissati, que representava aqui o PTB varguista. Mesmo isolado em uma aliança de centro-esquerda, Carlos conseguiu se eleger senador.

Pois é. A sonhada (por Camilo) versão 2018 da União pelo Ceará incluía o senador Tasso Jereissati, filho de Carlos e que, possivelmente, nem tenha boas lembranças de turbulentas e conflituosas épocas. Camilo foi até onde poderia ir. Convenceu seus companheiros de que, sim, era possível. Alguns chegaram a acreditar. Outros mantiveram seu ceticismo.

Um dia, a realidade política mostrou que a aliança que eliminaria qualquer chance de uma disputa com algum equilíbrio não seria possível. É provável que Tasso nunca nem sequer tenha levado a sério a ideia. Muito embora a aproximação entre Camilo e o senador tucano tenha sido algo notório.

PRIMEIRO TASSO. DEPOIS, EUNÍCIO


O principal e primeiro alvo das atenções de Camilo foi o senador Tasso Jereissati. Com a queda de Dilma Rousseff, o governador viu no senador o caminho para ter acesso a ministérios do novo regime que se instalou com o voto e a participação dos tucanos. Camilo estava certo.

Tasso aceitou fazer o papel de bom grado. Por vezes, recebeu Camilo em Brasília e distribuiu telefonemas para abrir algumas portas. Respeitado, o senador não tinha muito dificuldades para tal. Foi a época das trocas de amabilidades entre os dois.

Como foi dito aqui, o estilo do governador é um facilitador. Com Eunício Oliveira, a relação ainda era de distância regulamentar. Importante governista, líder do PMDB, o papel do senador era fundamental para Camilo, mas o ambiente político para ensaiar uma aproximação não era favorável.

No entanto, Eunício chegou à presidência do Senado em hora crucial para Michel Temer, que sofrera meses com as diatribes oportunistas do então presidente Renan Calheiros (PMDB-AL). Assim o senador cearense aumentou exponencialmente a sua influência junto ao Planalto.

Era um poder que, a depender das circunstâncias, serviria tanto para atrapalhar o Governo do Ceará quanto para ajudar, destravar e criar fluxo de recursos. Durante meses, Camilo viu interesses financeiros do Estado sofrerem de paralisia nos gabinetes de Brasília. O que dependia do Senado é que não andava mesmo.

Mais uma vez usando de suas características pessoais, que inclui uma dose bem medida de humildade, Camilo procurou o senador para pedir que pedras fossem retiradas do caminho. Pelo visto, era o sinal que Eunício esperava para se dedicar com afinco à tarefa que lhe fora solicitada.

Desde então, é o que se viu. Até casamento de agendas.

ORDEM DE SERVIÇO EM PALANQUE


As circunstâncias econômicas e sociais do Ceará sempre foram, digamos, ativos para fomentar o governismo. Em terras pobres o poder do estado se sobressai de forma exacerbada. A vontade de fazer oposição murcha diante do sol abrasador. Camilo sabe usar esse ativo como ninguém.

O governador está levando o adesismo alheio a um padrão superior. Atentem para o modelo de ato público que reuniu o governador Camilo, o senador Eunício e uma multidão de políticos lá em Limoeiro do Norte, há alguns dias.

O ato público era apenas para assinar uma Ordem de Serviço. Ou seja, um papel autorizando o início das obras de um hospital. Coisa comezinha, geralmente assinada no cotidiano do gabinete, sem consequência imediata, que nem sequer cria uma obrigação. Sim, é só uma autorização.

No entanto, o que se viu foi uma festa de arromba. Um imenso palanque. Antes, deu-se a tradicional caminhada até o palanque no meio do povo. Abraços, apertos de mãos e selfies. Ou seja, algo similar a um comício. Na verdade, um comício travestido de ato oficial.

O ápice foi a espetacular e pomposa coleta das assinaturas de praticamente todos os políticos presentes no palanque. Do governador, passando pelo senador Eunício e indo até o prefeito da cidade.

O documento assinado era uma versão, digamos, festiva da tradicional ordem de serviço. Sim, afinal, a única assinatura que cabe na OS oficial é a do governador. Porém, via-se ali Camilo traduzindo em ato público o seu estilo pessoal que, em nome do projeto da reeleição, quer ver todos os políticos de todos os matizes em seu palanque de 2018. E vem obtendo sucesso.

Fábio Campos

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