Cadeirante supera falta de acessibilidade para ver o Ceará em Avellaneda

O cearense Juarez de Sousa Carvalho Junior, aposentado, foi a única pessoa em cadeira de rodas a assistir ao jogo Indepediente-ARG x Ceará na arquibancada reservada à torcida visitante em Avellaneda

Se uma viagem de Buenos Aires a Fortaleza, com mais de 6 mil quilômetros de distância e muitas diferenças tem seus desafios a qualquer um, imagine a uma pessoa com deficiência viajando sozinha. O cearense Juarez de Sousa Carvalho Junior, aposentado, foi a única pessoa em cadeira de rodas a assistir ao jogo Indepediente-ARG x Ceará na arquibancada reservada à torcida visitante em Avellaneda.

Em meio ao frio intenso, que surpreendeu muitos torcedores menos preparados para o vento gelado ao longo dos 90 minutos, Juarez se postou perto de uma das saídas do público - local ainda mais frio -, mas vibrou com o Ceará a cada momento do jogo que garantiu a classificação às oitavas de final com campanha perfeita. Viajando sem a companhia de parentes ou amigos, ele contou com ajuda da torcida alvinegra para vencer vários lances de escada, no estádio sem elevador, e para retornar ao hotel após a partida. Voltou feliz da vida com os 2 a 0 contra o Rojo. E ainda seguirá em viagem rumo ao Uruguai. Confira a entrevista de Juarez ao O POVO, feita no intervalo da partida:

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OP - Quais os desafio de sair de Fortaleza, vir a Buenos Aires, sozinho, e chegar ao estádio? Na capital argentina muitos restaurantes têm banheiros no subsolo ou segundo piso, sem elevador, para pessoas com deficiência. Parece haver ainda um longo caminho a se fazer para uma maior acessibilidade.

Juarez - O desafio começa no aeroporto, né? A gente tem alguns aeroportos que ainda não têm acessibilidade completa. E aí a gente fica dependendo das pessoas, de elevador, da boa vontade. Mas aqui em Buenos Aires, por enquanto, eu cheguei anteontem e a acessibilidade das pessoas é relativamente boa, ali pelo Centro. Mas aqui no estádio de Avellaneda deixou a desejar. Não tem elevador, os banheiros muito sujos. Não tem a porta privativa dos deficientes. Eu acharia que Buenos Aires fosse mais acessível nesse sentido.

OP - Viajando sozinho, sem contar com um amigo ou parente, como vencer os desafios da falta de acessibilidade?

Juarez - Eu vim só de lá pra cá. E sempre tô vendo o pessoal com a camisa do Ceará. E quando eles me veem com a camisa do Ceará, todos vêm me ajudar, perguntar se estou precisando de alguma coisa. E hoje foi muito emocionante aqui pra entrar na Avellaneda (Estádio Libertadores de América, do Independiente), porque eu não conseguiria ver o jogo. São muitas escadas! E a torcida do Ceará fez questão de me pegar pelos braços, levar minha cadeira de rodas até aqui em cima. E foi emocionante. Do ônibus até a entrada e depois aqui, seis sete, oito lances de escadas. No transfer em que viemos também, infelizmente, não são ônibus acessíveis, não tem elevador, mas a torcida do Ceará me carregou nos braços e me botou lá dentro do ônibus e estou aqui.

OP - Agora após o jogo, você fica até quando em Buenos Aires?

Juarez - Vou ficar até domingo e estou querendo esticar. Passar uns cinco dias no Uruguai. Pegar o barco pra ir pra Colônia do Sacramento, conhecer Montevidéu, Punta del Este e depois voltar pra Fortaleza e comemorar a vitória do Vozão.

OP - E há quanto tempo você torce Ceará, vai ao estádio?

Juarez - Desde pequeno que meu pai me levava pro Castelão, sete oito, nove anos de idade. Foi paixão de pai pra filho. Também estou passando isso pro meu filho, que não pôde vir. Ficou em Fortaleza estudando pro Enem. Mas, Juan, papai te ama e em outros jogos estaremos aqui vestindo a camisa do Vozão. Foi herança paterna aí. E agora passando pro Juan, que tá com 18 anos. Bora, Vozão!

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