Violência de gênero: ataques a mulheres na política têm natureza diferente de contra homens

O material se preocupa em acessibilizar informações e canais que elucidem sobre a segurança e as garantias de representantes femininas

Homens são alvos de críticas e ataques na política, sobretudo nas redes sociais. Porém, os motivos que os transformam em alvos, assim como a natureza da investida, costuma ser diferente da violência política contra mulheres.

"Enquanto homens sofrem ataques e críticas, são porque os usuários concluem que eles estão ideologicamente errados, ou cometeram algum erro na gestão, são corruptos. Já as mulheres são atacadas em relação a aspectos morais: se são casadas, se têm filhos; se são trans, tem a negação da identidade de gênero”, afirma Fernanda Martins, diretora do centro de pesquisa InternetLab.

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Juntamente com o Redes Cordiais, o InternetLab lançou o "Guia Para o Enfrentamento da Violência Política de Gênero", destinado a mulheres que exerçam ou pretendam exercer um mandato eletivo, mas também para toda a sociedade.

BAIXE AQUI O GUIA PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA POLÍTICA DE GÊNERO

Com apoio do Google e da Embaixada Americana, o manual traz respostas para as dúvidas mais comuns relacionadas ao tema, além dos principais marcos normativos e informações sobre os locais para fazer denúncias. O material fornece informações e canais que elucidem sobre a segurança e as garantias dessas representantes femininas.

Para Fernanda Martins, a iniciativa é importante porque “não basta o reconhecimento legal que o problema existe, é preciso ter o reconhecimento social”.

O guia também responde a perguntas como estas:

- Como identificar se fui alvo de violência política?

- O que faz com que alguns grupos sociais se tornem mais alvo de violência que outros?

- Em caso de ser vítima de violência política, a quem devo recorrer?

- Em quais espaços esse tipo de violência pode vir a ocorrer?

O material foi pensado a partir de uma outra iniciativa do InternetLab, o projeto MonitorA, que acompanhou as eleições municipais de 2020, nas redes sociais (Twitter, Instagram e YouTube), em torno de 175 candidaturas (homens e mulheres) para cargos de vereador, vice-prefeituras e prefeituras. O trabalho será retomado nas eleições gerais de 2022. 

Ainda de acordo com as organizações Terra de Direitos e Justiça Global (2020), os casos de violência política aumentaram no Brasil após as eleições de 2018, passando de 36 registros em 2017 para 136 em 2019. Esses são casos que foram identificados e denunciados. Se considerada a subnotificação, é possível que este cenário se revele ainda mais violento.

Além disso, uma pesquisa inédita do Instituto Alziras (2018) apontou que 53% das prefeitas brasileiras afirmam ter sofrido assédio ou violência política por serem mulheres. Esse número aumenta para 91% quando se trata de mulheres com menos de 30 anos. A situação se estende por todos os municípios e estados, e para todas as funções que envolvam o exercício de direitos políticos (mandatos eletivos, participação em partidos e associações, militância, e manifestações políticas de modo amplo).

Fernanda Martins, no entanto, aguarda com boa expectativa as eleições de 2022, primeiro pleito com uma lei que versa sobre violência política de gênero. Para a diretora do InterLab, a importância da nova legislação está sobretudo no fato de que "o que acontece na internet não é colocado como menos grave". A nova norma inclui no Código Eleitoral o crime de assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo, por qualquer meio.

Situações de violência

A vereadora de Fortaleza Larissa Gaspar (PT) tem as próprias vivências como alvo de violência política contra mulheres. Ela relembra ameaça de morte que sofreu em função da aprovação de uma lei de sua autoria que proibiu o uso de fogos barulhentos na Capital. "Eu sempre me pergunto, se fosse um homem o autor dessa lei, será se esse episódio teria acontecido?"

Ela destaca os avanços que podem ser observados no Ceará, mas pontua que ainda há muito a ser feito. "Hoje nós temos a primeira mulher governadora do Estado do Ceará. Na Câmara Municipal de Fortaleza, a bancada de mulheres, comparada à legislatura passada, aumentou. Eram seis mulheres, agora são nove. Mas, ainda é um percentual muito pequeno." A Câmara Municipal tem 43 vereadores. Apesar disso, ela pontua: "A gente precisa comemorar as pequenas conquistas, mas entender que muito ainda precisa ser feito pra que as mulheres possam ocupar cada vez mais os espaços de poder, os espaços de decisão."

Fernanda Martins ressalta ainda que a violência política não vitimiza apenas essas mulheres, mas, direta ou indiretamente, também pode resultar em consequências trágicas e traumáticas para colegas, funcionários, familiares, amigos e eleitores das vítimas. Nesse sentido, ela destaca que o trabalho de identificar quem são as vítimas de violência política é mais amplo do que se supõe.

Curso para mulheres candidatas

O Instituto Alziras lançou curso gratuito para mulheres negras, indígenas, LGBT+ e outras minorias que forem se candidatar nas eleições deste ano. Intitulada “Candidatas nas Redes”, a formação oferece ferramentas para a construção de estratégias de proteção, defesa e reação ao discurso de ódio, desinformação e fake news. A ideia surgiu a partir de dados apresentados no Censo das Prefeitas Brasileiras de 2022. Segundo a pesquisa, 74% das prefeitas relataram que na campanha de 2020, foram alvo de divulgação de propagação de fake news.

O curso é composto por seis videoaulas, com duração de 6 a 10 minutos. A ideia é que elas sejam lançadas semanalmente. Especialistas integrantes de algumas organizações vão ministrar aulas sobre algoritmos, big data, microtargeting, bots e trolls, por exemplo. As inscrições podem ser feitas através do link: bit.ly/candidatasnasredes

Confira os módulos do curso:

Módulo 1: Eleições e redes sociais: como vai ser esse jogo?
Módulo 2: Discurso de ódio no período eleitoral
Módulo 3: Desinformação e Fake News durante a sua campanha: como identificar e combater
Módulo 4: Dicas de cuidados digitais preventivos
Módulo 5: Como a informação se dissemina na rede durante o período eleitoral
Módulo 6: Preparando sua equipe de campanha para lidar com o jogo sujo

Serviço

Lançamento da websérie "Candidatas nas Redes"
Inscrições: bit.ly/candidatasnasredes

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Tags

violência política de gênero eleições 2022 interlab redes cordiais

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