Quase 60% das mortes maternas em 2021 no Ceará foram em decorrência da Covid-19

A Covid-19 segue, há dois anos desde o início da pandemia, como a maior preocupação atual de mortes maternas em todo o Brasil. Gestantes e puérperas são consideradas como grupo prioritário na vacinação contra o coronavírus

Em 2021, a morte de gestantes e puérperas pela Covid-19 no Ceará supera o índice de outras causas inclusas na Razão de Mortalidade Materna (RMM). Dados elencados até o dia 29 de junho mostram que, no Ceará, 59,7% das mortes dessas mulheres foi pela Covid-19 só neste ano. De 2020 até junho de 2021, um total de 35 óbitos maternos devido à infecção do coronavírus foram registrados pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). 

O índice RMM é derivado do número de gestantes e puérperas mortas - durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação - dividido por 100 mil habitantes. No ano passado, houve crescimento da RMM para 92,8, sendo 23,5% das mortes causadas pela Covid-19. Neste ano, com o crescimento significativo da mortalidade materna, o índice RMM é de 152,9. Os dados são de Nota de Alerta da Sesa, disponível em PDF.

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Os números obtidos através do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e Nascidos Vivos (Sinasc) refletem a Covid como a maior preocupação atual em mortes do grupo em Fortaleza, no Ceará e em todo o Brasil - chegando a superar as outras principais causas de morte elencadas na RMM, como a hipertensão e hemorragia. 

A obstetra Liduína Rocha, assessora técnica da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e consultora na área materno-infantil da Escola de Saúde Pública do Estado, explana sobre o cenário anterior da mortalidade materna antes da Covid-19. "Estávamos em um momento de queda na série histórica, mas em 2020 se aproximou dos 100 RRM. E, este ano, nos aproximando dos 150 RRM. Do ponto de vista da literatura, é um retrocesso", lamenta.

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Ainda em meados de 2020, a obstetra relembra o pouco conhecimento sobre a relação do vírus com o organismo de grávidas e puérperas no início da pandemia. Após mais de um ano de contágio, sob estudos e inclusão do grupo como prioritário na vacinação, comprova-se a preocupação e a prioridade de vaciná-las. "Hoje, sabe-se que tanto a Covid complica a gravidez, com mais chances de hipertensão ou evento trombótico, como a gravidez complica a Covid, devido à maior necessidade de ser internada e ocupar Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs)", pontua.

Dos 35 óbitos maternos por Covid-19 registrados pela Sesa, mais da metade ocorreram durante o puerpério (85,7%). O índice é alto quando comparado com as mortes durante a gestação (11,4%). Tendência foi parecida em 2020: das 32 gestantes mortas pela Covid-19 registradas pela Secretaria, o número também foi maior durante o puerpério (78,1%) do que na gestação (12,5%).

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Segundo Liduína, os números refletem o momento de maior complicação em caso de adoecimento por Covid-19: a proximidade do parto. "Mesmo assim, a vacinação deve acontecer em qualquer uma das fases", reforça. "A pessoa se reconhecendo grávida deve ser vacinada. É muito importante priorizá-las, mas, especialmente, as que estão próximas ao parto".

Vacinação e cuidados

Em nota técnica divulgada no início deste mês, a Sesa recomendou a oferta da segunda dose (D2) da Pfizer para grávidas e puérperas cearenses vacinadas com a primeira dose (D1) da AstraZeneca - suspensa após a morte de uma gestante carioca. Caso a pessoa não deseje concluir o esquema vacinal com a Pfizer, a imunização com a segunda dose da AstraZeneca poderá ser aplicada 45 dias após o parto. Um total de 389 grávidas e puérperas receberam doses da AstraZeneca no Ceará.

"Em meio a uma cobertura vacinal lenta, a vacina só será eficaz quando tivermos grande parte da população vacinada", cita a obstetra Liduína Rocha, referindo-se à imunização coletiva tão desejada por especialistas da saúde.

+ Imunidade Coletiva: por que não basta se vacinar para dispensar a máscara e outros cuidados

Os cuidados para evitar a infecção seguem de forma especial, orienta a especialista. "Tivemos uma queda significativa do pré-natal, mas as gestantes devem continuar a fazer as consultas", relembra. Elas também devem priorizar o uso de máscaras PFF2 ou N95 - as mais seguras do mercado atual -, independentemente de terem completado o esquema vacinal ou não.

"Dentro do cenário nacional, o Ceará tem conseguido lidar bem com a vacinação das gestantes. Inclusive, foi um dos primeiros a compreender que gestantes que tomaram a AstraZeneca devem ter um esquema vacinal diferente. É preciso que outros estados também o façam e pressionem o Ministério da Saúde", conversa.

Dados do Vacinômetro consolidados às 17 horas desse domingo, 11, mostram que de um total de 83.738 primeiras doses distribuídas a gestantes e puérperas no Ceará, 44.926 foram aplicadas (78% da cobertura vacinal*). Entretanto, apenas 4.702 receberam a segunda dose (8% da cobertura vacinal). Para D2, foram distribuídas ao grupo de gestantes e puérperas 7.110 doses. 

*A taxa de cobertura vacinal se refere ao número de vacinas aplicadas com relação à meta populacional do respectivo grupo. Conforme o Vacinômetro, a meta estimada para gestantes e puérperas é de 57.501 pessoas.

 

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