Lockdown no Cariri tem lojas a meia porta, ambulantes e ruas movimentadas

O POVO percorreu os principais pontos comerciais das duas maiores cidades da Região do Cariri e flagrou inúmeros episódios de descumprimento ao decreto estadual

No encerramento da quarta semana consecutiva de lockdown, em Juazeiro do Norte, a maioria das lojas do comércio não essencial ignorou as restrições e funcionou normalmente nesta sexta-feira, 9, que pode ter sido o último dia útil do decreto que estabelece isolamento social rígido no Ceará. O dovernador Camilo Santana (PT) sinalizou que deve autorizar a reabertura gradual das atividades econômicas a partir da próxima segunda-feira, 12, um mês após o início das medidas mais restritivas em todo o território estadual.

No maior centro de comércio popular do interior cearense, a Rua São Pedro, O POVO flagrou vários estabelecimentos atendendo clientes de forma presencial, como se não houvesse lockdown. Para escapar da fiscalização e despistar as autoridades, a maioria das lojas funciona a meia porta e com funcionários organizando rodízio de atendimentos na entrada dos locais. Lanchonetes, perfumarias, lojas de confecções, de artigos religiosos e gráficas foram alguns dos estabelecimentos que descumpriram o decreto.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

O comércio ambulante também não parou. Nas adjacências da Praça Padre Cícero, onde o movimento de pessoas era intenso, foi possível encontrar de vendedores de frutas a engraxates. Um deles era Cícero Gomes, 48, sentado na calçada de uma loja com uma caixa de isopor abastecida de picolés e um mini mostruário preenchido com máscaras. O comerciante disse estar ciente da proibição ao seu trabalho, mas justificou não ter outra alternativa para garantir o sustento de sua família.

Ambulante Cícero Gomes passa álcool em gel nas mãos enquanto trabalha normalmente no centro de Juazeiro do Norte nesta sexta-feira, 9
Ambulante Cícero Gomes passa álcool em gel nas mãos enquanto trabalha normalmente no centro de Juazeiro do Norte nesta sexta-feira, 9 (Foto: Luciano Cesário/O POVO)

“Eu sei que estou errado, mas venho (trabalhar) porque senão não tenho como comprar o arroz, e o feijão no fim do dia”, afirmou. Cícero revelou ainda que em quase um mês de lockdown, deixou de ir ao centro da cidade para vender seus produtos apenas na primeira semana. “Quando a coisa apertou, eu resolvi voltar. Tava faltando comida em casa e eu só vou receber o auxílio (emergencial) no dia 20”, disse, acrescentando que o faturamento com as vendas caiu drasticamente na comparação com o período pré-isolamento rígido. “Antes eu apurava pelo menos R$ 90 por dia. Hoje, nos melhores dias, faturo de R$15 a R$20”, lamenta.

Fiscalização

Mesmo diante dos flagrantes de descumprimento do lockdown, a Secretaria de Meio Ambiente e Serviços Públicos (Semasp) de Juazeiro do Norte assegura, por meio de nota, que “ocorrem fiscalizações diariamente em todos os locais da cidade”. Conforme a pasta, os agentes de fiscalização, em conjunto com a Vigilância Sanitária, Departamento Municipal de Trânsito, Guarda Civil Metropolitana e Polícia Militar, realizam rondas todos os fins de tarde em pontos estratégicos do Município.

Ainda de acordo com a Semasp, desde o início do isolamento rígido, a fiscalização já efetuou ao menos 45 notificações, 4 autuações e 13 interdições por desrespeito ao Decreto.

Crato

Centro comercial do Crato com pouco espaço para estacionar nesta sexta, 9 de abril
Centro comercial do Crato com pouco espaço para estacionar nesta sexta, 9 de abril (Foto: Luciano Cesário/O POVO)

Na segunda maior cidade da região do Cariri, a sexta-feira também teve lojas abertas (a meia porta e integralmente) e movimentação intensa no centro comercial. Na Rua Bárbara de Alencar, que concentra grande quantidade de lojas de confecções, calçados e eletrônicos, praticamente não havia espaço para estacionar nos dois lados da via.

Assim como em Juazeiro, os estabelecimentos realizavam atendimentos com portas entreabertas e rodízio de clientes, com pelo menos duas pessoas entrando por vez.

“Se não for assim, como é que a gente vai ganhar dinheiro?”, questionou uma lojista, visivelmente irritada, ao ser questionada pelo O POVO sobre o descumprimento às restrições. “Eu não estou roubando, estou trabalhando”, completou.

Apesar dos flagrantes de desrespeito ao isolamento rígido no centro comercial, a movimentação na Praça da Sé, um dos pontos de lazer mais procurados pelos cratenses, permaneceu baixa ao longo da tarde. O local, em dias normais, atrai grande quantidade de frequentadores, principalmente idosos.

Procurada, a Prefeitura do Crato afirma que vem realizando fiscalização diariamente no comércio da cidade para garantir o cumprimento do decreto de lockdown. A gestão, no entanto, não respondeu se já houve autuações ou interdições por desrespeito às restrições.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Lockdown Ceará; comércio fechado ; pandemia Covid-19

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar