O que se sabe sobre a variante da Covid-19 que chegou ao Ceará

Intensificação das medidas de sanitárias e de distanciamento, bem como evitar a circulação de pessoas e ampliar a vacinação estão entre recomendações dos especialistas

Constantes mutações do Sars-CoV-2, causador da Covid-19, vem provocando apreensão ao redor do mundo. Desde o início da pandemia, cientistas já identificaram cerca de 800 variantes do novo coronavírus. O receio surge quando uma variante toma proporções de transmissão significativas, como ocorreu com as novas versões identificadas no Reino Unido, na África do Sul, e, agora, no Brasil.

Ainda que a compreensão sobre o comportamento do vírus não seja completa, a rapidez na disseminação é uma das características das novas variantes. Diante disso, emergem questões sobre maiores riscos para os humanos, sobre quais cuidados tomar e até sobre a eficácia das vacinas.

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A seguir, O POVO reuniu os principais pontos a fim de entender a variante que chegou ao Ceará:

O que é a variante de um vírus?

As mutações fazem parte da evolução natural das epidemias virais e acontecem principalmente nos vírus de RNA, como os coronavírus. Os vírus invadem as células para poder se multiplicar no organismo e, durante o processo de cópia, podem ocorrer erros que alteram o código genético. Os resultados dessas mutações são imprevisíveis: os vírus podem tanto se fortalecer e sobreviver melhor, quanto se enfraquecer. Quando há uma quantidade significativa de mutações, surgem as variantes, ou seja, grupos de microrganismos da mesma espécie mas com características genéticas distintas.

Por que mais mutações têm sido descobertas?

A principal explicação é a alta circulação do Sars-CoV-2 devido à falta de medidas de contenção, como distanciamento social, uso de máscara e falta de higiene. Quanto mais pessoas infectadas, mais vírus e maior a probabilidade de ele sofrer alterações.

Por que as variantes encontradas recentemente no Brasil, no Reino Unido e na África do Sul causam tanta preocupação?

Porque elas compartilham três mutações preocupantes (K417N, E484K, N501Y). Essas alterações afetam o chamado RDB, o ponto em que o Sars-CoV-2 se liga às células humanas. Trata-se da região mais crítica da proteína Spike, a qual é alvo da maioria das vacinas e dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo sistema imunológico. Outra questão é que variantes apresentam uma maior capacidade em se disseminar, contaminando mais pessoas em menor tempo.

Afinal, o que é essa variante?

Pertencente à linhagem B.1.1.28, a variante P1 é justamente de uma nova composição do Sars-Cov-2 após mutações naturais em determinadas partes de seu código genético. A P1 surgiu no final de 2020 em Manaus e é apontada como uma das possíveis causas de reinfecção por Covid-19 no Amazonas. Ela foi classificada pela Organização Mundial de Saúde como uma Variante de Preocupação (VOC, do inglês Variant of Concern), designação dada a variantes com múltiplas mutações.

"Além de ter uma quantidade significativa de mutações na proteína S. Ela tende a aumentar a transmissibilidade e também pode enganar o sistema imunológico humano mais facilmente, podendo causar reinfecções e infecções em pessoas vacinadas", explica Fábio Miyajima, pesquisador da Fiocruz Ceará que integra a Rede Genômica Fiocruz. "Ao mesmo tempo, isso não significa que ela pode ser mais fatal ou causar casos mais graves", aponta, indicando aspectos da variante que ainda estão sendo estudados.

A variante muda a capacidade de imunização por meio das vacinas?

Pesquisas ainda estão sendo feitas para determinar se haverá impacto nas vacinas que estão sendo desenvolvidas e usadas de forma emergencial nos países. Muitos cientistas acreditam que as mutações não devem interferir na eficácia, porque os imunizantes estimulam sistema imune a produzir uma variedade de anticorpos, o que torna difícil para o vírus escapar do sistema de defesa do organismo. 

Um estudo publicado na revista científica "Nature Medicine" nessa segunda-feira, 8, aponta que a vacina desenvolvida pelas empresas Pfizer e BioNTech contra a Covid-19 conseguiu neutralizar, em laboratório, três variantes do coronavírus. As variantes testadas aparecem na África do Sul e no Reino Unido e têm mutações que ocorrem na P1.

Outro ponto é que o Sars-CoV-2 é relativamente estável e sofre menos mutações do que o vírus causador da gripe, por exemplo, cujas alterações frequentes fazem com que as vacinas tenham que ser “atualizadas” e haja campanha de vacinação todos os anos.

Algo muda nos cuidados que devem ser tomados no dia a dia?

Os cuidados cotidianos já preconizados devem ser mantidos e intensificados. Sair de casa somente quando necessário, sempre utilizar máscaras e equipamentos de proteção individual, respeitar distanciamento físico, manter os ambientes arejados. "O vírus continua se transmitindo pelo ar. Só tem um jeito, o caminho é a prevenção: usar máscara, evitar aglomeração, lavar as mãos ou utilizar álcool em gel e vacinar", afirma Ivo Castelo Branco, infectologista e coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará.

O que as autoridades devem fazer?

"Uma recomendação bastante importante é limitar a circulação de pessoas. Não é proibir as pessoas de saírem completamente, mas é diminuir o fluxo a fim de retardar o espalhamento dessa nova variante", expõe Christovam Barcelos, sanitarista especializado em saúde pública e integrante do Observatório Covid da Fiocruz. "Outra coisa necessária é a vigilância em saúde, especialmente a vigilância genômica, para ver qual é o tipo de vírus que está em circulação", completa. Barcelos enfatiza ainda a necessidade de ampliar a vacinação também para frear a disseminação do coronavírus.

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