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Óbitos por doenças cardiovasculares aumentam em 2020 e podem ter relação com Covid-19

Assim como outras viroses, a Covid-19 pode prejudicar o sistema cardiovascular e desencadear miocardites, AVCs e infartos
12:01 | Nov. 12, 2020
Autor Catalina Leite
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Catalina Leite Repórter do OP+
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Tipo Notícia

Já notou que o ano de 2020 parece ter mais casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC) sendo noticiados? De acordo com dados do Registro Civil, os óbitos por doenças cardiovasculares aumentaram no Brasil em comparação a 2019 - e a causa disso pode estar relacionada com a pandemia. Foram 8.336 AVCs em março de 2020, contra 8.095 em 2019.

Voltando no tempo, quando o Brasil enfrentou a epidemia de H1N1, os óbitos por doenças cardiovasculares também cresceram. Isso acontece porque existe uma relação direta entre infecções virais e uma reação inflamatória do sistema cardiovascular. “Essa reação inflamatória libera substâncias que podem ocasionar uma inflamação no músculo do coração”, explica Isabela Takakura, cardiologista do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) e professora de Medicina na Universidade de Fortaleza (Unifor).

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O mesmo tem sido observado com a Covid-19: um estudo publicado na revista científica Nature, em julho de 2020, concluiu que a Covid-19 “pode causar distúrbios cardiovasculares, incluindo lesão miocárdica, arritmias, síndrome coronariana aguda e tromboembolismo venoso”. Também apontou que a presença de comorbidades cardiovasculares em pacientes infectados pelo novo coronavírus está associada à alta mortalidade.

Ainda, análises de 44.672 casos confirmados em Wuhan, na China, evidenciaram a frequência de algumas complicações cardiovasculares. Segundo os estudos, 10% dos casos desenvolveram miocardite (inflamação), 20% injúria miocárdica (lesão cardíaca), 16% arritmias e 5% insuficiência cardíaca e choque.

AVC e causas inespecíficas crescem, infartos caem

Quando a pandemia “chegou” ao Brasil, aproximadamente em março de 2020, os óbitos por AVC e causas cardiovasculares inespecíficas (CCI) já tinham aumentado. Foram 8336 AVCs em março de 2020, contra 8.095 em 2019. Em relação às CCIs, foram 6.492 em 2020, contra 5.544 em 2019.

Em abril de 2020, as CCIs causaram 2.107 mortes a mais que o mesmo mês no ano passado. Em maio, a diferença fica mais expressiva, com 2.842 óbitos a mais que em 2019. Nesses meses, os AVCs não aumentaram tanto, mas continuaram à frente do ano anterior.

Março, abril e maio foram os meses mais duros da pandemia no Brasil. No Ceará, representaram o início das medidas de isolamento social e também a implementação do lockdown em Fortaleza. O aumento de óbitos por doenças cardiovasculares no Estado reflete a mesma realidade brasileira.

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Por outro lado, os óbitos por infarto caíram em comparação a 2019. A situação paradoxal - afinal, o infarto é uma das principais causas de mortes no mundo - também pode ter resposta na pandemia, afirma a cardiologista Isabela. “Muitos pacientes, desse corpo [amostral] todo aí, podem ter um infarto que ninguém diagnosticou. Na época do nosso isolamento, a gente teve uma queda absurda de infartos chegando na emergência. É muito provável que, com o isolamento, esses pacientes ficaram em casa”, analisa.

Essa baixa procura pode ter provocado uma queda nas notificações e mais óbitos constando como causa desconhecida, comenta a profissional.

Não diagnosticado como Covid-19

 

Se os óbitos por doenças cardiovasculares podem ter relação com a Covid-19, então porque não registrar o óbito no nome do coronavírus? Uma possibilidade, exemplifica Isabela, é que muitas pessoas tenham passado por uma infecção leve da Covid-19, se recuperaram, e “um mês depois tiveram AVC”.

“A gente tem vários relatos na literatura de pacientes jovens, que não tinham outros fatores de risco para desenvolver um AVC, somente a infecção prévia por Covid-19, e acabaram tendo um AVC extenso, que muitas vezes ia para óbito”, menciona. Dessa forma, as doenças cardiovasculares podem ocorrer como sequelas da infecção.

Além disso, é preciso considerar pacientes que não sabiam que foram infectados pela Covid-19. Ou seja, aqueles que apresentaram sintomas gripais tão leves que não fizeram testes para Sars-Cov-2 e, meses depois, morreram por AVC, CCI ou infarto.

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