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Impacto psicológico: mulheres se cobram mais na pandemia

Psicóloga explica que é de extrema importância que se entenda os sentimentos causados pelo confinamento para lidar melhor com a pressão desse período de quarentena

A pandemia causada pelo novo coronavírus mudou o dia a dia de todo mundo e as pessoas tiveram de se adaptar à nova rotina por conta da propagação da doença. Mulheres que já trabalhavam e eram mães, ao lidar com o isolamento social e o home office, acabaram por acumular mais tarefas, junto vieram ainda consequências físicas e psicológicas.

Este foi o caso de Karina Gomes. A sócia-diretora da empresa de marketing digital Conex Design teve que migrar seus deveres profissionais do escritório para o lar nesse período de pandemia. Segundo ela, ter que lidar com trabalho, filha de 1 ano e 3 meses e casa no mesmo espaço físico e ao mesmo tempo acabou por causar autocobranças em diversos âmbitos.

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“Sinto que estou me cobrando mais, como mãe principalmente, porque antes da pandemia eu tinha prometido que só a deixaria ver TV após os dois anos de idade. Tive que adiantar esse processo por conta da pandemia para conseguir fazer os deveres de casa, pois não tinha como proporcionar passeios, por exemplo, nem tinha tempo para ficar estimulando a pintura, ler para ela o tempo todo. Me cobro pela educação dela não estar sendo como eu queria, mas sei que nada vai ser como a gente planejou e está tudo bem. Como profissional me cobro de estar dando conta dos meus clientes”, desabafa.

Psicóloga da rede Hapvida, Ivana Teles explica que é de extrema importância que se entenda os sentimentos causados pelo confinamento e pelo acúmulo de tarefas e se encontre formas de controlar os sentimentos e emoções. “(Sentimentos), quando em excesso, podem trazer prejuízos para nós e podem afetar nossas relações, já que é comum surgir a fácil irritabilidade, por exemplo. Na relação com os pequenos podem surgir mais situações conflituosas”, relata a profissional.

20.07.16. Karina Gomes, trabalha de home office. (Foto Deisa Garcêz/Especial para O Povo)
20.07.16. Karina Gomes, trabalha de home office. (Foto Deisa Garcêz/Especial para O Povo) (Foto: Deisa Garcêz/Especial para O Povo)

Em sua nova rotina de pandemia, Karina contou que vivenciou bem esses prejuízos causados pelos sentimentos. “Com o isolamento social e a pandemia, senti que fiquei mais ansiosa, mesmo indiretamente, pois não poderia parar e tinha que dar conta do trabalho e da minha filha. Senti essa crise de ansiedade mais interna e acabei descontando isso na alimentação. Notei que ganhei peso nessa pandemia e isso começou a me fazer mal na autoestima e na saúde. Como mãe, tento conter a angústia porque acho que nós mães temos que estar fortes o tempo inteiro, fico me cobrando essa força.”

A psicóloga clínica Letícia Clemente acredita que psicoterapia pode ser chave para fazer com que os sentimentos de culpa não acabem por rodear as mulheres chefes de casa e mães. “É importante que, para o controle dessas emoções, compreenda-se o ponto inicial que desestabiliza o sujeito. Esse autoconhecimento é conquistado em psicoterapia e acredito ser fundamental para mães e mulheres que se cobram tanto. Esse autocuidado acontece para que esses problemas não evoluam para algo pior.”

Organização e autocuidado como chave para uma quarentena menos pesada

 

Além da psicoterapia, há outras dicas de atividades dadas pelas psicólogas Ivana Telles e Letícia Clemente para diminuir os impactos negativos da quarentena na vida de profissionais que são mães.

Uma das grandes barreiras que muitas mulheres relatam é a quantidade de atividades que elas precisam fazer dentro de 24 horas. Letícia aponta que organizar tais tarefas e horários pode ser a chave para que haja tempo para outras atividades. “Uma agenda ou qualquer papel em branco ajudam na organização das tarefas e ideias. Num planejamento, disponha de horários para fazer algo que gosta”, indicou a profissional.

“Dividir tarefas ajuda bastante para que as pessoas não se mantenham sobrecarregadas”, aponta ainda Letícia. Ivana complementa que é importante permitir que o outro seja incluído na lista de deveres a fazer. “É importante realmente permitir que o outro realize a atividade estabelecida, sem usar argumentos que serão fonte de auto sabotagem, como argumentar que os demais integrantes não sabem fazer, retomando a responsabilidade da atividade distribuída. Se os integrantes da casa tiveram dificuldade é válido ensinar e permitir que eles aprendam e cumpram com as atividades colocadas. Para quem mora só com os filhos também é válido pedir ajuda.”

Outra maneira de dar leveza para a rotina pesada é realizar momentos de lazer em família, aponta a psicóloga clínica. “Cuidar de si pode acontecer ao mesmo tempo que você cuida das crianças. Sabe aquele filme que você ama e ainda não assistiu? Reserve um horário para vê-lo com a família. Além de ser agradável para você, será fonte de fortalecimento de vínculos na sua casa. Brincadeiras também são uma boa pedida.”

Para além das atividades em grupo, ambas as psicólogas também receitam o autocuidado. “Os momentos de lazer e relaxamento precisam ser escolhidos de acordo com o que faz sentido para cada pessoa, ou seja, não adianta adotar o lazer do outro se ela não gosta. Esse é bom momento para entender o que faz bem para si e até fazer um resgate do que era prazeroso no passado, mas que foi deixado de lado. Em relação ao autocuidado trata-se de cuidar de si, até porque para estar bem com o outro, precisamos primeiro estar bem com nós mesmos”, relembra Ivana.

Aos parceiros e familiares

 

Para quem está ao lado de profissionais e mães em quarentena, a receita dada contém três componentes: ficar atento aos sinais, ajudar e conversar. “Divida as responsabilidades da casa e dos filhos, esteja atento aos possíveis sinais que indicam sobrecarga, alguns deles são: cansaço contínuo, apatia, desmotivação, distanciamento afetivo, fácil irritabilidade, choro fácil, insônia, alteração de apetite, ansiedade, angústia. A partir daí dialogue, ofereça uma escuta acolhedora e sem julgamentos, para entender o que está acontecendo e como pode contribuir para ajudar essa pessoa. Em casos mais intensos auxiliar conduzindo ao suporte especializado, nesse contexto psicoterapia e, dependendo do caso, psiquiatra”, aponta a psicóloga da Hapvida.

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