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Profissionais do Samu reivindicam equiparação salarial de plantões com unidades de saúde para Covid-19

Segundo profissionais ouvidos pelo O POVO, a categoria está sem reajuste desde 2014. Secretaria da Saúde do Estado argumenta que equiparação está em processo final de liberação e será paga para profissionais que atenderem ocorrências de pacientes com coronavíris
22:02 | Mai. 29, 2020
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia

Profissionais de saúde que trabalham no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no Ceará relatam que ainda não receberam equiparação salarial às unidades de atendimento a Covid-19, mesmo mais de dois meses após o início do decreto de emergência em Saúde no Estado. São esses profissionais que precisam resgatar pacientes de síndromes respiratórias que podem vir ou não a se confirmar Covid-19.

Há cerca de duas semanas, o técnico de enfermagem Salomão Rodrigues da Silva morreu com a doença. Também há registro de profissionais do Samu internados em estado grave ou em recuperação por infecção pelo novo coronavírus. Além disso, segundo profissionais ouvidos pelo O POVO, a categoria está sem reajuste desde 2014.

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"A gente está correndo risco maior que nos hospitais (por resgatar em domicílio e realizar transferências no Interior, com ocorrências que duram de sete a 12 horas na estrada). Perdemos colegas, inclusive", conta uma fonte que, assim como os outros profissionais ouvidos pelo O POVO, terá identidade preservada. "Um colega médico está internado, em estado grave e entubado. Não fomos ofertados nem a insalubridade de 40%".

De acordo com os profissionais, a equiparação foi reivindicada e chegou a ser informada pela gestão do Samu que seria realizada. O POVO apurou que a direção-geral chegou a disseminar a seguinte nota de forma interna: "A Direção Geral do Samu CE informa que a gestão da Sesa (Secretaria da Saúde do Ceará) autorizou a equiparação do valor dos plantões do Samu CE com os hospitais que atendem Covid-19".

O POVO também teve acesso a vídeo gravado pelo presidente da Cooperativa de Atendimento Pré-Hospitalar (Coaph), Newton Lacerda, em que ele comemora a "conquista do aumento" do valor, que teria sido articulado entre Samu, Coaph e a Sesa. "Nós iniciamos as negociações há cerca de três semanas e graças a Deus culminou nessa excelente notícia", disse no vídeo.

Na manhã desta sexta-feira, 29, ofício chegou a ser enviado pelo Coaph à Sesa reivindicando "aumento nos valores contratuais por conta da pandemia da Covid-19". O documento expressa que o "pleito foi parcialmente acatado, segundo informações da direção do Samu Ceará" e questiona o fato de nenhuma confirmação oficial ter chegado após o período. O POVO tentou contato com o presidente da Coaph diversas vezes por telefone, durante esta sexta-feira, mas sem sucesso.

Uma das informações recebidas pelos profissionais é que o valor só seria concedido a quem registrasse ocorrência de paciente confirmado para Covid-19, embora o diagnóstico seja sempre posterior ao atendimento inicial.

"A gente tem se deparado com diversos pacientes apresentando sintomas de síndrome gripal. Não há como, no momento de atendimento de urgência, fazer a correta aferição se o paciente está ou não infectado pela Covid-19", diz outro profissional. "As atuais condições que estão sendo postas para que os profissionais tenham direito ao aumento são impraticáveis, impossíveis de serem respeitadas diante das características do serviço no dia a dia. É preocupante", complementa.

"A Sesa nos trata como os últimos da fila de prioridade, mas somos os primeiros na hora de solicitar ocorrência. Ao Samu Ceará não querem dar nenhum tipo de indenização, salubridade, correndo risco de adoecer", declara outra fonte ouvida pelo O POVO. "Alguns colegas estão adoecendo e os que estão saudáveis não têm estímulo financeiro nenhum para tapar o buraco".

Sesa responde

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informa que está regular o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) no SAMU 192 Ceará, de gestão da Sesa, para os profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento à pandemia da Covid-19. São 368 profissionais entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e socorristas que atendem por turno. Atualmente, há 56 afastados por suspeita e/ou confirmação de Covid-19. Destes, um óbito de um profissional técnico de enfermagem do SAMU 192 Ceará.

A Sesa esclarece que o acréscimo no pagamento salarial se aplica aos profissionais que atendem ocorrências de pacientes com Covid-19, de acordo com a confirmação do chamado registrado pelo médico que regula. O mesmo que ocorre para quem trabalha em unidade hospitalar, na linha de frente da Covid-19, também será para os profissionais do SAMU 192 Ceará. O processo de autorização da liberação dessa medida está em fase final.

A Secretaria da Saúde também disponibiliza auxílio para os profissionais que atuam na rede estadual, autônomos ou cooperados, incluindo os do SAMU 192 Ceará, que tenham sido infectados por Covid-19 e afastados do trabalho por até 30 dias. O pagamento, repassado pelo Fundo Estadual de Saúde (Fundes), criado pelo Governo do Ceará, é referente a um salário mínimo para técnico de enfermagem e profissional de nível médio; três salários mínimos para profissionais de nível superior (não médico) e quatro salários mínimos para médico. Se o período de afastamento for inferior a 30 dias, o pagamento do auxílio será proporcional aos dias em que o profissional esteve ausente do trabalho. Em caso de morte por Covid-19, serão pagos 10 salários mínimos à família, cônjuge, dependentes ou pais do profissional.

Neste ano, o SAMU 192 Ceará já realizou mais 18,1 mil atendimentos, de diferentes tipos de chamados como clínico, trauma, pediatria etc. Atualmente, o serviço tem cobertura em 178 dos 184 municípios do Estado. Ao todo, 102 municípios cearenses contam com bases para atender a população. Só neste ano, já foram entregues 41.

 

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