Entenda o processo de desenvolvimento de remédios no Brasil

Pesquisas na área de farmacologia costumam demorar 20 anos ou mais; durante pandemia, pesquisadores optam por testar substâncias já conhecidas para "acelerar" estudos

Pesquisadores do mundo todo estão focados em estudar o Sars-Cov-2 e encontrar meios de tratar a Covid-19. Por semana, diversos projetos são aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para aprofundar ainda mais as investigações sobre o vírus, principalmente no que tange encontrar medicamentos eficazes.

Entretanto, desenvolver um medicamento do zero leva no mínimo 20 anos. É o que afirmam os especialistas Thyago Queiroz, doutor em Farmacologia, e Tiago Sampaio, professor-doutor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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O processo de desenvolvimento de remédios é dividido em duas principais etapas: os estudos pré-clínicos e os estudos clínicos. No pré-clínico, o primeiro procedimento a ser realizado é analisar uma nova molécula em laboratório. A isso se dá o nome de análise in vitro.

No in vitro, o ambiente é controlado e os pesquisadores estão focados em entender como aquela molécula, que pode vir a ser princípio ativo do remédio, reage. Para estudos relacionados ao Sars-Cov-2, investiga-se a atividade antiviral da substância e se ela é capaz de matar o vírus.

Passado esse procedimento, é a vez de testar a molécula em animais. No Brasil, os testes em animais são normatizados pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Só após os testes em animais é que se iniciam os estudos clínicos, dessa vez com humanos.

Nessa etapa, os fármacos devem ser testados tanto em homens e mulheres acometidos pela doença, quanto em saudáveis. A partir daí, serão avaliados os efeitos colaterais e eficiência da substância dentro de um organismo complexo. É muito comum que os resultados a partir de então sejam bem diferentes dos observados in vitro.

Isso porque as células analisadas em laboratório não precisam agir contra as reações dos sistemas orgânicos humanos. “Quando você vai para um organismo vivo, você tem vários sistemas atuando. O processo de metabolismo, de absorção dessa droga, o processo de excreção… Todas essas partes vão entrar em cena. E aí o efeito dessa nova substância pode ser totalmente diferente no organismo vivo”, comenta o doutor Thyago Queiroz.

Durante a pandemia, a estratégia é usar substâncias já estudadas

O mundo não pode esperar 20 anos para começar a tratar a Covid-19. Por isso, pesquisadores optaram por investigar uma alternativa em medicamentos que já foram analisados in vitro e já têm algumas propriedades compreendidas. É o que tem sido feito com substâncias como a cloroquina e hidroxicloroquina, além da nitazoxanida. 

“Como a cloroquina, por exemplo, já está no mercado, fica mais fácil e rápido. Mas a gente tem que ter muito cuidado quando falamos sobre isso porque não vai ter um medicamento milagroso”, explica Queiroz. Apesar de as substâncias já serem aprovadas para o uso em alguns tratamentos, elas precisam passar por novas testagens voltadas à Covid-19.

“Já foi verificado em um estudo do Amazonas que a dose elevada [da cloroquina] possivelmente causa outros efeitos, como arritmias cardíacas. Talvez seja uma dose mais baixa. Também vai depender em que estágio [de gravidade] seria o mais adequado para o tratamento”, conclui.

Segundo Tiago Sampaio, a expectativa é de que os resultados de pesquisas com drogas já conhecidas comecem a ser divulgados nos próximos quatro meses. “Todas essas estratégias são para que se ganhe tempo para o desenvolvimento da vacina. São todos esforços de controle”, analisa o professor da UFC.

O que vem primeiro, a vacina ou o medicamento?

O que a população pode esperar é que, até o final do ano, os pesquisadores já tenham descrito e testado uma vacina para a Covid-19. Até lá, a missão da farmacologia será trabalhar em possibilidades de tratamento que permitam controlar a pandemia.

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“A principal e mais eficaz estratégia para se ganhar tempo para o desenvolvimento da vacina é o isolamento social”, reforça Sampaio. No Ceará, o governador Camilo Santana prorrogou a quarentena para serviços não essenciais até dia 5 de maio.


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