Áudio expõe suposto esquema clandestino no Morumbis e afasta dirigentes do São Paulo
Gravação revela conversas sobre venda irregular de ingressos, envolve nomes ligados à cúpula do clube e provoca pedido de licença e investigação
09:44 | Dez. 15, 2025
Uma gravação obtida pelo Globo Esporte colocou o São Paulo no centro de uma grave denúncia envolvendo a exploração irregular de camarotes do Morumbis durante grandes shows. O áudio aponta para um esquema de comercialização clandestina do espaço 3A, identificado internamente como “sala presidência”.
Além disso, cita diretamente Douglas Schwartzmann, diretor adjunto das categorias de base, e Mara Casares, diretora feminina, cultural e de eventos do clube, além de ex-esposa do presidente Julio Casares.
Na manhã desta segunda-feira, 15, após a repercussão do conteúdo, Douglas e Mara solicitaram licença de seus cargos. Em nota oficial, o São Paulo informou que “realizará a devida apuração dos fatos”. Além disso, o clube diz que a partir das conclusões, adotará “as medidas que se mostrarem necessárias”.
Esquema de camarotes dentro do São Paulo
No áudio, Douglas admite que houve ganho financeiro com a prática e afirma que o camarote acabou sendo repassado a terceiros para exploração comercial em eventos, especificamente no show da cantora Shakira, realizado em fevereiro deste ano.
Segundo ele, o espaço estava concedido a Mara pelo superintendente Marcio Carlomagno, considerado um dos principais nomes da situação política do clube visando a eleição de 2026.
A conversa envolve ainda Rita de Cássia Adriana Prado, intermediária citada como responsável pela venda dos ingressos. Os bilhetes do camarote 3A chegaram a estarem sendo vendidos por até R$ 2,1 mil. Aliás, apenas esse espaço teria gerado um faturamento aproximado de R$ 132 mil.
O problema se agravou quando Adriana ingressou com uma ação judicial após alegar ter recebido apenas parte do valor combinado pela venda dos ingressos.
O caso ganhou contornos ainda mais delicados quando Adriana registrou um boletim de ocorrência e levou a disputa à Justiça. A partir daí, segundo o áudio, Douglas e Mara passaram a pressioná-la para retirar o processo, temendo que o esquema viesse a público.
Em um dos trechos mais contundentes, o dirigente questiona diretamente a intermediária.
“Você nunca soube que aquilo era feito de forma clandestina? A palavra é essa. Ou você não sabia? Você sabia ou não?”, diz Douglas, em áudio.
Em outro momento, Douglas reforça a irregularidade da prática e demonstra preocupação com as consequências internas.
“Nós três sabemos como foi feito. Você não é boba, nem eu nem ninguém. Isso foi feito de forma indevida. De forma não normal. Não é normal. Era um favor. E você está gastando um favor, queimando as pessoas que te ajudaram”, completa o ex-diretor.
Possível candidato à presidência na berlinda
Ao longo da ligação, o diretor adjunto cita repetidamente o nome de Marcio Carlomagno, afirmando que o superintendente tinha conhecimento do que acontecia e alertando para o risco de demissão.
“E o Marcio vai ser mandado embora, porque foi ele quem concedeu o camarote para ela (Mara). Eu não tenho nada com isso, não tenho meu nome em nada”.
Douglas também admite que todos os envolvidos lucraram com o repasse do espaço.
“Então, teve negócio que você ganhou dinheiro, eu ganhei, todo mundo ganhou. Mas tudo está sendo feito na confiança”.
Mara Casares, por sua vez, demonstra forte preocupação com os impactos do caso em sua imagem e em seus planos futuros dentro do clube. Em tom de apelo, pede ajuda para que o processo esteja sendo encerrado.
“Eu estou percorrendo dentro do São Paulo um caminho profissional de futuro para assumir coisas grandes. E eu vou estar sendo prejudicada”, diz Mara.
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O que diz o São Paulo
Contudo, apesar da gravidade das acusações, até o momento não há citação formal dos dirigentes nos autos judiciais. O São Paulo, aliás, confirmou que o camarote 3A pertence ao clube e que, no dia do show da Shakira, estava reservado à diretoria feminina, cultural e de eventos.
Em nova manifestação após a publicação da reportagem, o Tricolor afirmou que desconhecia o áudio e negou a existência de um esquema ilegal.
O Estatuto Social do São Paulo prevê punições que vão de advertência à eliminação do quadro associativo em casos de infrações, enquanto o Regimento Interno estabelece suspensão para condutas que causem dano à imagem do clube.
Com a investigação interna em andamento, o caso promete novos desdobramentos e aumenta a pressão sobre a atual gestão em um momento político sensível no Morumbis.