‘Casa de Dinamite’: suspense bélico da Netflix faz de Trump o vilão perfeito
Diretora de "Guerra ao Terror", Kathryn Bigelow pode voltar aos holofotes do Oscar com filme anticlimático sobre a estrutura de guerra dos EUA: ‘Casa de Dinamite’
10:50 | Out. 29, 2025
Poderia ser mais um dia comum para a equipe militar dos EUA vistoriando espaço aéreo e terrestre do mundo, se não fosse por um ataque súbito: quando os radares detectam um míssil de origem não identificada em trajetória para colidir com Chicago, tudo vira do avesso.
Será verdade? Quem está atacando? É possível interceptar ou faz mais sentido já dar início a uma retaliação contra um inimigo invisível?
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Kathryn Bigelow parte desse suspense para criar ‘Casa de Dinamite’ - uma narrativa cíclica sobre como os departamentos de inteligência agem diante da sombra eterna do 11 de setembro.
Antes que o próprio presidente seja avisado, o temor de que nenhum órgão consiga lidar com a iminência do ataque opera de forma desastrosa. Apesar de ter um formato muito cansado ao recontar os mesmos 20 minutos em diferentes pontos de vista, a trama engata pela leitura irônica.
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‘Casa de Dinamite’: entenda o suspense bélico da Netflix
Na tela, a estrutura bélica que sustenta a hegemonia comercial e política dos EUA no mundo ocidental é feita para que precise ser liderada por um vilão.
Afinal, quando chegar a hora de responder à altura do terrorismo, a sociedade americana pode recorrer a alguém sem piedade. Essa construção não tem tanta profundidade na forma como a trama é apresentada, especialmente pelo presidente sem pulso de Idris Elba, mas a constatação é engenhosa.
Barack Obama venceu o Nobel da Paz sendo o único presidente americano que passou todos os dias do seu mandato em guerra, ainda assim conseguindo erguer uma imagem progressista para o eleitorado democrata.
Apesar de não figurar o presidente do mundo real, fazendo Elba interpretar um chefe de estado emotivo e assustado, o filme nos faz entender como Donald Trump estava mesmo destinado a ser o vilão perfeito, alçado como líder de uma nação que inventa o medo da explosão para poder explodir o mundo.
Trump atualizou até o nome do “Departamento de Defesa” para “Departamento de Guerra”, uma mudança que ultrapassa o mero simbolismo para ser, em si, uma resposta: sem guerras, não há EUA. No fim do dia, essa Casa de Dinamite pode até não saber se defender, mas está sempre pronta para atacar.
O que Bigelow tem de mais forte nesse discurso são os primeiros 30 minutos, guiado com vigor por Rebecca Ferguson como uma capitã que luta para esconder seu medo enquanto precisa lidar com o que está acontecendo diante dos seus olhos.
Se a interceptação à ogiva nuclear desconhecida não der certo? A tensão está não apenas no seu olhar, mas na expressão do seu corpo inteiro.
‘Casa de Dinamite’: vale a pena?
É um começo hipnotizante, principalmente porque vamos sendo tomados por essa angústia enquanto todas as lideranças ao redor murcham cada um do seu jeito. A diretora insiste na estética documental de uma câmera que treme e caminha pelos espaços para reforçar a urgência.
Depois disso, o filme dá voltas e voltas para dizer a mesma coisa. Há um núcleo no pentágono com um chefe incompetente e outro com o próprio presidente que, diante da ameaça, precisa escolher que tipo de guerra vai atrair.
“Você acha que o povo americano vai engolir isso?”, ele pergunta aflito quando encara a possibilidade da população de uma grande metrópole ser dizimada em menos de cinco minutos.
Há certo cinismo também na retratação desses poderes, fazendo-os parecer até piedosos quando precisam decidir quem morre. Não parece suficiente para sustentar a irreverência da história, especialmente porque escolhe deixar o espectador numa expectativa com pouca utilidade – por outro lado, o final anticlimático também diz o óbvio: as guerras não acabam.