Fantasias além do Carnaval: artista de Fortaleza impressiona como personagem vivo
Matheus Oliveira começou a se descobrir como intérprete durante a pandemia da Covid-19; hoje, essa é sua maior fonte de renda. Confira as caracterizações
Em tempo de Carnaval, é comum pensar sobre qual fantasia usar no meio da folia. Talvez para se sentir diferente ou só para experimentar “ser outra pessoa” por um tempo. Mas você já imaginou trabalhar se caracterizando de personagens?
Essa é a vida de Matheus Oliveira, 27, conhecido como Matchara. É fortalezense e “sempre inclinado pro lado da arte”, graças à mãe que, apesar de aposentada como professora, sempre gostou de cantar, e ao pai, que era carteiro, mas participava do grupo folclórico Terra do Sol.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Cresceu vendo o pai procurando roupas e acessórios para se caracterizar com seu grupo e ainda hoje o vê planejando fantasias de Carnaval para sair na avenida aos 71 anos. Não tinha para onde correr!
De cover k-pop a personagem vivo
“Comecei a me inclinar para esse lado em 2017, quando entrei para um grupo cover de k-pop, mas foi só durante a pandemia que descobri outros espectros artísticos e decidi tornar isso profissional”, comenta.
Foi durante a quarentena que decidiu comprar maquiagens e perucas e postar vídeo nas redes sociais, para “ver se engajava”.
“A gente nunca nasce sabendo das coisas. Quando comecei a me caracterizar, mirava na Elphaba e acertava no Shrek! Mas fui evoluindo no estudo da maquiagem, aprendi a mexer com as perucas, e isso é importante, porque a fidelidade ao personagem original é muito visada no mercado”, detalha.
Nesse processo de aprendizado, passou a trabalhar com caracterização. Hoje, sua fonte principal de renda é fazer personagens vivos em festas infantis, peças teatrais e eventos diversos, além de se apresentar como drag queen.
“Danço, faço baile, canto. A gente, que é artista, tem que fazer muitas coisas para tirar a renda”, conta com um sorriso.
Matchara: de onde veio esse nome?
O nome Matchara veio a partir de uma piada de um colega de trabalho. Quando Matheus percebeu, todos naquele espaço o chamavam assim. Acabou levando o “nome de guerra” para outros lugares e passou a utilizá-lo em apresentações.
“Troquei o Matheus Oliveira, que é um nome super comum, para Matchara, que tem o ‘mat’ de Matheus e o ‘tchara’, não me pergunte! Mas ficou ‘Matchara’. Achei um nome singular”, relembra com alegria.
Como é o mercado de personagens vivos em Fortaleza?
O intérprete comenta que há um cenário interessante de empresas prestando o serviço de experiência de personagens vivos em festas.
“É uma cena bastante grande hoje em dia, porque cerimonialistas acabam sempre indicando essas empresas para animarem as festas infantis e as crianças adoram. As crianças têm certeza que é o mesmo personagem que assistiram na tela. Isso é muito mágico!”, afirma.
Essas festas não se restringem a Fortaleza. Matheus viaja para outros estados realizando eventos e peças teatrais e as reações sempre são gratificantes, independente do lugar.
Lembrando que foi uma criança tímida e introvertida, enquanto está trabalhando, o jovem tem uma nova forma de ver o mundo, algo que o mudou como pessoa.
“Quando estou caracterizado, sinto que sou Matchara. Não é o Matheus Oliveira que está ali. Sou bem mais expansivo, mais falante, mais interativo e espontâneo, e acho muitíssimo legal!”
As fantasias de Matchara: que histórias são vividas como personagem vivo?
Cada evento é único e especial, mesmo que seja feito para as mesmas pessoas. Os rostos podem ser iguais, mas uma nova história está sendo contada.
O artista lembra de uma vez em que foi contratado para fazer uma surpresa para um noivo fã de Harry Potter, vestindo-se de Lord Voldemort. O que ele não esperava era que ia acabar com um vídeo viral na internet.
“Lá na festa a cantora desafiou o elenco a dançar. Quando vi, estava num casamento, vestido de Lord Voldemort e dançando Bonde das Maravilhas até o chão. Todo mundo ficou maluco! Acordei no outro dia com várias pessoas me avisando que o vídeo tinha viralizado”, recorda.
É fácil trabalhar como personagem vivo?
Matheus trabalha com diversas formas de caracterização. Dentre elas, destaca a de “personagem de cabeção”: fantasias com um capacete grande personalizado com o rosto do personagem que se quer interpretar. Mateus explica que são um grande desafio.
“Quando você está com um personagem ‘de cabeção’, você se comunica com seu corpo. Se não tiver energia ou aptidão física, não vai conseguir. São personagens muito difíceis! Vai muito além de colocar aquela roupa”, desabafa.
"Vivi tantas coisas mágicas realizando sonhos, que sou outra pessoa"
O intérprete não esconde a dificuldade de ser artista em Fortaleza, seja pelas lutas diárias de qualquer trabalhador, seja pela falta de reconhecimento ou remuneração. Por outro lado, conta com alegria que a arte o fez encontrar seu lugar no mundo.
“Trabalhar com isso mudou completamente a minha vida. Me tornei mais comunicativo, mais desenrolado. Trabalhar com arte não é fácil, apesar de me preencher de todas as maneiras possíveis; mas é recompensador demais terminar um evento e ver a felicidade no rosto daquele pai ou daquela criança”, enfatiza.
“É nítida a diferença do Matheus Oliveira de alguns anos atrás com o de hoje. Eu não tinha perspectivas, já me senti alheio, perdido e insuficiente. Hoje, vivi tantas coisas mágicas realizando sonhos, que sou outra pessoa”, continua.
Com isso, segue sua rotina se caracterizando dentro e fora do período de Carnaval. Com dificuldades e desafios, colocar sorrisos nos rostos é a motivação para que as pessoas continuem vendo as várias fantasias de Matchara.