Di Cavalcanti: obra perfurada pode valer mais de R$ 20 milhões

Especialistas em arte estimam o valor de "As mulatas", obra do pintor Di Cavalcanti que foi perfurada por criminosos em Brasília

Uma das obras danificadas pelos ataques terroristas ocorridos em Brasília no domingo, 8, o painel “As mulatas”, do pintor carioca Di Cavalcanti, pode valer entre R$ 20 milhões e R$ 50 milhões, estimam especialistas em artes ouvidos pelo Vida&Arte. O painel, que fica no Palácio do Planalto, sofreu no mínimo sete perfurações feitas por criminosos na ocasião da invasão. De acordo com levantamento do próprio Palácio do Planalto, o valor está estimado em R$ 8 milhões, podendo “alcançar valores até 5 vezes maior em leilões”.

A precificação da obra — descrita pelo governo como "a principal peça do Salão Nobre" do Planalto — é uma operação que demanda "complexidade", como explica Sérgio Sobreira, professor associado da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Isso pelo painel ser um item de patrimônio público, fora do mercado.

Como explica Sérgio, o processo de mensurar o preço "envolve a necessidade de ver o valor que obras de Di Cavalcanti ocuparam no mercado nas últimas vezes em que foram precificadas”. Ele cita a presença do painel “Bumba Meu Boi” na feira SP-Arte, em 2019, que atingiu o valor de R$ 20 milhões na ocasião. “Como elemento de partida, a obra ‘As Mulatas’ teria um preço a partir desse valor, até por se tratar de uma obra maior e mais importante pela dimensão histórica que tem”, pondera.

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Na avaliação do professor, a obra pode valer entre R$ 30 milhões e 50 milhões. A estimativa se dá, conforme Sérgio, “pela dimensão histórica, pelo fato de ser uma obra que é representativa de toda a obra de Di Cavalcanti”, ressaltando “o enaltecimento das nossas raízes”.


“Ela fala da condição de mestiçagem em uma perspectiva que afirma que o nosso caldo cultural deve ser visto como algo louvável e de enorme contribuição, sem negar todas as contradições e que o processo que favoreceu isso no Brasil foi a tragédia da escravidão. Há um resultado em termos de identidade e Di Cavalcanti foi quem melhor capturou esse sentido”, analisa.

Proprietário da Sculpt Galeria, o engenheiro e colecionador Rodrigo Parente destaca o ataque à obra, que define como “icônica”, como “um terrível atentado ao nosso patrimônio, que é pouco conhecido da grande população”. “Estimo dizer que um painel tão significativo como esse deve valer no ‘mínimo’ R$ 5 milhões o metro quadrado, sendo imensurável o valor”, avalia. A partir desse dado, o galerista calcula que o preço estimado pode ser entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões.

Rodrigo ainda ressalta a importância do acervo do Palácio do Planalto como um todo, compartilhando ter relação de memória com itens que compõem o local e afirmando repudiar “totalmente os atos que aconteceram neste domingo”. “Dentre os artistas visuais que tem suas obras no Palácio, queria destacar alguns, dentre muitos: Di Cavalcanti, Djanira , Cândido Portinari, Volpi. No mobiliário, temos Sergio Rodrigues, Oscar Niemeyer, Joaquim Tenreiro, Scapinelli e Jean Gillon”, lista.

Os especialistas lembram que, além do valor financeiro estimado da obra, há inegável simbolismo no ataque. Rodrigo, por exemplo, ressalta que o trabalho de restauro será pago pelo próprio povo brasileiro. Sérgio pondera que o ataque "reflete o estado de ignorância e de indigência intelectual e moral que nós passamos nos últimos quatro anos".

"Do ponto de vista simbólico, esse ataque reflete esse ódio que essas pessoas têm de tudo aquilo que pode representar algum nível de evolução humana em direção à civilização. São pessoas movidas por ódio, querem destruir tudo que elas não compreendem, não entendem e, por consequente, não aceitam", aponta Sérgio, que pede punição "exemplar" para os envolvidos, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

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