Movimento denuncia restrição de acesso, censura e demissões na Rede Cuca

Frequentadores dos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas) criticam gestão da rede de equipamentos; Restrições de acesso, censura de obras LGBTQIAP+ e demissões de funcionários estão entre as insatisfações

Um movimento denuncia restrições de acesso, proibições de eventos artísticos da juventude, censura de obras LGBTQIAP+ e demissões de funcionários na Rede Cuca, formada por complexos localizados nos bairros Barra do Ceará, Mondubim, Jangurussu e José Walter. Frequentadores dos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas) relatam insatisfações com a gestão dos equipamentos.

Criada para ser uma rede de proteção social e de oportunidades para a juventude de Fortaleza, a Rede Cuca oferece cursos, práticas esportivas, eventos e produções culturais ao público de todas as idades, mas, prioritariamente, aos jovens de 15 a 29 anos da periferia da Cidade. A rede é mantida pela Prefeitura de Fortaleza. O Instituto Cuca, organização responsável por gerir a Rede Cuca, está ligado à Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude.

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O movimento “Rede Cuca Resiste” (@redecucaresiste) apresenta insatisfações de frequentadores dos equipamentos, como as queixas sobre repressão e restrições de acesso, por meio da mídia social Instagram. O perfil conta com mais de 1000 seguidores. As publicações são feitas de forma anônima. O POVO conversou com participantes da mobilização, liderada por jovens que frequentam os complexos, além de ex-funcionários que foram demitidos recentemente da rede. Suas identidades não serão reveladas.

Segundo as fontes ouvidas pelo O POVO, os equipamentos estão funcionando com restrições de acesso aos espaços dos complexos (como teatro e salas) e com horários reduzidos (fechando por volta das 18 horas, por exemplo, a depender da sede). Jovens usuários da rede manifestam que há restrições no apoio aos coletivos de arte, às atividades artísticas e aos eventos culturais (como saraus e bailes de reggae); e a censura da apresentação de coletivos, eventos e produções com temática LGBTQIAP+.

Coletivos que nasceram nos Cucas e trabalham com empoderamento LGBTQIAP+ na periferia foram impedidos de realizarem programações artísticas nos complexos e de usarem a logomarca da Rede Cuca na divulgação de seus eventos. Palestras e rodas de conversa com temáticas de identidade, corpo e gênero também estão sendo canceladas. Outro depoimento conta que o filme “120 Batimentos por Minuto”, drama sobre a militância contra a aids na década de 1990 na França, também foi proibido de ser exibido no complexo.

Jovens e ex-funcionários relatam assédio moral por parte da nova gestão, além de discriminação de pessoas LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência (PcD). De acordo com as informações obtidas, educadores sociais são demitidos sem justificativa.

Ainda segundo os relatos, a Diretoria de Promoção de Direitos Humanos (DPDH), órgão responsável por ser a “porta de entrada” e assegurar a proteção social dos jovens nos Cucas, foi extinta. O DPDH foi unido ao setor de Cultura do equipamento, virando a Diretoria de Cultura, Cidadania, Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentável. A decisão impacta burocraticamente o acesso e a liberdade das juventudes aos complexos.

Segundo os frequentadores dos Cucas, o DPDH facilitava os pedidos de salas, espaços e atendimentos dos usuários da rede e funcionava como um setor de proteção social. A partir da entrada nos complexos, os educadores sociais também atendiam jovens usuários de drogas e faziam o encaminhamento necessário nesses casos, além de promoverem ações de orientação de mercado de trabalho e saúde mental.

De acordo com as fontes da reportagem, as justificativas da gestão dos Cucas se baseiam na falta de orçamento para a arte e cultura nos complexos. Na tarde da última sexta-feira, 18, o coordenador de políticas públicas de juventude de Fortaleza, Davi Gomes, se reuniu com cerca de 60 jovens no Cuca Jangurussu. Uma comissão da juventude, com 12 integrantes, foi criada para fiscalizar e relatar restrições, censuras e assédios. Na ocasião, segundo os usuários presentes no encontro, o secretário afirmou que não houve cortes no orçamento das políticas públicas da juventude.

O orçamento da Rede Cuca contava com a parceria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). De acordo com os relatos, o secretário afirmou que, mesmo com a saída do BID na composição orçamentária dos Cucas, a Prefeitura cobriu a verba.

Segundo informações apuradas pelo O POVO, a instabilidade na gestão da Rede Cuca teria iniciado ainda durante a gestão do prefeito Roberto Cláudio (PDT), a partir de demissões de educadores dos complexos entre 2016 e 2020; e se agravado durante o mandato de seu sucessor, José Sarto (PDT), quando Kilvia Cristina Teixeira assumiu a presidência do Instituto Cuca em outubro de 2021.

Os jovens relatam que os Cucas representam uma conquista da juventude de Fortaleza e uma oportunidade de profissionalização em artes, entretenimento, esporte, comunicação e ciências; defendem a existência de políticas públicas para os jovens e lamentam as restrições e ausência de apoio às atividades.

O POVO contatou a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas da Juventude, área responsável pelo Instituto Cuca (equipamento que administra os complexos), mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.

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