Conheça Nik Hot, a primeira funkeira travesti do Ceará

A cantora Nik Hot faz parte da cena LGBTQIA+ local e se apresenta em atos políticos e casas de show pela cidade

Lara Nicole é uma travesti cearense, natural da capital do Estado, que, em 2017, decidiu iniciar a sua carreira musical com o nome artístico de Nik Hot. Hoje com 25 anos, a cantora se vê em um momento de recomeço profissional com novas ambições e mais maturidade. Em entrevista para O POVO, Nik mostra quem ela é e o quanto ser travesti impacta no seu trabalho.

“No começo, eu ainda me identificava como um homem cis gay e não uma travesti. Eu comecei a cantar em 2017 ao lançar a minha primeira música ‘Eu Vou Sarrar’ com a produção feita por mim e pelo Davy Lima, que está na minha equipe até hoje. Nós fizemos esse trabalho e não saiu como eu imaginava, já que a minha expectativa era lançar uma música e, no dia seguinte, já ser rica. Mas não é bem assim, nós (cantores) temos que ir trabalhando, lançando canções até que o som certo faça sucesso. Foi muita imaturidade minha, até por ser jovem”, relata.

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Por problemas pessoais, Nik fez uma pausa no seu trabalho após o lançamento da sua primeira música. Já no ano seguinte, ela voltou com uma nova faixa chamada “Vamo Fechá” e produziu o seu primeiro videoclipe, que atualmente conta com cinco mil visualizações. Foi a partir desse momento que a cantora viu a sua carreira crescer e passou a investir cada vez mais nela, o que a levou a ter grandes oportunidades, como a de abrir o show da cantora Lia Clark.

Para 2022, a artista tem vários planos e já iniciou um projeto: o duo “Trava’z” em parceria com a cantora Emilly Alves. A dupla é uma nova composição da banda de mesmo nome que viveu grandes mudanças, mas segue no funk com faixas ainda a serem lançadas.

“O ‘Trava’z’ é um projeto muito especial para mim. No começo, era uma banda com quatro integrantes travestis, mas acabou que seguimos rumos diferentes e ficamos eu e Emilly. Esse é um momento muito importante porque estamos retornando depois de um bom tempo paradas. É um prazer imenso cantar com a Emilly, que já foi minha dançarina e começou a cantar logo depois, além dela também ser minha amiga. Então esse duo desperta em mim um lado mais sentimental”, afirma.

Nik conta com inspirações travestis na música por se identificar com a dor e o prazer de ter essa identidade. A cantora carrega essa bandeira com orgulho e busca conquistar um espaço no cenário musical, em uma sociedade ainda marcada pelo preconceito.

“Nas minhas inspirações tem a Garota X, que é pouco reconhecida, mas ela foi uma travesti que cantou na Furacão 2000, quando não existia lei contra a transfobia, nem nada. Ela foi lá e ‘meteu a cara’ mesmo com o público jogando latas e frutas nela, sendo resistência para que eu pudesse estar aqui hoje. Além dela, admiro a MC Xuxú, a Mulher Banana, a Miguella Magnata, a Ninfeta e a Boombeat (da banda Quebrada Queer). E na TV tem a Linn da Quebrada, que tá no Big Brother Brasil mostrando para as pessoas o que é uma travesti e que você precisa respeitar e conviver com essas pessoas”, diz.

A Casa Transformar também faz parte do trabalho dessa artista: ela é uma das fundadoras desse espaço de acolhimento para pessoas LGBTQIA+. É neste lugar que gente de diferentes sexualidades e identidades de gêneros encontra um lar depois de passar pelo sofrimento de morar na rua ou após ser excluída pela própria família. Muitos dos moradores que são artistas, assim como a Nik, se organizam para ajudar no seu trabalho.

“O meu trabalho tem relação com a Casa Transformar, já que muitas das minhas músicas são gravadas nesse local e eu sou produzida pela Transformar Produções, que é uma produtora da própria casa. Tudo na minha vida tem relação com esse lugar desde que eu o fundei”, diz a cantora.

Ao olhar para o futuro, a artista se recusa a ficar parada onde está e procura crescer fazendo o que mais ama: cantar. Ela quer conquistar o cliché da fama e do dinheiro, mas com o objetivo de poder ajudar a todos que ama. Além disso, sonha em se mostrar ao mundo como uma travesti bem sucedida, enfrentando o preconceito e dando destaque ao título de primeira funkeira travesti do Ceará.

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