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Conheça Adriano Goldman, brasileiro responsável pela fotografia de "The Crown"

Desde o começo da série, o brasileiro natural de SP, Adriano Goldman, é o responsável por dar a identidade visual aclamada de "The Crown", produção original da Netflix
17:28 | Nov. 30, 2020
Autor Júlia Duarte
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Júlia Duarte Estagiária
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Tipo Notícia

Em 2016, chegava ao catálogo da Netflix a série "The Crown". Investindo na história e reinado da Rainha Elizabeth II, o drama investe - e é aclamada por isso - nos figurinos e na fotografia para ambientar o espectador em uma trajetória ainda em curso da Coroa Britânica. E, muito disso, é crédito de um brasileiro natural de São Paulo, Adriano Goldman.

Nascido e criado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, ele é um dos grandes nomes que dão vida à série. Já são mais de 14 anos de carreira e 18 produções audiovisuais, brasileiras e internacionais, entre elas Xingu (2018), JaneEyre (2011) e Cidade dos Homens (2007). E desde o início de 'The Crown', Adriano se empenha em retratar o reinado da Rainha, com um orçamento digno da realeza, estimado em US $ 130 milhões (670 milhões de reais) para cada temporada.

Os valores altos viraram piadas entre os fãs da série, que fazem graça com o quanto a plataforma de streaming gasta com a produção. O resultado tem sido reconhecido, com Goldman tendo fotografado 22 episódios e sendo indicado quase todos os anos em categorias de fotografia, e ganhado em alguns anos. Ele já venceu na categoria "Outstanding Cinematography for a Single-Camera Series (One Hour)" nos American Society of Cinematographers Awards, além de melhor fotografia em ficção do BAFTA Television Craft Awards.

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"Adriano [Goldman] é simplesmente indispensável", diz Peter Morgan, criador, roteirista e produtor-executivo de "The Crown", segundo o jornal Folha de S. Paulo. "Ele não só é fundador e criador da série, como também o mestre arquiteto da sua estética, do seu sentido, significado e sucesso. Ele é um grande artista e, sem ele, eu estaria completamente perdido", pontua sobre o brasileiro. Benjamin Caron, o diretor principal da quarta temporada da série conta que na nova temporada, que chegou recentemente à plataforma, teve o desafio de unir o real ao fictício e, segundo ele, Goldman criou muito bem. "Em cada enquadramento tem uma busca pelo equilíbrio perfeito entre brilhos, sombras, ângulos, movimentos de câmera, lentes e cores e nessa busca pela perfeição ele consegue revelar a alma das personagens."

"Se eu for um artista, sou um artista raso. Estou muito mais interessado em ser só um bom diretor de fotografia, descobrindo formas novas de trabalhar cada vez mais perto daqueles que são os verdadeiros artistas —os autores, os diretores e os atores", diz Goldman sobre a produção da série. Mas, desde cedo, o brasileiro demonstrava seu desejo de trabalhar com fotografia, como conta o amigo dele, Fernando Meirelles, com quem Goldman trabalha há muito tempo. Ele relembra de Goldman ainda garoto aos 16 anos sentado por horas na recepção da sua produtora.

"Perguntei para alguém 'quem é aquele moleque?'", diz ele. "Disseram que ele queria trabalhar conosco. Estávamos saindo para gravar e acho que pedimos para ele carregar um gravador ou algo assim. Ele foi. Colou no grupo e por lá ficou. Por alguns anos, achei que ele seria um diretor ou um roteirista, talvez, pois era articulado. Um dia, surpreendentemente, ele disse que estava indo para o Maine fazer um curso de fotografia. Foi e voltou fotógrafo. Ele se vê como uma espécie de prestador de serviços para o diretor. Isso é bobagem, pois a fotografia que Adriano faz conta as histórias tanto quanto os diálogos. É um artista, mesmo que não queira encarar esse fato", ressalta o amigo íntimo.

Quarta temporada de The Crown

Na nova temporada, os fatos retratados são mais recentes. A série começa em 1979 e termina em 1990, período em que entram em cena a popular Lady Diana, com o casamento e seu relacionamento com a mídia e com o marido, e Margareth Thatcher, a infame primeira-ministra do Reino Unido. Segundo Adriano Goldman, o desafio foi justamente fazer jus a uma história muito recente.

"Foi mais difícil manter o mesmo tom de realismo realçado das séries anteriores sem cair num naturalismo mais fácil e mundano", confirma ele.

Essa proximidade com a realidade tem afetado a relação da série com o governo britânico e a própria família real. O ministério da cultura do Reino Unido espera que todos os episódios de "The Crown" devem ter um aviso indicando que as cenas mostrando a intimidade da família real britânica são puramente ficção. Mas, ao The Hollywood Reporter, o serviço de streaming respondeu apenas que sempre deixou claro que "The Crown" era uma obra de ficção, meramente baseada em eventos reais.

Segundo o jornal Times, o príncipe William, que tem os pais retratados nessa temporada, considerou a série “profundamente intrusiva” e que dá uma “visão perversa e nojenta dos membros mais importantes da família real britânica”. “Eles estão explorando os meus pais para ganhar dinheiro”, disse o Príncipe William ao Times, acrescentando que Charles e Lady Diana Spencer foram “apresentados de uma forma falsa e simplista”.

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Mas os produtores estão conscientes da produção. "Para mim o problema não existe", diz Goldman. "Nunca tratei 'The Crown' como uma peça documental, nem mesmo quando eventos históricos foram refilmados. A polêmica não é inédita. Sempre alguém vai se ofender com alguma coisa. A proposta para resolver o problema então qual seria? A autocensura? Seria mais certo submeter o roteiro a um comitê censor? Não acredito nisso. O objetivo da arte é mais provocar do que agradar a todos."

Além de The Crown, confira outras produções sobre a família real:

Diana. O Último Amor de Uma Princesa, de Kate Snell (2013)

The Queen: The Life and Times of ElizabethII (Edição Inglês), de Catherine Ryan (2018)

God save the queen - O imaginário da realeza britânica na mídia, de Almeida Vieira e Silva Renato (2015)

Com informações da Folha de S. Paulo e do site de críticas IMDb 

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