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Presente no imaginário brasileiro, Zé do Caixão deixa legado no cinema nacional

Mojica foi tudo no entretenimento: roteirista, diretor, apresentador de TV, produtor, dublador, ator e personagem. Artista. Autodidata, aprendeu filmes dentro do cinema, direto dos bastidores
15:05 | Fev. 20, 2020
Autor PH Santos
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Tipo Opinião

Nosso Charles Chaplin não faz comédia, faz terror, faz trash. José Mojica Marins não "apenas" criou filmes, ele viveu o próprio cinema por anos ao criar para si o personagem Zé do Caixão. Assim como Chaplin muitas vezes era confundido com o Carlitos, é impossível separar o José do Zé.

Mojica foi tudo no entretenimento: roteirista, diretor, apresentador de TV, produtor, dublador, ator e personagem. Artista. Autodidata, aprendeu filmes dentro do cinema, direto dos bastidores. Seu pai trabalhou em uma sala de cinema, permitindo que o filho acompanhasse as exibições desde a sala de projeção. Uma das brincadeiras era usar as sombras da projeção para contar suas primeiras histórias, que começaram a deixar de ser brincadeira quando ganhou uma câmera V-8.

Dos filmes que Mojica assistia, se atraiu pelo trash, pelo escatológico e, amadoramente, começou a produzir os seus próprios. Assim seguiu, fazendo pequenos filmes, exibindo-os em festivais ou organizando os próprios quando não havia onde mostrar suas criações; uma marca de sua carreira, pois se não dispunha de algo, ia lá e assumia. Assim nasceu o Zé do Caixão para o filme "À Meia Noite Levarei Sua Alma" (1963) que, na falta de um ator disposto a se submeter ao Zé, trouxe pra si esse protagonismo e poucas vezes o largou desde então.

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A ideia do Zé do Caixão veio de um sonho, onde um vulto de um coveiro o puxava para o próprio túmulo. Levou isso para o filme, escrevendo a história de um coveiro obcecado em gerar o filho perfeito, missão que continuou no filme "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (1967) e se conclui (ou não) apenas em 2008 com "Encarnação do Demônio".

Seus filmes foram distribuídos na Europa e nos Estados Unidos. Como um bom cinema underground, teve várias obras e produções perdidas. Foi censurado diversas vezes, lançando depois vários desses trechos em "Delírios de um Anormal" na década de 70, fácil de encontrar no Youtube com legendas em inglês, o que representa bem essa internacionalização do cineasta.

Sua carreira seguiu visitando vários gêneros, se mantendo estranha sempre que possível e sendo uma das grandes inspirações até hoje para quem se propõe ao cinema marginal no Brasil. Fez inclusive pornochanchada, deixando sua marca em tão importante movimento do cinema brasileiro.

Leia também | Crônica: Memórias de quando conheci o Zé do Caixão

Na TV, apresentando o saudoso Cine Trash, demonstrou seu repertório cinematográfico nos guiando por filmes de terror e horror. Antes dos intervalos, jogava maldições em quem ousasse mudar de canal. “Você!”, gritava apontando para a câmera, “Você! Se colocar a mão no controle remoto, todos os seus dedos irão virar minhocas comedoras de olhos. Não mude de canal”, e então os comerciais começavam.

Não se engane, o trash não é fácil quando se quer ser assim. Mas para Mojica, o trash era além de produzir algo, era estilo de vida. Uma vida dedicada à arte, ao cinema e à sua criatura, o Zé do Caixão.


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