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Curta cearense e longa do DF são destaques na reta final do Festival de Brasília

"Marco" (CE) e "O tempo que resta" (DF) foram exibidos na noite desta quinta, 28

Enviado a Brasília *

Os festivais de cinema são historicamente lugar de discussão, reflexão e disputa. Neste ano, porém, o contexto político do Brasil vem trazendo urgências e delicadezas ao cenário. Não podia ser diferente no 52° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, marcado por críticas ao secretário da Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, denúncias de censura, momentos de tensão na apresentação de filmes e discursos veementes contra projetos violentos do Governo Federal. Nesta quinta, 28, penúltima noite da mostra competitiva, o Cine Brasília, que concentra as atividades do evento, recebeu as exibições do curta cearense "Marco", de Sara Benvenuto; do curta "Chico Mendes - Um Legado a Defender" (DF), de João Inácio; e do longa "O tempo que resta" (DF), de Thaís Borges, documentário que mostra a luta de duas ativistas a favor da Amazônia. Na noite de hoje, 29, serão exibidos os últimos filmes da competição.

Os ânimos acirrados seguem desde a abertura do festival, quando um ator teve um discurso contrário ao secretário de Cultura do DF Adão Cândido ameaçado de interrupção por um segurança e, depois, abreviado pelo corte do som do microfone. Antes da sessão da competitiva desta quinta, 28, o Cine Brasília recebeu a Mostra Brasília BRB de Cinema, dedicada a produções locais. Dos seis curtas exibidos, cinco foram apresentados pelas equipes com discursos críticos ao secretário de Cultura do DF Adão Cândido, ao caso da abertura e também ao Governo Federal.

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Quando a mostra competitiva começou, a primeira equipe a se apresentar foi a de "Marco". No palco, representaram o curta a atriz Ana Luiza Rios, o ator Rafael Nog, a assistente de direção Isabela Damas e a diretora e roteirista Sara Benvenuto, que discursou sobre a condição de ser mulher, lésbica, professora, nordestina e cineasta. "'Marco' representa não só meu cinema e uma narrativa, mas um grupo de vidas - em especial vidas femininas - envolvidas e envoltas em criar narrativas em um país cheio de força e resistência audiovisuais como essa", ressaltou. Filmado em Iguatu, município de nascença da cineasta, o curta mostra o retorno de Isadora (Ana Luiza Rios) à cidade e a questões não resolvidas do passado.

Os outros dois trabalhos da noite, ambos do DF, se aproximavam também em tema. O curta de João Inácio, estruturado enquanto documentário clássico cuja base são as entrevistas, se debruça em tratar do legado de Chico Mendes. Já o longa de Thaís Borges aposta no observacional e se engrandece pela força das protagonistas, Maria Ivete Bastos e Osvalinda Marcelino Pereira.

Ambas paraenses, as duas mulheres são juradas de morte por fazendeiros e grileiros há anos. As bandeiras das ativistas passam pela agroecologia e a sustentabilidade. Além da diretora, Maria Ivete e Osvalinda também estiveram presentes e discursaram na apresentação do filme, que foi marcada por um momento de tensão. Em determinada momento, um homem da plateia - que depois foi identificado como um componente da equipe do festival - gritou "Filme, filme!", interrompendo o discurso final da cineasta. Repreendido por diretoras que estavam na plateia, ele respondeu com gritos e xingamentos.

Outro momento delicado ocorreu já próximo ao fim da exibição. "O tempo que resta" apresenta, nos minutos finais, uma densa lista com quase 500 nomes de pessoas assassinadas no Brasil em conflitos por terra. Eles são apresentados como créditos, sem música e numa tela de fundo preto e letras brancas. Antes que a lista chegasse ao fim, as luzes da sala foram acesas e uma música começou a tocar. Sob gritos de "não acabou!", a ação foi revertida em segundos, mas causou má impressão. Na coletiva, a cineasta explicou que a produção tomou a responsabilidade para si e pediu desculpas. Ainda que sem intenção, a ação no mínimo indelicada se soma à lista de questões do festival. No debate sobre o filme, que ocorreu na manhã de hoje, porém, as ativistas e a diretora tiveram tempo e liberdade para discutir o filme e as lutas retratadas.

Maria Ivete teve que sair com pouco tempo de debate por conta do vôo de volta, mas antes fez fala profunda e emocionada sobre a realidade na Amazônia. Ao se levantar, foi aplaudida de pé e, no caminho para fora da sala, foi abraçada e abraçou muitos dos presentes - momento este que se soma à lista de respiros da edição.

* O jornalista viajou a convite do evento

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