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Cearense Bia Leite reflete sobre questões de gênero, violência e sexualidade em pinturas, colagens e vídeos que referenciam a cultura pop. Artista compete no Prêmio PIPA Online

"Glitter - Em Busca de Um Sonho", Lindinha, John Carpenter, Pinóquio, monstros, Leona Vingativa, The Sims, Tumblr, Madonna, XVideos, Os Sete Anões, Nosferatu, Carrie, Paint. Na obra de Bia Leite, elementos da cultura pop convergem até alcançarem novos sentidos quando agrupados em diálogo. A artista é a única cearense indicada ao segundo turno do Prêmio PIPA Online, promovido pelo Instituto PIPA. Criada em 2010, a premiação funciona como uma plataforma para a arte contemporânea brasileira. Entre os 10 artistas que disputam a segunda fase, o vencedor ganhará um prêmio de R$ 15 mil.

Nascida em 1990, a artista se divide entre Fortaleza e Brasília, onde estudou Artes Plásticas na UnB. Como alguém do Nordeste que foi para fora do Estado, Bia avalia a visão que se tem da ideia de “artista nordestino” enquanto uma unidade. “Morei nove anos em Brasília e com certeza é muito diferente a cultura que tive na minha criação. Não sei dizer muito bem o que se espera do artista nordestino porque a generalização violenta e é um desfavor para a construção da nossa identidade”, aponta Bia em entrevista por email.

Somente duas artistas que disputam a segunda fase do PIPA Online nasceram e vivem fora do eixo sudestino: Bia e a maranhense Gê Viana. Nascidos fora da região, há ainda o potiguar Thiago Barbalho e o amazonense Denilson Baniwa, mas ambos vivem e trabalham, respectivamente, em São Paulo e em Niterói. Os outros seis indicados nasceram no estado do Rio de Janeiro. “Muitas vezes nós artistas trabalhamos de graça. As premiações são um retorno muito importante pra que possamos continuar produzindo e nos mantermos. Ser fora do eixo Rio-SP é muitas vezes visto com certos preconceitos por curadores que generalizam uma ideia de artistas dissidentes muito equivocada, simplista”, sublinha Bia. “E é cansativo ver os artistas homenscis brancos de lá ganharem prêmios quando já têm tantos privilégios em todo canto e também no mercado da arte”, avança.

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Na obra da artista, referências pop, conforme explica, “são ícones que são usados com ironia”. “Utilizo imagens que vieram da realidade violenta dialogando com a sutileza e delicadeza do conteúdo pop. Referências como memes do grupo LDRV (grupo do Facebook), desenhos animados, músicas pop, o reality show Glitter (exibido em 2012 pela TV Diário), o funk carioca e filmes de terror me interessam muito”, lista. A apropriação dessas imagens, na maioria das vezes advindas da internet - o printscreen, captura de tela, é comum na obra de Bia -, acontece por diferentes motivações. “Seja um interesse por cor, por atmosfera, que transmitem ou que faltam algo que no processo vai ser complementado com outras imagens. É tudo muito lento, por isso trabalho em várias coisas ao mesmo tempo, assim vão surgindo os polípticos e séries”, destrincha o processo.

O foco de interesse, em suma, é por “gêneros que são diminuídos por serem como são, como o horror e o funk”. “Tento utilizar as qualidades linguísticas desses gêneros para compor meus trabalhos. Em pintura, colagem ou vídeo, as referências se mesclam e ganham novos sentidos conforme vou organizando num suporte finalizado”, explica Bia. Utilizando-se de tais elementos para compor sua arte, vê como bônus o fato de “trabalhar com material de qualidade e tentar reproduzir essas imagens no intuito de perpetuar essas características linguísticas, como a liberdade e a fantasia para lidar com problemas do cotidiano”, elabora. “O ônus seria que os preconceitos estão aí e sinto muito pra quem se fecha neles”, afirma.

Unindo e retrabalhando todas essas referências e influências, Bia se aprofunda no olhar artístico para o que define como “a força da família tlgbqi+”. “Quando escolhi usar essa expressão, foi pensando em contemplar a rede afetiva tlgbqi+ que construí na vida. Somos rejeitades muitas vezes por nossos genitores e construímos laços de confiança com nossos iguais e isso é de imensa importância pra mim”, exemplifica a artista. Trabalhos como a pintura "companheiras", da série Choque de monstro: laços profanos, ou a leitura do diário de adolescência em uma exposição em Brasília são exemplos dessa força que transparecem na obra de Bia. “No texto (do diário) eu exaltava minha irmãs LGBTs e a importância de sair de casa pra encontrar com elas para trocar confidências, conversar, trocar referências e dançar ao som delas”, completa.

Prêmio PIPA Online

Para conhecer Bia: www.premiopipa.com/bia-leite/

Mais infos sobre a votação: /www.premiopipa.com/votar-no-pipa-online-3/

É necessário cadastro com e-mail e é preciso votar em três artistas. A votação segue até domingo, 21

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