Pesquisa revela eficácia de medicamento no tratamento de câncer de pulmão
A combinação entre osimertinibe com quimioterapia se mostrou favorável em relação ao tempo de sobrevivência do paciente oncológico
O Flaura2, um estudo clínico presente na Fase III, revelou que a combinação do medicamento osimertinibe com quimioterapia foi eficaz no tratamento oncológico de pacientes com câncer de pulmão. Os resultados apresentaram mais duração de vida para esses pacientes.
O tipo de câncer de pulmão observado na pesquisa é o de não pequenas células em estágio avançado ou metastático e que apresenta a mutação do EGFR Uma mutação no gene do Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico (EGFR) é uma alteração genética que faz com que este gene estimule a produção de uma proteína com atividade contínua, impulsionando o crescimento celular descontrolado e, frequentemente, levando ao desenvolvimento de câncer de pulmão de não pequenas células (CPCNP) . Os resultados de sobrevida global da pesquisa foram apresentados neste mês no Congresso Mundial de Câncer de Pulmão (WCLC 2025), em Barcelona.
A pesquisa contou com 557 pacientes, e na análise final da sobrevida global foi revelado que 63,1% dos pacientes que se trataram com osimertinibe e quimioterapia continuaram vivos em 36 meses, versus 50,9% dos pacientes que receberam osimertinibe em monoterapia; em 48 meses, as taxas foram de 49,1% e 40,8%.
A redução do risco de morte é de 23% para os pacientes que receberam a combinação do osimertinibe com a quimioterapia. Segundo Guilherme Harada, oncologista titular do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês e especialista em tumores torácicos e de cabeça e pescoço, o grupo de "não pequenas células" é o mais estudado por representar cerca de 85% dos casos.
“No passado, o primeiro gene identificado e para o qual desenvolvemos uma terapia-alvo foi o EGFR. No Brasil, essa alteração genética representa entre 20% a 25% dos casos de câncer de pulmão. É justamente nessa população que o estudo se concentra”, explica.
O oncologista explica que hoje, mediante a oncologia personalizada e o acesso a testes genéticos e terapias-alvo, o alcance de uma sobrevida maior é de quatro anos para este grupo específico de pacientes.
No Brasil, esse regime de tratamento já é aprovado e implementado na prática clínica atual, aprovação essa concedida mesmo antes dos novos dados. Atualmente, apenas a quimioterapia está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).
“Além de viver mais, sempre buscamos que nosso paciente tenha mais qualidade de vida, o que está diretamente ligado ao manejo dos efeitos colaterais. Esta é uma combinação de tratamento bem tolerada, e já fazíamos isso na prática clínica em pacientes que não respondiam mais ao medicamento isolado. A novidade é utilizá-lo desde o início do tratamento”, comenta.
Efeitos e segurança do tratamento
Sobre a segurança dessa combinação, o estudo se manteve consistente ao que já se conhece dos usos desses medicamentos. Efeitos colaterais graves ocorreram em 70% dos pacientes que receberam a combinação (majoritariamente relacionados à quimioterapia) e em 34% dos que receberam apenas osimertinibe.
Esses números são semelhantes a dados já apresentados em 2023, com 64% versus 27%. As taxas de interrupção do tratamento por efeitos colaterais e as toxicidades específicas do alvo permaneceram baixas em ambos os grupos (12% versus 7%).
“Ao combinar tratamentos, a toxicidade pode, sim, aumentar devido à própria quimioterapia. No entanto, os principais efeitos colaterais são aqueles com os quais estamos habituados a lidar, como anemia, queda da imunidade e plaquetopenia. Geralmente, detectamos essas alterações em exames de sangue antes mesmo que o paciente apresente sintomas”, afirma o Dr. Guilherme Harada.
Em relação ao osimertinibe, ele pode causar eventos gastrointestinais, como diarreia, e alguns efeitos cutâneos. O especialista lembra que a individualização é sempre crucial, e nos casos de pacientes mais frágeis ou com condições médicas preexistentes, é preciso personalizar a abordagem para identificar qual é o tratamento certo para o paciente.
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“Hoje, este é o nosso padrão de tratamento, com os melhores dados disponíveis, considerando o balanço entre o aumento do tempo de vida e os efeitos colaterais. Precisamos continuar aumentando nossos esforços na prevenção do câncer de pulmão, que está ligada principalmente ao tabagismo”, finaliza.
Atualmente, pacientes acima de 50 anos, com histórico de tabagismo ou que pararam de fumar nos últimos 20 anos, têm indicação de realizar uma tomografia computadorizada de baixa dose de radiação. Esse exame visa detectar o câncer de pulmão em estágios mais precoces, o que está diretamente ligado a melhores desfechos e maior sobrevida.
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