Polilaminina: remédio brasileiro regenera lesão na medula? Conheça

Medicamento desenvolvido há mais de 25 anos em universidade brasileira apresentou resultados positivo para regeneração de lesões medulares recentes

15:13 | Set. 11, 2025

Por: Luciana Cartaxo
A polilaminina é desenvolvida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália (foto: Divulgação/Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Em fase experimental, o tratamento com polilaminina apresentou resultados capazes de devolver parte dos movimentos a humanos e cães com lesão medular por quedas, acidentes ou traumas severos.

A nova terapia experimental brasileira foi apresentada oficialmente no dia 9 de setembro de 2025 e já é tratada como esperança para vítimas de paraplegia ou tetraplegia.

Desenvolvida e pesquisada durante mais de 25 anos pela bióloga Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália, a polilaminina é obtida a partir de uma proteína derivada da placenta humana.

O composto estimula neurônios maduros a regenerarem axônios, prolongamentos nervosos responsáveis por transmitir os impulsos elétricos que possibilitam a mobilidade.

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Polilaminina: como funciona o tratamento

A aplicação é feita diretamente na lesão medular, por via intraespinhal, de preferência até 24 horas após o trauma. Uma única dose é administrada e acompanhada de fisioterapia. Estudos apontam, no entanto, que o medicamento pode trazer benefícios também em casos mais antigos.

Nos testes com animais, ratos e cães recuperaram movimentos após o tratamento. Em cães com lesões crônicas, parte voltou a andar poucos dias depois da aplicação.

Nos estudos acadêmicos iniciais, oito voluntários receberam a polilaminina. Todos tinham lesão neurológica completa nos primeiros dias após o acidente.

Entre eles, seis apresentaram melhora significativa, saindo do grau AIS A, ou paralisia completa, para os graus C ou D, que indicam algum nível de recuperação motora.

Um dos casos que chamaram atenção foi o de Bruno Drummond de Freitas, 31 anos. Ele ficou tetraplégico após acidente de trânsito e recebeu o medicamento 24 horas depois.

Em cinco meses, Bruno relatou ter recuperado totalmente os movimentos, voltando a praticar esportes.

Outra história marcante é a da atleta paralímpica Hawanna Cruz Ribeiro, 27 anos, que ficou tetraplégica em 2017. Após receber a polilaminina, recuperou parte do controle do tronco e a sensibilidade da bexiga; ela segue em reabilitação.

Polilaminina: caminho regulatório e novos testes

Apesar dos avanços, a polilaminina ainda não pode ser comercializada. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa autorizar a abertura de ensaios clínicos em maior escala, que confirmarão a segurança e a eficácia do tratamento.

Unidades de saúde de referência, como o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), já se preparam para iniciar protocolos assim que houver liberação.

O medicamento está em processo de patenteamento e sua produção piloto ocorre no laboratório Cristália. A matéria-prima é obtida de placentas doadas por mulheres que estiveram saudáveis no pré-natal.

Especialistas destacam ainda o impacto simbólico: a polilaminina representa um dos maiores avanços da ciência nacional no campo da medicina regenerativa, dando nova perspectiva a quem sofre com lesão medular, uma condição até hoje considerada irreversível.