Apesar do nome, surto de "varíola dos macacos" não está ligado à transmissão por primatas

Segundo a OMS, mais de 90% do casos com tipo de transmissão registrada foram contraídos durante relação sexual

A varíola dos macacos é causada pelo vírus Monkeypox (que pertence ao gênero Orthopoxvirus, o mesmo do vírus da “varíola humana”) e foi primeiro registrado em um grupo de macacos na década de 1950. Até recentemente, a infecção era conhecida pela transmissão de animais (como roedores, esquilos e primatas) para humanos. O surto atual, entretanto, vem mostrando que a doença está sendo transmitida de humano para humano.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 91,5% do casos com tipo de transmissão registrada foram contraídos após contato pele a pele durante o sexo e por fluidos corporais. Outros 6,2% foram classificados como transmissão pessoa a pessoa,  2,1% listados como outros e 0,2% por contato com material contaminado pelo vírus. 

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Na última semana, o aumento dos casos da varíola dos macacos no Brasil provocou uma onda equivocada de ataques a esses animais. Sete macacos com sinais de intoxicação e um já morto foram resgatados em Rio Preto, no interior de São Paulo, depois da confirmação de casos da monkeypox na cidade. Apenas três dos animais resgatados sobreviveram.

"Os primatas não-humanos não transmitem a doença. Eles sofrem com a doença assim como nós, seres humanos; eles também contraem essa doença e podem morrer de varíola", enfatiza o primatólogo Robério Freire Filho. Em entrevista à rádio O POVO CBN, Freire explica que "não existe qualquer relação entre a presença dos macacos e a varíola". "Essa forma da varíola só é chamada de varíola dos macacos porque os primeiros registros foram em um grupo de macacos mantidos em cativeiro para experimentos em 1958", aponta.

Ele lembra que os primatas não são uma ameaça aos seres humanos. "Muito pelo contrário, eles nos protegem ao funcionar como sentinelas. Os surtos chegam primeiro aos animais silvestres e isso se torna um indicador para a vigilância pública em saúde", afirma.

O ponto já havia sido alertado pela Sociedade Brasileira de Primatologia, em informativo publicado em 31 de maio. "É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os vilões', e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus tratos por parte da população", escreve a Sociedade com apoio de mais oito instituições. "Os primatas fazem parte da nossa biodiversidade, têm importante papel na manutenção das florestas e auxiliam nos serviços ecossistêmicos. Com isso, os primatas contribuem com a manutenção da saúde ambiental e humana", completa.

Maus-tratos, manutenção em cativeiro sem autorização e matança de animais silvestres são crimes ambientais, com pena de multa e reclusão.

OMS estuda novo nome para varíola dos macacos

 

"Existe um esforço para alterar o nome da doença, porque ele gera uma má comunicação e acaba resultando nesse tipo de evento de as pessoas tentarem ameaçar os animais silvestres", lembra Freire. Desde junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem estudando a adoção internacional de um novo nome para a monkeypox. Entretanto, a Organização não estimou um prazo para a mudança.

Nessa terça-feira, 9, a porta-voz da OMS, Margareth Harris, enfatizou que "a transmissão que vemos agora é a transmissão entre humanos". "O vírus está em alguns animais. Mas não é o que estamos vendo agora. O risco é de outro humano, e a forma de parar [a propagação da doença] é reconhecer os sintomas, buscar ajuda e cuidar para que não haja a transmissão", explicou.

Segundo Harris, "teremos notícias nos próximos dias" sobre a mudança de terminologia. Movimentos semelhantes já aconteceram com outras doenças, como a gripe H1N1 que foi chamada de gripe suína por algum tempo.

Emergência global de saúde

 

No dia 23 de julho, a OMS classificou a doença como uma emergência global de saúde. Em todo o ano de 2022, há 27.814 casos confirmados e 11 mortes registradas em 89 países, conforme boletim divulgado nessa quarta-feira, 10. A Organização informa que o Brasil é o sexto país com mais casos acumulados e o país com maior aumento de casos na última semana.

Conforme balanço do Ministério da Saúde divulgado na terça-feira, 9, o Brasil contabiliza uma morte e 2.415 casos confirmados de monkeypox em 20 estados e no Distrito Federal. No Ceará, são nove casos da doença.

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