O que é TDAH: causa, sintomas, diagnóstico e tratamento

A condição genética atrapalha o pleno desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes e a vida laboral e social de adultos. Por ser um mal perene, seu diagnóstico é essencial para evitar problemas ao longo dos anos, como acidentes e abuso de drogas. Entenda o que é o TDAH e veja como lidar como a condição

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neurobiológica condicionada geneticamente. É uma condição que aparece na infância e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge 5% da população infantil. Constantemente, as pessoas vivem com TDAH por toda a vida, embora os sintomas de inquietude se tornem mais sutis na fase adulta.

Pesquisas indicam que fatores hereditários e a alteração no funcionamento de neurotransmissores que estabelecem as conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro são as principais causas do TDAH. Estudos sugerem ainda que fatores ambientais podem implicar no aparecimento desse transtorno, mas não há acordo sobre o tema.

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“As células nervosas ‘falam umas com as outras’ utilizando uma substância química chamada de neurotransmissor (dopamina e noradrenalina no caso do TDAH). Quando a pessoa tem déficit de atenção, o que acontece é que no lobo pré-frontal, a parte mais a frente do cérebro, há uma falta dessa substância", afirma Nuno Lobo Antunes, médico neuropediatra pela Universidade de Lisboa, em entrevista dada a Dráuzio Varella em 2019.

O que é TDAH: em crianças

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade é caracterizado pela desatenção, inquietude e impulsividade e, na infância, está normalmente relacionada a dificuldades no aprendizado escolar e no relacionamento com os coleguinhas, pais e professores. Crianças hiperativas são consideradas desatentas, agitadas e avoadas.

Para facilitar a compreensão do problema, a psicóloga Iane Kestelman, presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), compara o TDAH ao diabetes. Em matéria veiculada pela Revista Veja, ela disse ser “normal que toda criança seja um pouco desatenta, agitada e impulsiva; mas, as que têm o transtorno demonstram essas características num grau de intensidade infinitamente superior em comparação com as demais''.

É preciso estar atento ao padrão comportamental das crianças e adolescentes que possam ter o TDAH. Elas, frequentemente, apresentam dificuldades para lidar com regras e limites, sendo que em meninos, os sintomas de hiperatividade e impulsividade tendem a ser mais notórios do que em meninas.

Nuno Lobo comenta em entrevista que o diagnóstico da TDAH para meninas é retardado em cerca de quatro a cinco anos em relação aos meninos. “Há meninas que têm o mesmo comportamento agitado observado nos rapazes. Mas, em cada três meninas, duas têm dificuldade em manter atenção, mas não são hiperativas. Elas são capazes de se manter focadas e de olhar para o professor em sala de aula, mas a cabeça tá em outro lugar”, comenta.

Ainda que seja um transtorno com causas fisiológicas, é uma condição subjetiva, que não requer a feitura de um exame laboratorial ou de imagem para a realização do diagnóstico, o que pode retardar a sua descoberta. Para Nuno Lobo, apesar de o TDAH ser um transtorno psiquiátrico e neurológico, assim como a depressão e outros males dessa natureza, o seu diagnóstico é real e é importante para que crianças e adultos sejam devidamente tratados.

“O fato de ser subjetivo não implica que é invenção. É bem real e com consequências muito sérias. Pessoas com TDAH têm de 3 a 5 vezes mais acidentes do que a população em geral; duplicam o abuso de drogas na adolescência e o divórcio dos pais da criança com essa condição também aumenta de 3 a 5 vezes”, comenta Nuno Lobo.

O que é TDAH: em adultos

“Por ser uma doença com descrição relativamente recente e o reconhecimento no adulto ter sido feito somente na década de 1980, o seu comportamento, sintomatologia e consequências têm sido progressivamente mais compreendidos, assumindo uma tendência de evitar cada vez mais casos não diagnosticados e, consequentemente, diminuir o impacto pessoal, social e econômico dessa afecção”, escreveu Gustavo Melo de Andrade Lima, Médico neurologista voluntário do Ambulatório de Neurologia do Comportamento e Cognição da Unifesp.

Normalmente, em adultos, há problemas vinculados à desatenção para coisas rotineiras, bem como ao esquecimento, o que frequentemente implica a ocorrência de outros problemas, como o uso de álcool e demais drogas, ansiedade e depressão. Quando crianças, portadores do TDAH, por apresentarem pior desempenho que os amiguinhos em diversas atividades, já que não se adaptam bem às demandas escolares e sociais, podem apresentar sintomas de autodepreciação, incapacidade e irritabilidade, fomentando, muitas vezes, o desenvolvimento de outros transtornos do humor.

“Aqueles sintomas que se apresentavam como hiperatividade na infância, na idade adulta podem se manifestar como sensações de inquietude, impaciência, labilidade, fadiga e serem confundidos com sintomas de ansiedade”, comenta Gustavo Melo.

Os adultos costumam ter dificuldade para organizar e planejar atividades do dia a dia. Estressam-se facilmente ao assumirem diversos compromissos, frequentemente precisando de auxílio para serem lembrados dos compromissos do cotidiano e de finalizarem o que uma vez iniciaram, o que pode gerar problemas em casa e no trabalho.

“Eles têm uma chance maior de estarem desempregados ou de terem passado por vários empregos, além de terem um índice de divórcio muito maior do que indivíduos que não são portadoras dessa condição. Muitas vezes, os sintomas do TDAH são confundidos com traços de personalidade e acabam sendo chamadas de egoístas”, comentou o psiquiatra Paulo Mattos em reportagem do Fantástico sobre o tema.

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção com Hiperatividade, estudos já relacionaram o TDAH com causas genéticas, uso de substâncias ingeridas na gravidez, sofrimento fetal e exposição ao chumbo.

Ainda de acordo com a Associação, apesar de algumas teorias sugerirem que problemas familiares poderiam causar TDAH, até o momento acredita-se que isso não seja a causa do problema. Apesar da intensidade de situações vivenciadas pelos portadores do transtorno poderem agravar o problema, está claro que a hereditariedade é fator determinante para o aparecimento dos sintomas dessa condição.

Os portadores de TDAH parecem ter alterações na região do córtex cerebral pré-frontal e nas suas conexões com o restante do cérebro. Essa região é uma das mais desenvolvidas no ser humano em relação a outros animais e é responsável pela inibição e controle de comportamentos inadequados e pela capacidade que a pessoa tem de organizar, planejar, prestar atenção, memorizar coisas e ter autocontrole.

O que é TDAH: o diagnóstico

Não há exames laboratoriais. O diagnóstico é clínico. É importante estar atento aos sintomas; se causarem prejuízos à pessoa, é crucial buscar um médico psiquiatra ou neuropediatra, e no caso de crianças e adolescentes, para que a questão seja criteriosamente avaliada.

Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria listou 18 sintomas e manifestações do distúrbio na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), referência mundial em psiquiatria. Do total, nove sintomas são de desatenção e nove de hiperatividade e impulsividade.

Caso o paciente seja criança ou adolescente, deverá apresentar no mínimo seis sintomas específicos de desatenção e seis de hiperatividade ou impulsividade para serem diagnosticados com TDAH.

Caso seja adulto, deverá apresentar pelo menos cinco de cada um. Via de regra, os sintomas devem ter aparecido antes dos 12 anos e deveriam causar, obrigatoriamente, problemas em casa e na escola, trazendo prejuízo à vida familiar e escolar da criança por pelo menos seis meses.

O que é TDAH: os sintomas

  • Tem dificuldade para prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos e tarefas da escola;
  • Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer;
  • Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele;
  • Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações;
  • Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;
  • Evita se envolver em tarefas que exigem esforço mental prolongado;
  • Perde coisas necessárias para atividades (brinquedos, tarefas de casa, lápis ou livros);
  • Distrai-se facilmente com estímulos do ambiente;
  • É esquecido em atividades corriqueiras;
  • Mexe muito as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira
  • Sai do lugar na sala de aula ou e tem dificuldade em esperar sentado;
  • Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado;
  • Tem dificuldade em manter a calma ao brincar ou se envolver em atividades de lazer;
  • Não para, é frequentemente agitado, “pilhado”;
  • Fala excessivamente;
  • Responde às perguntas precipitadamente antes mesmo de elas terem sido terminadas;
  • Tem dificuldade de esperar sua vez;
  • Interrompe os outros ou se intromete.

O que é TDAH: o tratamento

O tratamento consiste basicamente em psicoterapia e na prescrição de metilfenidato (ritalina), uma medicação psicoestimulante, e de antidepressivos. A existência de comorbidades ou de outras doenças associadas influenciará na prescrição,ou não, dos remédios que serão receitados além da ritalina, de modo que possam auxiliar na melhora da qualidade de vida do portador de TDAH.

Geralmente, os efeitos positivos dos medicamentos surgem em questão de semanas. Os efeitos colaterais, como insônia, falta de apetite, dores abdominais e cefaleia, tendem a ser leves e costumam ocorrer no início do tratamento, enquanto o organismo não se adapta ao uso desses fármacos.

“Em termos de eficácia, a medicação é seguramente o (método) mais eficaz. É conhecida desde 1940, é muito segura, tem poucos efeitos acessórios e, muitas vezes, salva vidas no sentido da qualidade”, diz Nuno Lobo. Em função dos desajustes pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH, sugere-se ainda cuidados de equipe multidisciplinar aos pacientes com essa condição, sendo necessário, além do acompanhamento médico, o acompanhamento de psicólogos, terapeutas ocupacionais etc.

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