Comentários de ódio na internet indicam alerta para saúde mental na adolescência

Após morte do filho de 16 anos, a paraibana Walkyria Santos alertou para possíveis gatilhos na adolescência e os cuidados com a saúde mental dessas pessoas. Saiba como buscar ajuda

A cantora paraibana Walkyria Santos reacendeu um debate sobre os cuidados com a saúde mental entre crianças e adolescentes após a morte do filho de 16 anos. Nas redes sociais, a artista alertou para os comentários de ódio na internet e possíveis gatilhos presentes entre as idades da adolescência e da pré-adolescência, dos 10 aos 18 anos. Durante o período de isolamento social, o debate sobre o assunto tornou-se ainda mais preciso. Especialistas alertam para possíveis sinais de ajuda. 

Segundo dados da plataforma IntegraSUS, 71 pessoas entre 10 e 29 anos tiraram a própria vida no Ceará em 2021. Desses, cerca de 23% dos casos correspondem aos adolescentes entre 15 a 19 anos. Os pais e responsáveis devem estar alertas durante o intervalo de idade que marca a passagem da infância para a vida adulta. De acordo com a psicóloga e psicanalista Tamires Marinho, os adolescentes "estão desconstruindo a imagem da figura paterna e materna de perfeição". Ela destaca que a formação da identidade do jovem na participação em grupos de amigos ajudam esses adolescentes a "se sentirem parte de algo", sendo fator vital nesse processo.

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A necessidade de se reencontrar fora do vínculo familiar é tema importante para os adolescentes. Marinho aponta que o turbilhão de sensações junto à autodescoberta pode promover ataques às individualidades entre os próprios adolescentes. "Um fator muito recorrente é a falta de pensamento do outro como um sujeito dotado de sentimentos e expressões. É como julgar moralmente outra pessoa para favorecer sua própria identidade. Eu ataco para me sentir mais seguro e reafirmar quem eu sou", exemplifica a psicanalista.

Filho de Walkyria, Lucas Santos foi encontrado morto na tarde do último dia 3, no condomínio onde onde morava com a mãe, em Natal, no Rio Grande do Norte. Em vídeo publicado no Instagram, Walkyria emitiu o alerta para os comentários de um vídeo que Lucas havia publicado. "Ele postou um vídeo no TikTok, uma brincadeira. Achou que as pessoas iriam achar engraçado. Mas como sempre, as pessoas destilaram ódio na internet", lamentou.

Comentários de ódio na internet

Segundo a psicóloga Ivana Teles, comentários maldosos na internet - junto ao período de intensas mudanças na adolescência - podem ser gatilho para o indivíduo. "O gatilho ativa um conjunto de fatores. É um assunto que ainda está sendo trabalhado e fortalecido dentro do paciente, mas uma determinada fala ou postura relembra todo o processo ainda em desenvolvimento de forma negativa", explica.

A cantora de forró clamou para que mães, pais e responsáveis observem possíveis sinais de precaução com os adolescentes em casa. "Eu fiz o que pude. Ele já tinha mostrado sinais, eu já tinha levado ao psicólogo, conversado várias vezes com ele... mas foi isso: comentários na internet, nesse TikTok nojento (sic) que fez com que ele chegasse a esse ponto", relatou a mãe enquanto segurava um casado do filho, a última roupa usada por Lucas.

Ao O POVO, as especialistas enfatizam os pedidos de cuidado de Walkyria. Isolamento familiar, irritabilidade fácil, poucas conversas e falta de vontade ao realizar hábitos antes prazerosos podem ser sinais de que algo não está bem na vida do adolescente e que podem indicar um pedido de ajuda. Buscar acompanhamento psicológico e psiquiátrico o quanto antes, acolher, se mostrar disposto a ajudar e entender os sentimentos e a fase durante o período da adolescência pode contribuir para uma melhora do quadro. "O que pode acontecer é a família só buscar ajuda profissional quando a situação já está em um nível incontrolável", pontua Tamires Marinho. "O processo pode durar um pouco mais para algumas pessoas e um pouco menos para outros adolescentes".

Tamires destaca ainda que os adolescentes "buscam esconder" as angústias a todo custo pois podem ter medo de expor suas vidas íntimas aos pais: "E isso é muito importante porque toda a questão do adolescente é se ele vai ser aceito ou não", destaca a psicanalista. "Não há aviso quando o adolescente vai tentar algo assim". 

Ivana Teles destaca que "quem pratica o suicídio não está querendo acabar coma própria vida, mas é um sujeito que tem um grande sofrimento, não sabe como lidar com o assunto e pensa que não há luz no fim do túnel". "Sabemos que na adolescência há um processo de autoconhecimento. Você não é um adulto e também não é mais uma criança. Ainda mais na pandemia, o hábito de guardar as emoções pode ser perigoso", explica.

Prejuízos do "julgamento" na internet

O cuidado com os familiares e responsáveis que ficam após a partida do adolescente também deve ser considerado. "Muito mais do que sentir culpa, é fundamental entender o que está acontecendo para lidar com essa sensação. Realmente, não é algo que existe um culpado", cita Teles. A psicóloga também enfatiza um cuidado com os "canceladores" da internet. "Como eu posso mudar? É interessante entender os prejuízos desse julgamento desenfreado para rever as próprias posturas e, assim, diminuir essas ações no futuro".

Artistas como Viih Tube - "descancelada" por internautas após sua participação no BBB21 - e Juliette, vencedora do reality, prestaram apoio à mãe de Lucas Santos. Luiza Sonza, que recentemente se afastou das redes sociais para cuidar da saúde mental após receber ataques por conta da morte do filho do ex-marido Whindersson Nunes, também lamentou o ódio recebido por Lucas na internet. "Vocês tem noção como haters são destrutivos literalmente?", comentou. A artista revelou, em entrevista ao Fantástico, que ainda não está recuperada dos ataques.

Posicionamento do TikTok

O POVO procurou o TikTok, rede social apontada por Walkyria como gatilho para a morte do filho. A empresa lamentou o caso em comunicado via porta-voz. "Estamos profundamente tristes com esta tragédia. Temos como nossa principal prioridade dar apoio ao bem-estar da nossa comunidade e fomentar um ambiente acolhedor e inclusivo, onde todos se sintam seguros para se expressar de forma autêntica", informaram em nota.

"Comentários de ódio, que violam nossas políticas e prejudicam nossa comunidade, são removidos da nossa plataforma. Também trabalhamos com especialistas, como o CVV (Centro de Valorização da Vida), para dar apoio e oferecer recursos para qualquer pessoa que possa estar passando por um momento difícil. Enviamos nossos sentimentos mais sinceros para a família e amigos do Lucas", conclui o comunicado.

Como buscar ajuda

> Acesse a cartilha de Prevenção do Suicídio na Internet, organizada pela SaferNet

Centro de Valorização a Vida

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Telefone: 188

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)

Sedes em Fortaleza

Psicologia Viva: atendimentos de psicólogos online

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Tá tudo Bem?

Ferramenta de auxílio para a prevenção ao suicídio além de informar sobre o tema e desmistificá-lo, eliminando qualquer tipo de tabu ou preconceito. Disponível para Android e iOS.

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