Procedimento pioneiro no tratamento de arritmia cardíaca grave causada pela Doença de Chagas é realizado em Fortaleza

Para tentar minimizar sequelas da Doença de Chagas, mulher passou pelo procedimento no início de junho

Um procedimento para minimizar as consequências deixadas pela Doença de Chagas (DCA), que gerou um quadro chamado “tempestade elétrica” no coração de uma paciente idosa, foi realizado no início do mês de junho pelo Dr. Ronaldo Távora, cardiologista pelo Sistema Hapvida, no Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza. A DCA pode deixar sequelas em até 30% dos pacientes, que podem desenvolver alterações graves principalmente no esôfago, intestino e coração. Quando o último órgão é afetado, pode gerar cardiopatia chagásica, uma insuficiência cardíaca que pode levar à morte súbita.

Quando arritmias cardíacas graves se manifestam em múltiplos episódios diários, caracteriza-se como um quadro de "tempestade elétrica". Antônia Viana Martins, 64, quando morava em uma fazenda no interior do Estado, foi picada pelo Trypanosoma cruzi, protozoário flagelado agente da doença, na gestação do terceiro filho, atualmente com 39 anos. A paciente, que tinha um cardiodesfibrilador implantado no coração desde 2011, foi submetida ao procedimento no dia 1º de junho na tentativa de minimizar os choques elétricos que recebia com frequência.

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“Ela vinha tomando dois antiarrítmicos, betabloqueador e remédios para a insuficiência cardíaca. Tinha um cardiodesfibrilador implantado, mostrando múltiplos episódios de taquicardia ventricular e múltiplos choques”, esclarece o médico.

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De acordo com o Dr. Ronaldo, muitos pacientes acometidos pela cardiopatia chagásica necessitam passar pelo processo de implante de um cardiodesfibrilador, aparelho subcutâneo parecido com um marca-passo, que libera choques elétricos diretamente no coração quando o órgão apresenta arritmias muito severas.

“É uma descarga de 40 joules. Se você imaginar o que isso significa, é como se eu soltasse um tijolo de 1kg, a 4 metros de altura, em cima do seu peito”, explica o cardiologista. Apesar da função primordial de salvar vidas, o médico ressalta que é extremamente incômodo viver com uma rotina de eventos como estes.

Após diversos internamentos nos últimos meses por quadros de "tempestade elétrica", Antônia foi acometida, em maio deste ano, por uma sequência de 25 choques deflagrados pelo cardiodesfibrilador em apenas 5 dias, sendo 10 deles em apenas 24 horas.

Para tratar o caso, Dr. Ronaldo explica que o procedimento realizado consistiu em uma espécie de cateterismo para queimar os focos de arritmia dentro do coração, chamada ablação. A intervenção foi realizada por meio de cateteres, sem a necessidade de abertura do tórax para acesso ao coração, possibilitando uma rápida recuperação à paciente.

“O procedimento da paciente Antônia visava localizar e tentar consertar, em partes, os eventos de arritmias. Isso foi feito com aplicações de radiofrequência, como um bisturi elétrico, diretamente no coração através de um cateter”, explica.

Ainda, o houve ablação das artérias renais pra diminuir a descarga de adrenalina no coração e reduzir a possibilidade de novos eventos. Nos rins, há diversos nervos que, quando estimulados, enviam impulsos ao cérebro que responde com uma maior produção de adrenalina, aumentando a pressão arterial, a frequência cardíaca e, consequentemente, levando a maiores riscos de arritmias.

“Sendo assim, durante a intervenção para ablação de focos de arritmia dentro do coração optamos por fazer aplicações também dentro das artérias renais para tentar reduzir esta estimulação cardíaca sinalizada pelos rins e diminuir ainda mais as chances de novos episódios de arritmias”, esclarece o Dr. Ronaldo.

A melhoria não é imediata, sendo necessário verificar ao longo das semanas e dos meses a redução do número de arritmias ventriculares. Atualmente, a idosa se encontra há 39 dias tomando apenas um antiarrítmico e segue com a saúde estabilizada, sem apresentar sequer palpitações.

“Infelizmente, o procedimento não é curativo. É uma arritmia complexa em uma cardiopatia grave. Não podemos falar em cura. A ideia é reduzir o número de eventos e permitir uma melhor qualidade de vida com menor risco de morte súbita”, finaliza o cardiologista.

Doença de Chagas no Brasil

A Doença de Chagas (DCA), ainda em 2021, é uma patologia super prevalente no País. Somente no Ceará, mais de 20 mil casos foram diagnosticados, estimando que ainda existam outros 260 mil infectados. Os números levam em conta que até 70% dos pacientes podem permanecer décadas de forma assintomática com a doença no organismo.

O diagnóstico da doença de chagas é feito por meio do exame de sangue. Os testes da doença de chagas são recomendados especialmente para pacientes que apresentam os sintomas da condição e que vivem nas regiões onde essa patologia é endêmica e comum, como a região Norte do País.

Os sintomas incluem, de modo geral, febre, aparecimento de gânglios, crescimento do baço e do fígado, alterações elétricas do coração ou inflamação das meninges nos casos graves. Na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados a distúrbios no coração ou no esôfago e no intestino.

(Dados retirados do portal Fiocruz, da Fundação Oswaldo Cruz)

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