É possível contrair o coronavírus mais de uma vez?

Autor DW Tipo Notícia
Casos de reinfecção em Hong Kong, Holanda e Bélgica lançam dúvidas em relação tanto à possibilidade de uma imunidade permanente contra a covid-19, quanto à eficácia das vacinas em desenvolvimento por todo o mundo.No decorrer da pandemia de covid-19, tem-se tido notícias de possíveis reinfecções. Na maioria dos casos, porém, elas foram atribuídas a falhas nos procedimentos de exame, falsos negativos ou restos virais do primeiro contágio. Agora, no entanto, há reinfecções documentadas de Hong Kong, Holanda e Bélgica. Nos três casos, pacientes já recuperados foram infectados meses mais tarde, ao que tudo indica, por uma mutação do vírus Sars-Cov-2.O indivíduo de Hong Kong, de 33 anos, apresentou leves sintomas de covid-19 em meados de março, no dia 26 seu exame deu positivo. Ele permaneceu hospitalizado até 14 abril, quando recebeu alta, após dois testes negativos.O segundo contágio provavelmente ocorreu durante uma viagem de negócios à Espanha, e foi descoberto por acaso, quando, em 15 de agosto, ele se submeteu no aeroporto de Hong Kong a um teste de rotina, cujo resultado foi positivo. Como medida de cautela, o homem voltou a ser hospitalizado, apesar de não apresentar sintomas.Análises genéticas comprovaram não se tratar do primeiro contágio, mas sim de uma forma mutante do vírus. Segundo Kelvin Kai-Wang To, professor clínico associado de Departamento de Microbiologia da Universidade de Hong Kong, as análises mostraram que os dois genomas virais pertenciam a cepas diversas do novo coronavírus. As duas variantes diferiam em 24 nucleotídeos, os componentes básicos do material genético.É sabido há bastante tempo que, como é comum entre os vírus, o Sars-Cov-2 sofreu numerosas mutações no decorrer da pandemia, apresentando modificações sucessivas de partes de sua estrutura proteica. Para os cientistas chineses, portanto, neste caso trata-se sem dúvida de uma nova infecção.Isso significa que, mesmo após vencer a doença respiratória, é possível se contaminar novamente com o coronavírus. Como observam os pesquisadores de Hong Kong, esse tipo de reinfecção também ocorre com outros coronavírus sazonais do resfriado, como o 229E, OC43, NL63 e HKUI24.Dúvidas sobre futuras vacinasTambém no caso do paciente da Holanda, um homem idoso, com o sistema imunológico debilitado, o código genético do patógeno causador da segunda infecção é claramente diverso, informa a virologista e conselheira do governo holandês Marion Koopmans.A reinfecção não a surpreendeu: "Sabemos de outras infecções das vias respiratórias que a proteção imunológica não é vitalícia, e não esperamos isso da covid-19", disse, numa rádio holandesa. No entanto, agora é preciso esclarecer se tais reinfecções são frequentes ou se se trata de casos isolados.Na Bélgica, uma paciente voltou a adoecer após três meses. Também aqui a análise do sequenciamento genético indicou 11 mutações do vírus na segunda infecção, o que "não é uma boa notícia", como comentou o virologista Marc Van Ranst na emissora belga VTM.Caso se confirmem as reinfecções, será um forte indicador de que a imunidade contra o novo coronavírus é de breve duração. Assim, após sarar da covid-19, pelo menos alguns pacientes só disporiam de proteção parcial, nem todos desenvolvendo anticorpos suficientes.Contudo, mesmo oito meses após a eclosão da pandemia, muitas questões permanecem em aberto, e também para os cientistas é difícil ter uma visão geral, pois por todo o mundo se pesquisa sob pressão extrema, e muitos resultados são publicados rapidamente e sem a necessária verificação pela comunidade científica.Até o momento, não estão disponíveis estudos detalhados sobre os casos da Holanda e Bélgica. E também sobre a reinfecção documentada em Hong Kong só se conhecem excertos de um artigo científico, publicados no Twitter por uma repórter do jornal South China Morning Post, e igualmente não verificados.Mais de 150 vacinas contra o Sars-Cov-2 estão sendo testadas atualmente. Recentemente, a Rússia aprovou a Sputnik V, e sete outros candidatos já estão na fase 3 dos testes clínicos. Até estes estarem concluídos e serem apresentados estudos de longo prazo, não se pode garantir o grau de eficácia das substâncias, ou se também protegem contra as formas mutantes.Caso as reinfecções se confirmem, é improvável que o coronavírus desapareça através da imunidade de rebanho, sendo possível que as vacinas em desenvolvimento não oferecerão imunização permanente contra o agressivo patógeno.___________A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Facebook Messenger | Twitter| YouTube | App | Instagram | NewsletterAutor: Alexander Freund (av)

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