Heloísa Helena assume mandato na Câmara e diz que apoio ao governo Lula será caso a caso

Em entrevista ao O POVO News, deputada defendeu justiça social, criticou concessões ao poder econômico e falou sobre a relação com a ministra Marina Silva

14:58 | Dez. 18, 2025

Por: Wilnan Custódio
Heloisa Helena voltou à Câmara dos Deputados (foto: Reprodução/ Instagram @_heloisa_helena)

Heloísa Helena (Rede) voltou à Câmara dos Deputados para um mandato de seis meses, após o afastamento do deputado Glauber Braga (Psol) com um discurso de independência em relação ao novo governo de Lula. Em entrevista ao O POVO News, na quarta-feira, 17, ela afirmou que não atuará para “agradar ninguém” e que se posicionará guiando-se pelo impacto das propostas na vida real da população mais vulnerável.

Logo no início da conversa, a deputada disse que não se coloca nem como aliada automática nem como oposição sistemática. “Democracia, para mim, sem justiça social não é democracia”, afirmou, ao defender que projetos positivos para educação, saúde e redução das desigualdades terão seu voto, independentemente de quem os proponha.

Heloísa Helena também fez críticas diretas ao que chama de promiscuidade política no Congresso e às concessões feitas por sucessivos governos ao poder econômico. Segundo ela, esse movimento ajuda a alimentar forças antidemocráticas. “Todos os governos cederam covardemente a esse componente medíocre da política”, disse, ao analisar o cenário atual.

Ao falar do governo Lula, a deputada reforçou que não mudou de postura desde os embates do início dos anos 2000. “O que for bom para a população pobre, vulnerável econômica e socialmente, eu vou votar a favor. O que não for, eu vou combater com todas as minhas forças”, declarou, ressaltando que não aceita concessões em troca de espaço ou cargos.

Ela também contextualizou seu retorno ao Parlamento após 18 anos, afirmando que assume o mandato de forma crítica e sem ilusões. “Estou mais madura e mais dura para combater aquilo que entendo como fundamental”, disse, ao comentar o afastamento de Glauber Braga e o ambiente político atual, marcado por forte polarização.

Extremismo e polarização

A deputada avaliou ainda que a extrema direita não surge por falhas do eleitorado, mas por escolhas estruturais do sistema político. Para ela, combater desigualdades profundas é condição essencial para enfrentar o avanço do autoritarismo e fortalecer o Estado democrático de direito.

Encerrando a parte principal da entrevista, Heloísa Helena reafirmou que sua atuação será marcada pela coerência. “Nunca mudei de posição para agradar o poder. Se não fiz isso quando era jovem, não vou fazer agora”, afirmou, sinalizando uma passagem breve, mas combativa, pela Câmara.

Relação com Marina Silva

Questionada sobre a relação com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Heloísa afirmou que não mantém conflitos pessoais, mas que sabe diferenciar divergência política de conivência. Segundo ela, não compactua com o que chamou de “moralismo farisaico” e com práticas que, em sua avaliação, fazem parte da lógica de conveniência da política institucional.

A deputada criticou decisões do governo na área ambiental, como processos de privatização e concessões, e afirmou que não consegue fingir normalidade diante do que considera incoerências graves. “Eu não tenho essa flexibilidade da safadeza política”, disse, ao rejeitar relações baseadas em silêncio estratégico ou cordialidade artificial.

Heloísa Helena ressaltou que respeita trajetórias individuais, mas não aceita ser cobrada por alinhamentos automáticos. Para ela, a política brasileira naturalizou relações marcadas por tapinhas nas costas e traições nos bastidores — lógica que diz não tolerar. “Não gosto de duas conversas. Não ponho coleira em ninguém e não aceito canga neste pescoço”, afirmou.

Ao final, ela disse que não rompe por rancor, mas por princípio. Disse desejar “toda a sorte do mundo” à ministra e a qualquer pessoa que atue na vida pública, desde que haja respeito mútuo. “Se não me respeitar, eu rompo. Ou vou para o enfrentamento. É simples assim”, concluiu, dizendo que a atuação seguirá sendo dura e sem concessões à "política de conveniência".

PL da dosimetria: “uma aberração”

Ao comentar o projeto que altera regras de dosimetria das penas, a deputada foi direta ao classificar a proposta como um desvio de prioridades do Congresso. Para ela, o debate ocorre em meio a um sistema prisional marcado por injustiças profundas e abandono do Estado.

“Fazer uma lei para beneficiar uma única pessoa ou um grupelho político é uma aberração”, afirmou, ao criticar a personalização do debate penal. Embora reconheça que a legislação brasileira precisa de ajustes, ela destacou que mudanças devem atender ao interesse coletivo.

Heloísa Helena ressaltou que milhares de presos seguem sem acesso efetivo à Justiça, muitos por crimes de menor gravidade, enquanto projetos estruturais seguem parados. Segundo ela, o foco deveria estar em prevenção da violência, ressocialização e garantia de direitos básicos.

A deputada disse ser contrária ao PL nos moldes atuais por entender claramente sua finalidade política. “Neste caso específico, eu voto contra porque sei exatamente a que ele se destina".

Ao final, ela alertou que flexibilizações penais seletivas corroem a credibilidade do sistema jurídico e aprofundam desigualdades. Para Heloísa Helena, discutir dosimetria exige seriedade e compromisso com a vida real, e não interesses conjunturais ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.