Pastor diz que 4 jovens da igreja foram mortos em operação da Polícia: 'Nunca portaram fuzis"
O deputado Otoni de Paula discursa no Plenário da Câmara contra a megaoperação do Rio que tirou a vida de mais de 120 pessoas
Durante forte discurso no plenário Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados, o deputado e pastor Otoni de Paula falou sobre a morte de inocentes na operação policial que matou pelo menos 121 pessoas no Rio de Janeiro.
O deputado relatou o assassinato de quatro jovens que frequentavam a igreja evangélica na qual ele é pastou e disse que eles “nunca portaram fuzis”.
Mesmo nunca terem pegado numa arma de fogo, de acordo com o pastor, os quatro jovens serão apresentados como criminosos. “Preto correndo em dia de operação na favela é bandido. Preto com chinela havaiana, sem camisa, pode ser trabalhador. Correu, é bandido”, ele afirma, ao ressaltar que o Estado nunca irá investigar os assassinatos, se são todos criminosos ou não, inclusive esses quatro meninos.
Comparando o número de mortos que eram moradores dos complexos e os quatro policiais, Otoni de Paula afirma que “quem morreu ontem foram os adolescentes e os jovenzinhos que nem sabem portar fuzil”.
“Quem tá falando aqui é pastor, e não é pastor progressista, não. Só de gente, de filho de gente da igreja. Eu sei que morreram quatro ontem”.
Para o pastor, é fácil dizer: “que bom que matou” quando seu filho está seguro. Ele relatou o pânico dele próprio por o filho estar sempre dentro de uma comunidade e ser um rapaz preto. "Ontem eu tive que dizer: ‘Vai pra casa, que roupa você está vestindo?’. Eu ensino a ele que tem que andar de roupa legal, bonito. Sabe por que? Porque é preto”, afirmou.
Ele reconheceu que a Polícia precisa atirar, pois é recebida a balas, mas critica o Estado do Rio de Janeiro não ter ocupado o território após a operação.
Otoni reforçou que o combate ao crime só será eficaz se houver o "sufocamento" do dinheiro do crime. O pastor argumentou que esse dinheiro não está na favela, "Quem controla o dinheiro do crime não é favelado, não é preto. Quem controla o dinheiro do crime é branco do olho verde e que tem faculdade e universidade", apontou.
"Mas é mais fácil entrar com o pé na porta do favelado, do que entrar com o pé na porta do doutor que é o verdadeiro financiador do pobre que tá portando um fuzil."
Ele completou: "Nada mais é do que um teatro espetacular proporcionado pelo governador do Rio de Janeiro para dar a falsa impressão à população de que alguma coisa está sendo resolvida. Mas como está sendo resolvida se a Polícia que entrou ontem, não está mais lá hoje?", disse sobre a operação da terça, 28.