Petistas comemoram "postura firme", bolsonaristas veem "Lula incomodado" em encontro com Trump

Nas redes sociais, campos políticos do Brasil disputam interpretações sobre o encontro deste domingo entre presidentes de Brasil e Estados Unidos

16:51 | Out. 26, 2025

Por: Agência Estado
Encontro entre presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente do Brasil, Lula, durante o 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lampur, Malásia (foto: Ricardo Stuckert / PR)

O encontro entre o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, com o governante dos Estados Unidos, Donald Trump, neste domingo, 26, em Kuala Lumpur, na Malásia, tornou-se objeto de disputa de interpretações entre petistas e bolsonaristas nas redes sociais.

Aliados do presidente Lula comemoraram a reunião no X. A estratégia dos governistas foi a de capitalizar a postura de Lula como um "estadista" e um político de diálogo com "postura forte", após os meses em que a Casa Branca esteve fechada para o governo brasileiro.

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) destacaram a menção de Trump ao ex-presidente na entrevista antes da reunião, e o que consideram que teria sido a reação do ex-presidente brasileiro à fala do americano.

O que disseram os aliados de Lula?

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, escreveu em sua conta no X que a conversa destravou negociações sobre o tarifaço. Para ela, o encontro abriu o diálogo sobre as sanções da Lei Magnitisky e sobre a preservação da paz na América do Sul.

"Lula mostrou mais uma vez como deve agir um verdadeiro líder, defendendo os interesses do País e da região, sem abrir mão da soberania nacional e com a máxima dignidade pessoal. Momento para lembrar que, há apenas três meses, Bolsonaro, sua família e seus aliados, como Tarcísio Freitas, festejavam os ataques injustos ao nosso país e aos ministros do STF", escreveu, citando o governador de São Paulo.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), declarou que o encontro simboliza a "volta de um Brasil que fala de igual a igual com o mundo". Segundo Lindbergh, o presidente foi "firme" ao cobrar o fim da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e deixou claro que está aberto ao diálogo.

"As equipes dos dois governos começam a negociar imediatamente um novo acordo comercial, capaz de proteger os empregos e a indústria nacional. Lula age com pragmatismo e responsabilidade, buscando saídas concretas para revogar as sanções políticas e econômicas sem abrir mão da autodeterminação do Brasil", disse Lindbergh.

Lindbergh também atacou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sugerindo que eles sofreram um revés ao ver um aliado tratando Lula cordialmente.

"Dá para imaginar o clima na família Bolsonaro neste domingo ver o 'ídolo' deles recebendo Lula com respeito, depois de dedicarem anos de bajulação e subserviência, deve ser um golpe duro no orgulho da turma que sonhava com um Brasil colonizado", disse o líder do PT na Câmara.

Já o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse que Lula mostrou que é "um dos maiores estadistas do nosso tempo" e também citou que o presidente adotou uma "postura firme". "Independente de quem esteja do outro lado da mesa, o Brasil e o nosso povo sempre estarão em primeiro lugar", disse Wagner.

O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), sugeriu que Trump teria ficado encantado com o "carisma" de Lula durante o encontro na Malásia. "Tem coisa que nem a inteligência artificial consegue prever. Mas aconteceu: Lula e Trump lado a lado. Eu te entendo, Trump, é difícil resistir ao carisma do nosso presidente", disse Rodrigues.

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, afirmou que o Brasil manterá a relevância no cenário mundial se "defender respeito e a soberania". "O mundo precisa fortalecer os mecanismos do multilateralismo. É em mais diálogo e não em imposições que resolveremos os problemas do planeta", completou.

Na Esplanada, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, publicou uma análise da reunião entre Lula e Trump. Segundo ele, a reunião marcou um "novo olhar" mais pragmático e menos ideológico de Washington à Brasília. O ministro disse também que Lula saiu vencedor do encontro e pregou a derrota sobre Bolsonaro e governadores da direita que são pré-candidatos à Presidência da República em 2026.

"E ganha, claro, Lula. Mostra-se ao mundo como negociador experiente, capaz de defender o Brasil sem bravata, sem submissão. A velha escola sindical ainda funciona: ouvir, dialogar, arrancar resultados", disse Marinho.

O ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que Lula mostrou, mais uma vez, "sua força e capacidade de diálogo". "Conversar com quem pensa diferente é essencial para construir pontes, aproximar nações e transformar divergências em oportunidades", completou.

O secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços (SDIC), Uallace Moreira, destacou a atuação do chefe, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e presidente em exercício, Geraldo Alckmin, além de Lula durante a crise tarifária. Moreira disse também que a conversa na Malásia foi uma "aula de diplomacia e negociação estratégica".

"O presidente Lula e o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin desde o início construíram uma estratégia de negociação colocando em primeiro lugar a soberania do Brasil, com a clareza de defender o setor produtivo brasileiro e os empregos", afirmou o secretário.

O que Trump falou sobre Bolsonaro?

Aliados de Bolsonaro apostaram em declarar no X que Lula se sentiu incomodado com a citação ao ex-presidente brasileiro feita por Trump, como forma de diminuir o encontro entre os chefes de Estado.

Durante o início do encontro entre Lula e Trump, que foi aberto à imprensa, Trump respondeu à imprensa afirmando que "sempre gostou" de Bolsonaro e disse que o ex-presidente "passou por muita coisa". Lula aparece sorrindo com a resposta do líder americano. A situação jurídica do ex-capitão da reserva não foi discutida no encontro fechado entre os dois.

"Eu sempre gostei dele, fiquei muito mal com o que aconteceu com ele", respondeu o americano, sem dizer se desejava tratar do tema. "Sempre achei que ele era um cara honesto, mas ele já passou por muita coisa", disse Trump.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se autoexilou para promover as sanções americanas contra o Brasil em troca do afrouxamento das punições contra o pai, foi o primeiro a usar as redes sociais para endossar que Lula teria se sentido incomodado com a citação ao ex-presidente.

"Lula encontra Trump e na mesa um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: Bolsonaro. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?", disse Eduardo.

O deputado Hélio Lopes (PL-RJ), aliado próximo ao presidente, também reagiu ao momento em que Trump fala sobre Bolsonaro e sugeriu um incômodo de Lula: "O corpo fala".

O deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) declarou que Trump teria chamado Bolsonaro de "grande homem" do lado de Lula, o que não ocorreu na declaração aberta. O parlamentar também disse que a reunião na Malásia não foi como o presidente esperava e atacou a imprensa.

"Na cara do Lula, Trump rasga elogios a Bolsonaro e chama-o de 'grande homem'. Parece que a reunião não saiu como o Barbudinho esperava. A imprensa ontem correu para dizer que 'Bolsonaro era página virada para Trump'. A imprensa militante é um câncer", disse.

O deputado Evair de Melo (PP-ES) também disse que Trump chamou Bolsonaro de "grande homem", classificou a suposta interação como um "fiasco na cara do Lula" e afirmou que Bolsonaro "segue sendo referência mundial".

"Enfim, Lula resolveu agir como presidente de uma grande nação. Depois de quase dois anos bajulando ditadores, atacando o agro e isolando o Brasil, finalmente sentou à mesa com Donald Trump.Mas o resultado? Nenhum. Nenhum acordo, nenhuma proposta, nada de concreto - apenas uma foto pra inglês ver", disse Evair de Melo

Já o deputado Bibo Nunes (PL-RS) buscou afirmar que a intenção de Trump, na conversa com Lula, é a de afastar o Brasil da China, e não de buscar aproximação com o governo petista. Bibo também disse que, apesar de negociar questões econômicas, o presidente dos Estados Unidos "jamais cederá um milímetro na pauta política".

"Trump negocia a economia com o desgovernante Lula, mas jamais cederá um milímetro na pauta política, onde a ideologia e atitudes de Lula com seus asseclas são inaceitáveis", afirmou Bibo Nunes.

Postagens de Eduardo

O filho do ex-presidente também afirmou, em outras postagens, que a "empatia" une Bolsonaro e Trump. Ele também sugeriu que Lula e os auxiliares dele apoiariam uma "lawfare" que Trump sofreria quando deixasse a Casa Branca.

"A capacidade de Donald Trump de se colocar no lugar de Jair Bolsonaro e imaginar que, quando sair da presidência, Lula e sua equipe apoiarão a lawfare que certamente Trump sofrerá", disse Eduardo.

Eduardo também criticou a conversa de Lula e Trump sobre a crise militar dos EUA com a Venezuela. O presidente se prontificou a ser um mediador entre a Casa Branca e o ditador venezuelano Nicolás Maduro e apelou pela paz no continente. Segundo o deputado, Lula gastou os "poucos minutos com o 01 da economia mundial" para tratar sobre a situação na região e não se preocupou em falar sobre Bolsonaro.