Prefeito que atacou religiões de matriz africana vira alvo do MP

Prefeito que atacou religiões de matriz africana vira alvo do MP e diz ter sido "mal interpretado"

Aristeu Eduardo apontou que praticantes dessas religiões "se apresentam como pessoas de bem", mas "à noite vão bater tambor nos terreiros"
Atualizado às Autor Vítor Magalhães Tipo Notícia

O Ministério Público do Ceará (MPCE) instaurou procedimento, na quinta-feira, 2, para apurar suspeita de prática de intolerância religiosa por parte do prefeito de Ararendá, Aristeu Alves Eduardo (PT), em discurso durante inauguração de uma praça no Município nesta semana. O caso está sob a tutela da Promotoria de Justiça Vinculada de Ararendá.

Vídeo publicado nas redes sociais mostra o gestor proferindo falas contra religiões de matriz africana. "No vídeo é possível vislumbrar o então prefeito, em discurso destinado à população, mencionando que haveriam opositores, liderados pelo ex-prefeito Alexandre Félix, que seriam pagões e que seriam pessoas que de manhã se passariam por bem na frente da sociedade e 'à noite vai bater tambor nos terreiros de macumba'", destaca trecho do documento protocolado no MPCE.

O órgão determinou que o prefeito seja oficiado para que preste esclarecimentos no prazo de 10 dias.

Veja a fala do prefeito:

Ao se dirigir ao público presente, o gestor afirmou que praticantes dessas religiões “se apresentam como pessoas de bem” durante o dia, mas “à noite vão bater tambor nos terreiros”. O comentário foi seguido de aplausos de parte dos apoiadores que acompanhavam o evento.

Na mesma fala, Aristeu reforçou sua identidade cristã e disse que não se importaria com eventuais críticas: “Se ofenda quem quiser se ofender, mas nós somos seguidores de Cristo. É nele que acredito e é nele que sigo até o final da minha vida”, declarou.

Em outro trecho, o prefeito acrescentou que considera seu papel alertar a população “sobre pessoas que pregam valores que não cumprem”. Ele citou a esposa e presidente da Câmara Municipal de Ararendá, Rachel Silva Bernardino Eduardo (PT), que, segundo ele, recebe denúncias com frequência do grupo.

"Eu tenho visto várias pessoas já adoecendo mentalmente devido tanta perturbação dessa turma. Só de denúncia que eles fizeram contra Raquel lá na Câmara já são 17 denúncias. Saiba você (Rachel) que as pessoas são inteligentes para ver o ataque criminoso que vem sofrendo nas redes sociais, por trás das fake news", afirmou. 

Tentativa de contato

Na quinta-feira, 3, a reportagem ligou para o número divulgado oficialmente pelo site da Prefeitura de Ararendá como sendo da autoridade municipal. Contudo, as chamadas direcionaram para o Fundo Municipal de Saúde. Uma pessoa chegou a atender, porém, ao ser questionada se aquele seria o telefone do prefeito e após a identificação da reportagem, a ligação foi encerrada de forma abrupta.

Nas tentativas seguintes, o telefone já se encontrava desligado ou fora da área de cobertura. Até a publicação desta matéria, não houve resposta por parte da Prefeitura de Ararendá. O espaço segue aberto para manifestações do gestor.

O que diz o prefeito

Após a repercussão do ocorrido, o prefeito foi às redes sociais para um posicionamento sobre o caso.

Em comunicado no Instagram, disse que foi "mal interpretado" durante o discurso. Veja a íntegra da nota publicada nas redes sociais.

"Venho a público esclarecer o episódio envolvendo minha fala recente, que, infelizmente, acabou sendo mal interpretada. Quero deixar claro que em nenhum momento fiz referência negativa ou crítica a qualquer religião ou prática de fé. Tenho profundo respeito por todas as tradições religiosas, inclusive as de matriz africana, que representam parte essencial da história, da cultura e da identidade do nosso povo. A diversidade de crenças é um patrimônio do Brasil e de Ararendá, e deve sempre ser valorizada e protegida".

Colaborou Mariana Lopes

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