Deputado vai usar emenda para bancar show de Wesley Safadão em Sergipe; entenda

Deputado vai usar emenda para bancar show de Wesley Safadão em Sergipe; entenda

Ao O POVO, deputado explicou que apenas direciona o recurso para o evento e que a Prefeitura de Aracaju escolhe a destinação. Não há impedimento legal para utilização de emendas parlamentares no custeio de eventos culturais, o que inclui shows

Circulou nas redes sociais um vídeo da prefeita de Aracaju, Emília Corrêa (PL), anunciando a participação do cantor Wesley Safadão no evento conhecido como Forró Caju, edição 2026, garantida pelo envio de emenda parlamentar do deputado federal Thiago de Joaldo (PP-SE). 

O trecho, em que aparecem os três, foi compartilhado pela própria gestora e ganhou repercussão nas redes. "O deputado Thiago já assume o compromisso de trazê-lo com as emendas parlamentares no próximo ano", anunciou a gestora na ocasião.

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Ela reforçou a informação na legenda da publicação. "Wesley Safadão está confirmado no Forró Caju 2026. Tudo isso graças às emendas parlamentares destinadas pelo nosso deputado federal Thiago de Joaldo, fortalecendo ainda mais essa festa que é do povo", escreveu.

O parlamentar, por sua vez, diz: "A gente está aqui para garantir que, em 2026, você (Wesley Safadão) já trate de colocar o Forró Caju na sua agenda, que a gente vai estar aqui de novo ano que vem".

A fala é finalizada quando Thiago se dirige ao público, parabenizando e prometendo: "Ano que vem a gente se encontra aqui de novo".

O que dizem as partes?

Ao O POVO, o deputado Thiago de Joaldo afirmou que as críticas direcionadas ao anúncio da prefeita não retratam a realidade do trabalho dele enquanto parlamentar. "Dos mais de R$ 235 milhões conseguidos pra nosso estado, menos de 1,1% desse total foi para apoiar eventos culturais no interior do estado, em vários municípios", disse.

Sobre o custeio do show de Wesley Safadão, ele explicou que apenas direciona o recurso para o evento e a Prefeitura escolhe a destinação.

"A prefeita antecipou que, devido ao grande público do show de Wesley deste ano — único dia em que os portões precisaram ser fechados, como medida de segurança —, a Prefeitura deseja tê-lo novamente em sua programação 2026. É natural", contextualizou.

Segundo Thiago, o recurso "ajudará" a gestão municipal a realizar um evento "mais organizado e melhor estruturado para o público que lá decidir visitar, não necessariamente esse ou aquele artista será pago com esse recurso". O parlamentar destaca que o recurso pode pagar "palco, som, iluminação, banheiros, segurança, etc. Isso pode lhe dar espaço financeiro para contratações como esta", exemplificou.

O deputado federal também informou que, para 2025 e 2026, o setor cultural seguirá orbitando no percentual de 1% de investimentos de seu mandato, divididos entre capital e interior. "Saúde seguirá sendo nossa grande prioridade, para onde temos destinado quase 70% dos recursos que indicamos". Questionado sobre a escolha por enviar emenda ao Forró Caju, Thiago justificou se tratar "do maior evento cultural" de Sergipe.

Em nota à imprensa, a Prefeitura de Aracaju disse que o deputado "já destinou R$ 13 milhões em emendas para a saúde do município, demonstrando compromisso" com a cidade.

"A decisão da prefeita em aceitar emendas parlamentares para o Forró Caju vem do entendimento de que diversas festas pelo interior do estado já contam com esse tipo de apoio", diz trecho da nota. "A gestão entende que uma festa dessa magnitude não se faz apenas com recursos próprios, por isso abriu espaço, pela primeira vez, para a participação de patrocinadores, garantindo maior sustentabilidade ao evento", complementa.

O POVO procurou a equipe do cantor Wesley Safadão para comentar o assunto, mas ainda não houve retorno. Quando houver respostas, o texto será atualizado.

Emendas

As emendas parlamentares são instrumentos pelos quais deputados federais e senadores direcionam parte do Orçamento da União para finalidades específicas, geralmente ligadas aos respectivos redutos eleitorais.

Elas são classificadas por categorias, com regras distintas quanto à forma de apresentação, execução e obrigatoriedade de pagamento. 

Podem ser impositivas, quando o governo é obrigado a executar os recursos naquele ano, mesmo que algo atrase ou a arrecadação seja pior que o esperado.

Quando não, o governo tem a opção de bloquear ou cancelar o envio dos recursos, caso avalie que pode ser prejudicial para as contas públicas.

Não há impedimento legal para utilização de emendas parlamentares no custeio de eventos culturais, o que inclui shows musicais. Esses recursos, no entanto, precisam atender ao interesse público e estar bem justificados tecnicamente.

"Não existe uma proibição específica quanto ao tipo de artista, pode ser local ou de projeção nacional, como o Wesley Safadão. O importante é que a contratação respeite os princípios da administração pública, como legalidade, impessoalidade e economicidade", explica Marilson Dantas, doutor em Contabilidade pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em Governança Pública.

O gasto precisa ser proporcional e necessário, acompanhado de um planejamento detalhado do evento, incluindo a justificativa da escolha dos artistas e a compatibilidade dos preços com o mercado. Em geral, os recursos são classificados como apoio à cultura, fomento ao turismo ou eventos de interesse regional.

"A justificativa técnica costuma mencionar a valorização da identidade cultural, o estímulo ao turismo e o impacto econômico local. É importante destacar que o foco deve ser o benefício coletivo e não apenas o entretenimento", explica Dantas.

Impactos

O impacto depende do planejamento do evento, pois pode ajudar a movimentar a economia local, gerar empregos temporários e valorizar a cultura. No entanto, quando mal planejados ou desproporcionais à realidade do município, podem comprometer o oferecimento dos serviços públicos e ter custo superior aos benefícios.

"Portanto, é fundamental que haja equilíbrio e uma análise cuidadosa dos gestores buscando priorizar as necessidades da população", aponta Dantas.

Juliana Fratini, mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), comenta que não se trata de recursos indevidos, mas diz que os fins são "questionáveis" a depender do caso. "A prática é comum desde antes de ser institucionalizada, quando houveram acusações de compras de parlamentares que recebiam recursos indevidamente", lembra.

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A especialista mencionou ainda que esse tipo de destinação "serve para a promoção individual de parlamentares, mas numa linha muito rasa e pouco educativa quando os recursos são utilizados dessa maneira — para momentos que terminam em si mesmos".

Já Dantas diz que esse tipo de destinação se intensificou nos últimos anos, especialmente após a obrigatoriedade da execução das emendas parlamentares. Com isso, também aumentou o risco de uso político-eleitoral dessas emendas, sobretudo em anos de eleição.

"É comum vermos eventos sendo usados para promover a imagem de políticos, o que exige maior fiscalização para garantir que os recursos estejam realmente servindo ao interesse público".

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