Comandante da Marinha critica homenagem a líder da Revolta da Chibata: "Abjetos marinheiros"

O PL, de autoria do ex-senador Lindbergh Farias, foi apresentado no Senado em 2018 e aprovado pela Comissão em outubro de 2021

Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha brasileira, encaminhou à Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados um documento no qual critica o projeto de lei que insere o nome de João Cândido, o Almirante Negro, no livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

O PL, de autoria do ex-senador Lindbergh Farias, foi apresentado no Senado em 2018 e aprovado pela Comissão em outubro de 2021. Na última quarta-feira, 24, a Comissão promoveu uma audiência para discutir o texto.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

João Cândido Felisberto foi líder da Revolta da Chibata, organizada em 1910, um motim contra a aplicação de punições físicas - como chibatadas- aos marinheiros, em sua maioria negros, por parte dos oficiais. O líder virou um ícone na luta contra o racismo.

Junto a dois mil marinheiros, os revoltosos assumiram o controle de embarcações da Marinha na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, fizeram os oficiais de reféns - alguns foram executados - e apontaram os canhões dos navios para a cidade, à época capital do Brasil.

“Nós marinheiros, cidadãos brasileiros e republicanos, não podendo mais suportar a escravidão na Marinha Brasileira, a falta de proteção que a Pátria nos dá, e até então não nos chegou, rompemos o véu negro que nos cobria aos olhos do enganado e patriótico povo", dizia o ultimato enviado pelos amotinados ao presidente da República, Hermes da Fonseca.

Depois do movimento, João Cândido ficou detido por 18 meses em uma prisão abaixo do solo, foi internado em um hospital de alienados e preso, novamente. Quando solto, viveu como mercador de peixes no Rio de Janeiro, onde morreu em 1969 na miséria.

A trajetória inspirou a música “O mestre-sala dos mares” de João Bosco e Aldir Blanc e, este ano, tema do desfile da escola de samba do Rio de Janeiro, Paraíso do Tuiuti. Em 2019, o líder ficou reconhecido como herói do estado do Rio de Janeiro.

"O reconhecimento oficial de João Cândido como herói nacional não apenas honraria sua trajetória, mas também reforçaria o compromisso do país em enfrentar o racismo institucional e promover a justiça histórica para a população negra", alegou o Ministério Público Federal em manifestação favorável ao projeto.

Na carta encaminhada à Câmara para contrapor a homenagem federal, Olsen - atual comandante da Marinha- disse que, para a Força, a Revolta da Chibata é um “fato opróbio [vergonhoso]" em que "abjetos marinheiros" desrespeitaram a hierarquia e a disciplina e usaram equipamentos militares para "chantagear a nação".

O comandante alega ainda que “além do justo pleito de revogação da prática repulsiva do açoite", os marinheiros que participaram da revolta da Chibata "buscavam, deliberadamente, vantagens corporativas e ilegítimas", e que "(...) resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado".

"Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizados e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirão ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito", diz o comunicado.

Com a aprovação do projeto, o nome de João Cândido entraria no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, junto a nomes como o de Zumbi dos Palmares, Zilda Arns e Chico Mendes.

Siga o canal de Política do O POVO no WhatsApp 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar