Ex-comandante do Exército liga "minuta do golpe" encontrada com Torres a Bolsonaro
Torres e sua defesa vinha alegando que o documento iria ser descartado e não sabia quem tinha elaborado
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes afirmou que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, seria a mesma versão que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou aos comandantes das Forças Armadas em reunião que articulava um golpe de Estado.
Torres estava alegando que o documento era parte dos arquivos a serem descartados, além de uma "aberração jurídica" e que não sabia quem entregou ou produziu o documento.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Esta é a primeira vez que há uma ligação do documento encontrado na casa de Torres com todo o plano golpista investigado pela PF. O órgão aponta que Bolsonaro teve participação direta na edição da minuta golpista que circulou entre seus aliados. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, sugerem, inclusive, que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.
A versão é confirmada pelo ex-comandante. No arquivo de seu depoimento à PF, acessado por veículos como os jornais O Globo e Folha e a revista Veja, Freire Gomes afirma que aconteceram duas reuniões em que a possibilidade de golpe foi discutida e, em ambas, um documento com "fundamentações" para "justificar" as ações foi citado. Foram apresentadas hipóteses como: Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa e Estado de Sítio.
Freire Gomes disse que não sabia a pauta do encontro e que, durante o momento, o assessor especial da Presidência, Filipe Martins, “leu os ‘considerandos, que seriam os “fundamentos jurídicos” da referida minuta de decreto" do golpe. Filipe foi um dos presos em operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF em fevereiro.
Na segunda reunião no Palácio da Alvorada, na qual estavam presentes os três comandantes das Forças Armadas e o então Ministro da Defesa General, Paulo Sérgio Nogueira, Freire Gomes disse que a versão do documento já estava diferente e resumida, com a "decretação do estado de defesa e a criação da comissão eleitoral".
No depoimento, o delegado que conduziu o interrogatório leu a minuta de decreto encontrada na casa de Torres e questiona se era o mesmo texto apresentado por Bolsonaro. Freire Gomes confirmou ser o mesmo documento. O arquivo também é o mesmo encontrado no telefone de Mauro Cid.
"Que confirma que o conteúdo da minuta de decreto apresentada foi exposto ao declarante nas referidas reuniões. Que ressalta que deixou evidenciado a Bolsonaro e ao ministro da Defesa [general Paulo Sérgio Nogueira] que o Exército não aceitaria qualquer ato de ruptura institucional", disse o general, segundo o termo de depoimento.
Ele ressalta também que, em todos os momentos, ele e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, foram contra a movimentação golpista. O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, no entanto, teria se colocado à disposição do ex-presidente.
Freire Gomes disse também que Torres participou de reuniões e partiria dele as explicações sobre o "suporte jurídico para as medidas que poderiam ser adotadas".